Donald Trump pode até ter dado apoio incondicional para a candidatura de Los Angeles à sede da Olimpíada de 2024, mas as primeiras semanas de seu governo podem ter prejudicado as chances da cidade de vencer a disputa.

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Trump apoiou repetidas vezes a candidatura, ainda que o prefeito democrata da cidade californiana, Eric Garcetti, tenha criticado as políticas de imigração da atual administração. Los Angeles e Paris levam vantagem sobre Budapeste na briga pela sede de 2024, que será escolhida em setembro, no Peru.

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A metrópole americana já recebeu as edições de 1932 e 1984 dos Jogos.

— Conversei com o Comitê Olímpico Internacional (COI) na Europa e eles estavam muito felizes quando conversaram comigo — falou o presidente no início de fevereiro. — Eles queriam meu respaldo e eu dei, de maneira firme e clara. Adoraria ver a Olimpíada em Los Angeles, acho que seria fenomenal — revelou Trump.

Entretanto, desde o telefonema de Trump ao mandatário do COI, Thomas Bach, o governo do presidente eleito dos Estados Unidos se envolveu em polêmicas pelo decreto que proíbe a entrada de refugiados e imigrantes de sete países de maioria muçulmana.

“Golpe fatal”

Por enquanto, a proibição está suspensa por um tribunal federal dos EUA, mas a controvérsia criou um problema de relações públicas para o Comitê Los Angeles 2024, em um momento em que é necessário conquistar o coração de quem vai votar e decidir a sede definitiva.

— Acredito que o decreto de Trump deu um golpe fatal nas intenções de Los Angeles para sede de 2024 — criticou Derick Hulme, professor de ciências políticas no Alma College de Michigan.

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O professor questionou se o COI estaria disposto a escolher a cidade americana, já que não existe nenhuma garantia de que todos os atletas possam entrar livremente nos EUA.

— O COI é uma entidade com aversão ao risco e vai ser muito cuidadoso para escolher como sede dos Jogos um país sem confiança de receber todos os atletas — analisou Hulme

O acadêmico já publicou um livro chamado Os Jogos Olímpicos Políticos: Moscou, Afeganistão e o boicote americano de 1980.

— Enquanto Trump for presidente, os EUA estarão efetivamente fora da disputa para organizar grandes eventos esportivos. O país é uma opção arriscada demais para as grandes federações internacionais — acrescentou.

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Outros especialistas foram mais cautelosos, indicando que o COI escolheu China e Rússia para sediarem Olimpíadas.

Avaliação por mérito

Jules Boykoff, professor da Pacific University e autor de Jogos de Poder: uma história política dos Jogos Olímpicos, falou que Trump “abriu mais espaço na rádio para xenófobos e racistas.

— Isso não será bem visto por membros do COI — afirmou Boykoff. — Mas, vendo por outro lado, isso não deveria importar em nada, porque o COI tem em sua história a nomeação de regimes autoritários para sede dos Jogos, como Pequim e Sochi.

A Hungria, que luta para que sua capital Budapeste seja escolhida, tem um líder aberto, o primeiro-ministro Viktor Orban. Já Hulme indicou que a candidatura de Paris poderia sofrer um baque se a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, vencer as eleições presidenciais na França, em abril e maio.

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— Se os franceses não tomarem a rota da extrema-direita, a França vai ser a anfitriã dos Jogos — falou Hulme.

O professor acrescentou:

— Se França escolhe ir por esse caminho, o COI vai estar numa situação muito complicada e vai ser ainda mais problemático encontrar uma maneira de avançar.

Os membros do comitê de Los Angeles insistem em confiar nos votos do COI pelos méritos da candidatura, ignorando o clima político.

— Queremos ser avaliados pelos méritos da nossa proposta, não pela política — falou o presidente do comitê organizador, Casey Wasserman. — O COI sempre atuou pelos melhores interesses do esporte, não pela política, e confiamos que vão fazer o mesmo nesse processo. Não temos nenhuma preocupação, estamos compartilhando a história de Los Angeles com o movimento olímpico e seus membros. Estamos certos que nossa candidatura é forte e confio que os membros do COI vejam isso — argumentou.

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Boykoff, por outro lado, lembrou que o prefeito de LA criticou duramente o presidente Trump, mas vai ter que ser mais leve nos próximos meses:

— Acrescenta uma certa quantidade de imprevisibilidade na situação.

*AFP