Os casos de acidentes com animais peçonhentos em Santa Catarina cresceram 47,8% e causaram 13 mortes nos últimos quatro anos. Os dados são resultado de um levantamento feito pelo Centro de Informações Toxicológicas de SC (CIATox/SC) a pedido da reportagem do Diário Catarinense.

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O relatório leva em conta ocorrências com aranhas, serpentes, escorpiões, lepidópteros (lagartas) e himenópteros (abelhas, formigas e marimbondos). Dentre esses, destaca-se os casos com aranhas, com um incremento de 50,5% no número de ocorrências que resultaram em duas mortes no ano passado.

José Hortêncio Martins Júnior, 26 anos, é parte destas estatísticas. Morador do bairro Caieira, na região Sul da Ilha, em Florianópolis, ele conta que já é rotina encontrar aranhas dentro de casa e até mesmo cobras no pátio. Há aproximadamente dois anos, José foi parar no hospital após ser picado por um aracnídeo.

O caso aconteceu quando revirava algumas coisas guardadas. Ao sentir uma ardência na mão, percebeu que havia sido picado e, quando viu a aranha, a matou. Em seguida foi para a emergência de um hospital a levando consigo.

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Ele permaneceu 48 horas em observação e depois foi liberado. Foi um susto. Por isso, a convivência constante com animais peçonhentos é motivo de preocupação para o pai de dois filhos, um menino de quatro anos e uma menina de um ano.

José Hortêncio foi picado por uma aranha há dois anos e foi levado
José Hortêncio foi picado por uma aranha há dois anos e foi levado (Foto: Gabriel Lain / NSC Total)

— Há pouco tempo estávamos indo dar banho na nossa bebê e, ao ir pegar a toalha para secá-la, havia uma grande aranha marrom. Foi um susto, mas conseguimos pegá-la e ainda bem ninguém se machucou. Depois disso, eu comecei a pesquisar e agora pretendo comprar uma galinha garnizé para manter no pátio, que deve ser uma predadora natural desses animais — diz Júnior.

Além dos casos de acidentes com aranha, destaca-se um crescimento de 84,02% nas ocorrências com escorpiões e de 87,5% com lagartas, ambos sem registros de mortes.

O CiaTox cita animais peçonhentos encontrados em SC: algumas espécies de serpentes, como jararacas e corais, aranhas, especialmente marrom e armadeira, escorpiões amarelos e marrons e, por fim, lagartas, com destaque para taturana hemorrágica.

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Casos atendidos em SC, de acordo com a classe de animal
https://public.flourish.studio/visualisation/606855/

Ocorrências aumentam no verão

A bióloga do CiaTox Taciana Seemann explica que esse aumento pode ser atribuído a uma combinação de dois fatores: o crescimento da população durante o verão no Estado e o período de maior movimentação desses animais – os dois ocorrem na época mais quente do ano e mais movimentada no litoral.

— Nos meses quentes esses animais estão mais ativos, pois aumentam seu metabolismo e se alimentam com mais frequência, saem mais de seus abrigos para troca de calor e é também nesses meses que ocorre o período reprodutivo das espécies, principalmente das serpentes — afirma Seemann.

O número de ocorrências muda drasticamente ao compararmos os períodos de inverno e verão. No caso das aranhas, em 2018, o valor passou de 761 entre junho e julho para 2.113 de novembro a dezembro, um aumento de 177%. O mesmo nota-se com as serpentes, de maneira ainda mais intensas, as ocorrências vão de 139 a 656 na comparação do mesmo período, um acréscimo de 371%.

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Casos atendidos em SC, de acordo com a sazonalidade
https://public.flourish.studio/visualisation/607064/

A bióloga ressalta que o fator meteorológico também é influenciado por uma mudança de comportamento da população, pois nessa época é comum que se busque mais atividades ao ar livre, ampliando a facilidade de encontrar esses animais.

— No ambiente rural o calor também acelera o crescimento da vegetação, expondo ainda mais o trabalhador/agricultor em suas atividades no cuidado com a lavoura/plantações. Além disso, a população também fica mais exposta, realizando mais atividades ao ar livre, como trilhas, passeios em parques, piqueniques — diz Taciana.

Cuidados que devemos ter

Por isso, recomenda-se que o público adote alguns cuidados ao realizar atividades externas, como usar calçados fechados e luvas de couro no meio rural e na jardinagem.

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Nunca colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, pontos ocos de árvores, cupinzeiros e entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras.

Além disso, ao se deparar com serpentes, mesmo mortas, não se deve tocá-las, pois por descuido ou inabilidade há o risco de ferimento pelas presas venenosas.

Em casa outras atitudes são citadas, como por exemplo, tampar as frestas e buracos das paredes e assoalhos, descartar lixo, entulhos e materiais de construção, mantendo sempre a calçada e arredores das residências limpos.

Também é importante controlar o número de ratos existentes na área de sua propriedade: a diminuição do número de roedores irá evitar a aproximação de serpentes venenosas que deles se alimentam.

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13 casos com morte nos últimos quatro anos em SC

A taxa de mortalidade por causa de animais peçonhentos em sua maioria é relativamente baixa. De acordo com os dados do Centro de Informações Toxicológicas de SC, nos últimos quatro anos foram registradas 13 mortes por acidentes desse tipo, a maioria causados por serpentes, com seis registros, seguido pelas ocorrências com himenópteros (abelhas, formigas e marimbondos), com três.

Apesar de possuir menos casos fatais, a taxa de mortalidade desses animais é a mais elevada, com 56,82 falecimentos a cada 10 mil casos.

Taxa de letalidade dos acidentes com animais peçonhentos em SC
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A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) estima que 30% da população brasileira possua alergias. Para essas pessoas, insetos que injetam veneno, como vespas, abelhas e formigas, podem provocar reações graves como anafilaxia e podendo matar.

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O que fazer em caso de picada?

A bióloga explica que o mais importante, em qualquer situação de picada de animais peçonhentos, é deslocar a vítima o mais rápido possível para o hospital, para que ela possa receber o soro adequado de acordo com o tipo de peçonha.

Além disso, é indicado, se possível, levar o animal para identificação (morto ou vivo) ou então uma foto. Saiba quais são outras medidas a serem adotadas:

– Lavar o local da picada apenas com água, sabão.

– Manter o paciente deitado e o mais calmo possível, porque agitado o sangue circula mais rápido e o veneno também.

– Manter o paciente hidratado, oferecendo apenas água.

O CiaTox/SC mantém um serviço de plantão 24 horas, em que presta informações de primeiros socorros à população. A ligação deve ser feita pelo número telefone 0800-643-5252. O órgão também auxilia na identificação do animal por meio do envio de imagens. Confira mais cuidados:

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– Não faça sucção de veneno;

– Não faça torniquete, garrote ou amarração do membro picado;

– Não corte/perfure o local da picada.

– Não coloque folhas, pó de café ou outros contaminantes sobre a picada.

– Não ofereça bebidas alcoólicas à vítima.

– Não dê qualquer medicamento à vítima.

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