O acidente químico no depósito de fertilizantes da Global Logística, em setembro do ano passado, não afetou a confiança do mercado na atividade retroportuária de São Francisco do Sul e o ânimo dos investidores.
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A cidade conta com 23 empresas donas de armazéns e um total de 74 galpões em funcionamento, de acordo com dados do governo municipal, e novas instalações estão surgindo nos últimos anos.
A Prefeitura concedeu nove alvarás de construção e ampliação em 2012, nove em 2013 e dois este ano. A secretária municipal de desenvolvimento econômico Luciane Fachini de Araújo afirma que pelo menos quatro obras estão em andamento.
Isto acontece porque os empresários estão de olho no excesso de cargas no Estado vizinho. O porto de São Francisco tem sido a opção para receber o excedente da capacidade do terminal de Paranaguá (PR), onde o tempo médio de espera para um navio atracar chega a 20 dias.
E a espera tem um custo que todos querem evitar. No caso do fertilizante importado, por exemplo, o valor é de aproximadamente R$ 34 por tonelada. Em São Francisco do Sul, o tempo de espera cai para cinco dias.
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Outro fator que estimula a movimentação no porto catarinense é a conclusão da obra do berço 201, inaugurado em novembro do ano passado. O novo berço amplia a capacidade de movimentação de cargas em 2 milhões de toneladas ao ano.
Em 2013, o Porto de São Francisco de Sul movimentou 13 milhões de toneladas, um crescimento de 20% na comparação com o ano anterior. Deste total, foram 7,8 milhões de toneladas a granel exportadas (31% a mais), 1,6 milhão de toneladas a granel importadas (63% maior na comparação com 2012) e 3,7 milhões de toneladas de carga geral.
Na região portuária, somente o Terminal Marítimo Terlogs, da japonesa Marubeni Corporation, definiu cerca de R$ 85 milhões em investimentos para erguer um novo conjunto de estocagem. O peso da atividade do terminal chega a impactar na balança comercial. O Terlogs responde por 5,8% de toda a exportação brasileira de soja e milho e por 50% do volume do porto.
Lições deixadas pelo medo
A atividade de armazenagem está em alta em São Francisco do Sul e autoridades e empresários estão confiantes de que o aumento de galpões não aumentará o risco de um novo acidente químico, como o ocorrido no depósito da Global Logística em setembro do ano passado.
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O otimismo vem das lições aprendidas com o episódio e do maior domínio sobre as cargas que circulam pela cidade. Quando São Francisco foi surpreendida com a enorme nuvem que se formou após a reação química, ninguém sabia ao certo que substância era aquela, e se havia algum risco para a saúde da população. E o desconhecimento não se resumia àquele depósito.
Não havia um controle preciso sobre o negócio, desde as mercadorias presentes em vários armazéns espalhados pela cidade aos próprios empreendimentos. Na força-tarefa que se seguiu para diagnosticar a situação das empresas, realizada por órgãos ambientais, Prefeitura, Conselho Regional de Engenharia e bombeiros, constatou-se que 50% dos armazéns funcionavam sem licença ambiental, informa a secretária de Meio Ambiente, Fernanda Vollrath.
Na época, o licenciamento cabia ao órgão estadual, a Fundação do Meio Ambiente (Fatma). Hoje, é feito pelo órgão ambiental do município.
– A demanda crescia muito e as empresas começavam a operar sem a licença -identifica a secretária.
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Quem estava licenciado tinha como obrigação oferecer uma descrição ampla sobre a natureza da operação. No caso da Global, era atividade retroportuária, insuficiente para caracterização dos produtos. Uma fiscalização mais intensa nesse segmento já estava no calendário da Prefeitura no primeiro semestre de 2014. Não deu tempo de esperar. Com o acidente químico, a fiscalização foi antecipada e ampliada.
Exigência maior no licenciamento
A partir da força-tarefa, o licenciamento passou a ter uma definição mais detalhada sobre a característica da operação. Com tudo isso, as exigências aumentaram e algumas empresas preferiram fechar as portas a regularizar a situação, diz Fernanda.
Mas para evitar uma evasão de armazéns da cidade e queda na arrecadação, o município articulou junto com a Fatma para que as exigências fossem ampliadas para o âmbito estadual.
Outra medida colocada em prática em janeiro deste ano e que torna possível obter informações rapidamente é o sistema on-line PortoNet, por meio do qual é feito o controle de informações sobre as cargas que chegam ao Porto de São Francisco do Sul. O diretor de logística Arnaldo S. Thiago explica:
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– As cargas chegam agora com mais informações. Apuramos o volume, o prazo e o local de armazenagem e as características químicas e toxicológicas, se houver. O agente do navio passa as informações antes de chegar e o porto repassa os dados para os órgãos ambientais, fiscalizadores, licenciadores, defesa civil e bombeiros – explica.
R$ 85 milhões em estocagem de grãos
Responsável por 50% da exportação do Porto de São Francisco do Sul, o terminal privado Terlogs Terminal Marítimo, triplicou o volume de grãos enviados ao mundo nos últimos dois anos, quando foi comprado pelo grupo japonês Marubeni.
Atualmente, movimenta cerca de 4 milhões de toneladas de cargas/ano entre soja e milho e elaborou um plano de expansão que prevê a criação de um novo píer (Berço 401), para duplicar a capacidade de movimentação de cargas.
A ampliação também deverá reduzir o tempo de espera dos navios para carregamento, de cinco para três dias e fará com que a capacidade de movimentação de cargas do porto chegue a 16 milhões de toneladas.
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Além da construção do novo Berço, a empresa investirá também entre R$ 85 milhões e R$ 95 milhões para erguer um novo conjunto de estruturas de estocagem no porto, que deve ficar pronto dentro de 18 meses.
– O investimento nos novos três silos para armazenagem é o segundo maior investimento do grupo no Terlogs, depois da compra do terminal – afirma o presidente e CEO do terminal, José F. Kfuri Jr.
Para Kfuri Jr., o porto de São Francisco precisa de mais um berço e será capaz de atender ao mercado pelos próximos 10 anos, mas mais do que isso já é demais para a estrutura da região, afirma.
Apesar de reconhecer os limites logísticos, o gargalo no trânsito da BR-280 não chega a afetar o Terlogs. A empresa desenvolveu um sistema de monitoramento da chegada de caminhões, a partir do estacionamento para 400 veículos em funcionamento próximo ao porto.
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Ali é feita a triagem e apenas 180 caminhões por dia são autorizados a circular para carga e descarga de mercadorias. Se algum caminhão fica preso no trânsito, não é autorizada a saída de outro. Atualmente, 40% do transporte de mercadorias é feito via rodovias.
Novos negócios
O terminal Logibrás Logística Multimodal, próximo à SC-301, é um exemplo de investimento recente, criado a partir da sociedade de dois operadores que atuavam na cidade há mais de duas décadas.
Um dos sócios, Marcello Cortez, afirma que a empresa realiza investimentos para aumentar a capacidade de armazenagem e estabeleceu como estratégia manter um pouco de capacidade ociosa para conseguir atender à demanda que ainda virá. A área total do terminal é de 400 mil m2.
Segundo Cortez, a importação de granéis agricolas no porto de São Francisco era de 680 mil toneladas em 2011, 1 milhão de toneladas em 2012 e foi 1,5 milhão em 2013, entre trigo, fertilizante e outros granéis de importação.
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Atualmente, o terminal retroportuário tem 12 mil metros quadrados, com dois armazéns prontos e um em construção. O primeiro, inaugurado em julho, tem capacidade estática de 60 mil toneladas e 7 mil m2.
O segundo, inaugurado em dezembro, apresenta capacidade estática de 40 mil toneladas e 5 mil m2. As instalações são voltadas para granéis de importação, cargas gerais e fertilizantes, no mercado agrícola.
O galpão em obras tem capacidade para 50 mil toneladas e 6 mil m2 e vai armazenar cargas gerais de exportação. Cortez diz que a empresa testa alguns mercados que acredita que venham para São Franciso e, se houver demanda, não descarta trabalhar também com contêineres.
Após o acidente químico, Cortez diz que os clientes passaram a solicitar a licença do terminal e outros documentos, mas ele lembra que a economia não pode parar.
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– O mercado não vive sem fertilizantes, utilizados principalmente na cultura de soja, milho e cana de açúcar. E estamos ntecipamos uma demanda principalmente por acompanhar as dificuldades do Porto de Paranaguá. Sabendo que para atingir Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul é a mesma distância – constata.