O acordo do Mercosul com a União Europeia, anunciado na semana passada, mas que ainda não foi assinado, prevendo retiradas de tarifas entre os dois blocos, terá impactos distintos no agronegócio catarinense. Enquanto o setor de carnes vê potencial de expansão, o setor leiteiro prevê impactos negativos.
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O vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina, Enori Barbieri, disse que a abertura representa uma quebra de paradigma.
– Vender para a Europa é referência para outros países por isso o agronegócio está comemorando. Nós já vendemos carne de frango e podemos abrir também para a carne suína. Acredito que esse acordo previsto para tirar as taxas em 15 anos pode até ser antecipado – disse Barbieri.
Há alguns anos já houve uma tentativa de vender suínos para a União Europeia, inclusive com a vinda de missões para Santa Catarina, mas alguns países não concordaram com a abertura. A venda de terneiros vivos também acabou sendo inviabilizada pelo alto valor das taxas.
O presidente a Associação Catarinense dos Criadores de Suínos, Losivânio De Lorenzi, também está otimista. Ele disse que as operações Carne Fraca e Trapaça aumentaram as exigências dos frigoríficos, que estão entre as melhores do mundo e podem atender o mercado europeu, que é bastante exigente.
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– Nós temos qualidade para atender qualquer mercado do mundo e podemos conquistar espaço também na Europa- disse Losivânio.
O presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), José Antônio Ribas Júnior, disse que o acordo é mais um passo na redução de barreiras.
– Vencemos um primeiro obstáculo. Importante mas o primeiro. Haverá muitos outros, barreiras técnicas, sanitárias, que continuarão na mesa. Mas vamos superando um a um. Certamente teremos conquistas de novos espaços. A Europa precisa de nós – disse.
Tanto que nos primeiros cinco meses de 2019 já foram exportadas 58 mil toneladas de frango para os europeus somente por Santa Catarina. Isso representa 55% a mais do que as 34 mil toneladas do mesmo período do ano passado. O faturamento aumentou de US$ 99 milhões para US$ 154 milhões.
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Já o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados de Santa Catarina (Sindileite-SC), Valter Brandalise, considera que o leite sempre acaba sendo moeda de troca nesses acordos. Ele afirmou que a retirada de taxas de importação que chega a 28% vai beneficiar produtores da França, Alemanha e Holanda, que são subsidiados.
– Vai ter impacto e ele não será benéfico. Os produtores europeus têm vários subsídios como compra pelo governo quando o preço está baixo. Quando o preço cair eles vão jogar a produção aqui. Além disso temos um custo alto devido a alta carga tributária- disse Brandalise.
O acordo do Mercosul com a União Europeia vai agora para uma revisão técnica e jurídica antes de ser assinado. Depois precisa passar por votação nos Congressos dos países do Mercosul e no Parlamento Europeu, antes de entrar em vigor.