O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE), formalizado politicamente na semana passada, deve exigir que a indústria do Estado se desenvolva. A aproximação, que levou quase duas décadas para virar realidade e promete reduzir impostos na exportação e importação de uma série de produtos, depende de outras etapas para entrar em vigor. Especialistas apontam que, como isso deve levar um tempo para ocorrer, Santa Catarina deve focar até lá no aprimoramento dos processos.
Continua depois da publicidade
“É um acordo atrativo para a indústria catarinense”, diz Maria Bustamante, da Fiesc
Uma das exigências para o acordo entrar em vigor pode demorar até dois anos. É a aprovação das regras pelos congressos dos países europeus e também das nações do Mercosul, explica a presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, Maria Teresa Bustamante. Para ela, o acordo é uma demonstração da vontade política dos países.
Maria Teresa acredita que, mesmo que demore, essa aproximação vai se tornar um instrumento de operação de comércio internacional.
— É um tempo necessário para que os empresários façam planejamento de quais são as necessidades que eles têm nas empresas para aumentar a competitividade, reduzir custos, serem mais estratégicos, para analisar que investimentos pretendem fazer, sabendo que há um mercado que será aberto para eles — analisa Maria Teresa.
Continua depois da publicidade
No ano passado, SC exportou US$ 1,3 bilhão para a UE. O valor representa 14% de todas as exportações catarinenses no período. As importações do bloco europeu para SC somam US$ 2,5 bilhões. O resultado representa crescimento de 10,3% em comparação aos números de 2017.
Indústria 4.0 é o caminho
Na avaliação do diretor da Vertical de Manufatura da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Túlio Duarte, as premissas para reduzir os impostos entre exportações e importações entre Mercosul e UE foram os atuais saldos de negócio entre os dois blocos. O agronegócio brasileiro lidera as exportações e maquinário, equipamentos e produtos industrializados são os principais itens importados.
— A indústria brasileira vai ter que melhorar a performance, os produtos e até desenvolver novos modelos de negócio para continuar competindo com produtos importados que chegaram de maneira mais acessível em termos de preço e volume. Se o mercado entender o modelo e o conceito da Indústria 4.0, baseado na adoção dos melhores métodos e soluções produtivas, vai continuar competitivo — detalha.
O especialista ainda pondera que, atualmente, o mercado catarinense não está dentro dos conceitos de Indústria 4.0, que promove empresas com melhores processos e que desenvolvam produtos de maneira acelerada, lançando versões que sigam tendo valor. E, por fim, que agregue qualidades e serviços, proporcionando que o consumidor siga optando pelo produto brasileiro.
Continua depois da publicidade
— O mercado entende o conceito, mas ainda está em processo de adoção. Por isso, é importante a adoção acelerada desses conceitos, que depende, porém, das próprias empresas buscarem essa adoção, mas também de condições de ambiente. O governo tem que facilitar, fazendo leis e regulamentos necessários e também fomentando a inovação em vários âmbitos — explica.
Ao todo, a jornada de transformação para implementar a Indústria 4.0, que é feita em três etapas, pode levar até 14 anos, detalha Duarte. No entanto, apesar de defender que o processo deveria começar o quanto antes, ele reforça que ainda há tempo para garantir a competitividade no mercado, já que ainda há um certo tempo pela frente até a completa desoneração dos produtos vindos da União Europeia.
Aproximação ajuda a tirar o Brasil do isolamento
Na análise do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Turra, o acordo Mercosul-União Europeia é importante para o agronegócio brasileiro e, consequentemente, catarinense. Turra também defende que o tempo até a aprovação do texto deve ser usado para aperfeiçoamento.
— O acordo retira o Brasil do isolamento e coloca junto a um bloco de primeira grandeza, que é a União Europeia. Em SC, e o Brasil como um todo, o comércio de proteína animal é muito forte e competitivo. Só em aves já se exporta 340 mil toneladas e a cota para o Mercosul pode crescer 180 mil toneladas. O Brasil tem capacidade para absorver a maioria desse volume — comenta Turra.
Continua depois da publicidade
Só no ano passado, conforme dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca, o agronegócio catarinense faturou US$ 810,9 milhões com os embarques para o bloco europeu, representando 12,8% do faturamento com as exportações do setor. Entre os principais produtos exportados, as carnes e miudezas comestíveis estão em segundo lugar.
Apesar do bom prognóstico, a presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, Maria Teresa Bustamante, alerta para que os empresários do Estado não sejam pegos de surpresa daqui a dois anos, quando o acordo pode estar em vias de ser colocado em prática.
— É preciso pensar que, assim como o empresário vai poder acessar os 27 países europeus que serão mercados abertos para eles, esses mesmos 27 países vão ter oportunidade de vender produtos que podem ser concorrentes ao que ele fabrica aqui em Santa Catarina. Será a mesma condição de acessar o mercado na condição de imposto zero — conclui.
Entenda a aproximação entre Mercosul e União Europeia
— Trata-se de um acordo de livre comércio entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e a União Europeia (UE), formada por 28 países.
Continua depois da publicidade
— Prevê que, no prazo de 10 anos devem estar zeradas as tarifas de:
92% de tudo o que o Mercosul exportar para a UE
91% de tudo o que a UE exportar para o Mercosul
— Para automóveis de passeio e peças de veículos, esse prazo será de 15 anos.
— Sobre produtos agrícolas, a tarifa zero deve atingir 82% de tudo o que os europeus importarem do Mercosul. No entanto, haverá cotas para determinados produtos como carne bovina, de porco e aves, etanol, arroz e mel.
Fonte: Ministério da Economia
A relação entre SC e a União Europeia
US$ 1,3 bilhão é o total que Santa Catarina exportou à União Européia em 2018
US$ 2,5 bilhões é o total que o bloco europeu importou para SC em 2018