Todo dia é sempre igual. Acordo e já bate a preguiça/dúvida: bike ou ônibus? Banho, café, muda de roupa, tenis, capacete, café de novo e, finalmente, tô pronto. “Mas, se eu for de ônibus posso ir lendo um livro”. Esquece. No bus, acabo preso ao celular. Melhor a liberdade. Uma espiada na janela e vejo se está chovendo. Ok, é hora de encarar os dez quilômetros do caminho para o trabalho.

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Nos primeiros dois a pedalada é tranquila: uma ciclovia facilita o trabalho. Nessa hora é só relax. Música mais alta no fone de ouvido e um prazer mesquinho de ver os carros parados no trânsito e você pedalando livremente.

Mas a felicidade, já diria algum infeliz, dura pouco. Terminado essa parte tenho duas escolhas de caminho. O mais próximo encurtaria o trajeto quase três quilômetros. Mas talvez encurtaria a vida também. Só esse ano foram sete mortes na rodovia SC-401. Uma rodovia relativamente nova e sem infraestrutura alguma para pessoas que escolhem outros modais de transporte. É claro que escolho o caminho longo e uso como desculpa a necessidade de pedalar um pouco mais, questão de saúde mesmo, sabe? Ahããm…

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Vou por dentro do bairro João Paulo. Algumas partes com calçamento e outras asfaltada. Nenhuma ciclovia e em algumas pontos, carros estacionados dos dois lados. Isso e o combo do ônibus passando ao mesmo tempo trazem alguns calafrios a esse que vos escreve.

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O trajeto é legal: dois pequenos morros fazem com que eu me sinta numa academia de tanto suor. Não me culpe. Até uns meses atrás eu não fazia exercício algum. Demorava o mesmo tanto para ir, mas era no conforto de um carro. Um sedentário total.

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Atravesso o viaduto do cemitério, por cima da SC-401, e finalmente encontro outra ciclovia, no bairro Monte Verde. Infelizmente a educação no trânsito não permite com que eu fique tranquilo nesse trecho também. Uma padaria, uma escola e dois bares e alguns comércios no caminho. O que isso significa? Que vai ter gente parando o carro na ciclovia para ir comprar o pão rapidinho. Entregadores estacionados. Pais e vans esperando crianças da escola. Confesso que já procurei algumas vezes no código de trânsito se em algum ponto diz que ciclofaixa é acostamento. Resultado prático: preciso acessar a rua ou a calçada. Coloco a minha vida em risco pelo simples desrespeito do próximo.

Há quem estacione na ciclovia, desrespeitando as leis de trânsito e colocando em perigo os ciclistas que têm que sair da via para bicicletas
Há quem estacione na ciclovia, desrespeitando as leis de trânsito e colocando em perigo os ciclistas que têm que sair da via para bicicletas (Foto: Diorgenes Pandini / Agência RBS)

Mas se é tão perigoso, porque mudei? Bem, comecei a sentir necessidade de cuidar um pouco mais da minha saúde. Acho chato academia e estava incomodado com a quantidade de gastos de um carro: gasolina, seguro, IPVA, manutenção e ainda uns concertos de batidinhas que eu costumava deixar registrado na lataria. Não é fácil ser atrapalhado. Enfim, quis deixar de ser refém desse sistema.

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Um acidente fez eu repensar as prioridades e resolvi mudar drasticamente. Vendi o carro e investi em uma boa bicicleta. Sinto nas veias a melhora na minha qualidade de vida. Amigos e conhecidos comentam que estou um pouco mais magro. Tenho vontade de melhorar minha alimentação. Penso duas vezes quando resolvo enfiar o pé na jaca. Não gasto com academia e não gasto com carro mais. Quando chego no trabalho, troco de roupa e já chego me sentindo bem.

Na volta, quando o tempo está bonito, amplio o trajeto e vou até a Beira-mar norte, curto um pôr do sol e volto para a casa. Quando chove na volta, vou cantando alto na rua e aproveito um bom banho de chuva. Se não estou afim, pego um ônibus. Assim, bem simples. Bem leve mesmo.

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