Em 2013, as cidades do Vale do Itapocu somavam 61.624 trabalhadores na indústria. Destes, 41% não tinham o ensino escolar básico completo. Os dados da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) revelam uma realidade que ainda necessita de atenção nos municípios da região: a relação entre escolaridade e a indústria.

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Vice-presidente regional da Fiesc, Célio Bayer conta que é cultural na região a priorização do trabalho. Daí a entrada cedo nas fábricas e os níveis de escolaridade que poderiam ser elevados. Ele acredita, porém, que os empresários estão cada vez mais conscientes quanto a importância da educação entre seus colaboradores. Indicativos disso seriam, por exemplo, os planos de cargos e salários, que dão oportunidades de crescimento profissional e melhores ganhos de acordo com a escolaridade.

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A diretora geral do Centro Educacional de Jovens e Adultos (CEJA) de Jaraguá do Sul, Deni Rateke vivência de perto essa tendência. No Vale são 623 alunos cursando ensino fundamental e médio. Desses, a maioria são funcionários da indústria mecânica e têxtil. Deni conta que muitos deles pedem declarações de que estão estudando para apresentar no trabalho ou anexar aos pedidos de emprego – a informação ajuda a conquistar melhores vagas.

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O diretor-geral do campus centro do Instituto Federal de Santa Catarina (Ifsc) em Jaraguá do Sul, Carlos Eduardo Raulino, também convive com casos de oportunidades geradas pelo estudo. Ele conta que o público alvo do Instituto são justamente profissionais que estão inseridos no mercado de trabalho. No caso dos cursos técnicos, em especial, cerca de 80% dos alunos já estão trabalhando ao começar as aulas.

– E os outros 20% acabam sendo inseridos no mercado de trabalho ao longo do curso, mostrando que as empresas conseguem contratar profissionais qualificados _ destaca ele.

Raulino lembra que, apesar de empresas terem treinamentos internos, a qualificação em uma instituição de ensino traz uma visão mais completa. Na empresa, mesmo os vícios são repassados de funcionários mais velhos para os jovens, enquanto nas escolas é possível aplicar a teoria e mesmo errar. Ele ressalta, ainda, que as escolas têm acompanhado cada vez mais rápido a evolução de tecnologias das empresas, propiciando aprendizados que são facilmente aplicados no mercado de trabalho.

– O aluno se profissionaliza e chega preparado na empresa, não é preciso lapidar esse trabalhador _ encerra.

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Ações para a melhoria

Para a diretora do Ceja, o nível de escolaridade dentro das fábricas ainda é baixo, mas deve se elevar aos poucos, conforme os trabalhadores buscam a conclusão do ensino fundamental e médio. Algumas dificuldades ainda precisam ser sanadas. Entre eles, a taxa de evasão, que hoje é de 30%. A dificuldade de equilibrar trabalho, vida familiar e estudo é, geralmente, o que afasta os alunos do estudo. Para um incentivo extra, o Centro tem estratégias.

Uma delas é indicar que novos alunos comecem com poucos dias de aulas por semana, para um período de adaptação. Outro é um lanche, servido gratuitamente antes do começo da aula, evitando que os alunos tenham de passar em casa antes do estudo. Fundamental para Deni, porém, seria um trabalho mais próximo entre as empresas e os espaços de estudo.

-Quanto mais as empresas cobram, mais os alunos procuram. As empresas poderiam pedir o rendimentos dos alunos para escolas, por exemplo _ defende.

A indústria pela educação

Lançado em 2012, o Movimento a indústria pela educação, da Fiesc, visa engajar o setor industrial na elevação da escolaridade e qualificação dentro das empresas. Entre as metas que devem ser realizadas até 2017 estão promover a escolaridade básica completa de 63% dos trabalhadores da indústria (atualmente o índice estadual é de 45% de déficit de escolaridade) e atender 100% da demanda por profissionais qualificados.

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– Os empresários devem ter consciência de que o tempo em que um funcionário é liberado para estudo é um ganho em produtividade _ defende Célio.

Na Alenice Indústria Têxtil a situação se confirma. O diretor da empresa, Laurico Caviquioli, conta que dois projetos vem sendo desenvolvidos desde o começo do ano passado: o Jovem Aprendiz e a educação avançada, junto ao Sesi.

Na educação avançada, funcionários que ainda não concluíram o ensino fundamental têm a oportunidade de estudar gratuitamente dentro da empresa. 11 trabalhadores frequentam, duas vezes por semana, as aulas, no ano passado, foram 20 alunos. Quando o curso for encerrado, turmas de Ensino Médio serão abertas. Maria Loreci da Silva Xavier, 49, é uma das alunas.

– Estudei até a 4ª série e parei, pois morava no sítio e a escola era longe, eram oito quilômetros a pé. Mas eu sempre quis estudar de novo. Agora estou aprendendo até a usar o computador _ sorri ela.

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O incentivo da empresa foi fundamental para Loreci, assim como para outros funcionários. Entre os administradores, os incentivos já são percebidos. Gestora de recursos humanos, Vanessa Pessatti Junckes conta que a rotatividade diminuiu consideravelmente com as ações de valorização dos funcionários.

– É um trabalho de gestão focado na qualidade de vida e fator humano _ conta ela.

Gerando oportunidades internas de crescimento e incentivando o estudo, também já são sentidos impactos na produtividade e comprometimento.

– Quando a pessoa trabalha feliz, ela produz mais. É uma troca. As máquinas nós compramos, mas as pessoas temos que conquistar _ completa o diretor da empresa Laurico Caviquioli.