A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso da mulher trans atacada a facadas por dois homens em Içara, no Sul catarinense. O crime aconteceu na madrugada de sábado (17) e, inicialmente, é tratado como tentativa de latrocínio. Na manhã desta terça (20), Rebeka Curtts, de 28 anos, conversou com o Diário Catarinense. Ela deu detalhes sobre a agressão que sofreu e disse esperar que a polícia encontre os autores da violência.
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— Ali no carro eu achei que seria morta dessa vez. Era muita facada. O que me deu forças foi Deus. Eu pedi pra Deus pra me dar força, e pensei na minha mãe, que sofre de depressão — disse.
Rebeka, que já havia sido vítima de uma agressão no começo deste ano, contou que foi atacada por um cliente e um amigo dele dentro do próprio carro. A jovem trabalha como acompanhante e massagista, e foi chamada pelo cliente para um encontro onde ele acertaria uma dívida de cerca de R$ 1 mil que tinha com ela. A vítima levou mais de 30 facadas, segundo relataram a ela os médicos que a antederam no hospital.
— Esse meu cliente entrou no carro com o amigo e meu deu o cartão, que tentei passar na máquina para o pagamento, mas não funcionou. Quando olhei para o lado, ele já estava puxando uma faca. No banco de atrás, o amigo também estava com uma faca, grande, e desferiu um golpe no meu rosto. Depois, os dois passaram a me atacar. Eram muitas agressões, vindo de todos os lados — relata.
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Quando já estava bastante ferida, Rebeka conta que os dois homens disseram para que ela tirasse o cinto de segurança e pulasse para o banco de trás do automóvel. Foi nesse momento que ela conseguiu destravar a porta e se jogou para fora com o carro em movimento.

— Achei que eles fossem voltar para me atropelar e terminar o trabalho. Mas eles pegaram o carro e saíram. Depois, caminhei até um sítio. Eu estava sangrando muito, e estava bastante tonta, mas consegui ter forças para ir até lá e gritar por socorro — relembra.
A jovem foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e levada ao Hospital São Donato, em Içara. Ela tinha ferimentos na cabeça, rosto, pescoço, peito, braço e perna. Felizmente, nenhum órgão foi atingido. Na noite de sábado, ela foi liberada para se recuperar em casa.
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Rebeka, que é natural de Uberlândia (MG) e mora em Criciúma há sete anos, diz que agora espera que os dois autores da violência sejam encontrados pela polícia.
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— Eu espero que seja feita justiça, e que não fique mais um crime impune, porque o plano deles era me matar. Se eu tivesse morrido, seria só mais uma trans assassinada — declarou.
Inquérito dirá se houve homofobia, diz delegado
Segundo o delegado Marcelo Viana, que assumiu a investigação, o inquérito para apurar o crime foi instaurado nesta segunda (19). Ele afirmou que o caso inicialmente é tratado como tentativa de latrocínio porque os suspeitos fugiram levando o carro da vítima – o veículo acabou encontrado depois. A dupla ainda não foi encontrada.
— A princípio, o caso é tratado como tentativa de latrocínio. Se envolve homofobia ou não, isso o inquérito vai dizer. Vamos ouvir a vítima, coletar as provas que são possíveis para identificar a autoria, e depois a gente pode dar um parecer melhor — comentou o delegado.
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Ainda conforme Viana, algumas diligências já foram realizadas, e a investigação segue para “tentar identificar os suspeitos o mais rápido possível”. A vítima, Rebecca, será ouvida pela polícia nesta terça (20).
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