O novo secretário estadual de Saúde terá 11 meses para tirar o setor de uma crise que limita o atendimento e deixa hospitais sem receber. Acélio Casagrande (PMDB) foi nomeado sexta-feira pelo governador Raimundo Colombo (PSD), mas toma posse hoje, às 14h30min. Escolhido pelo vice-governador Eduardo Pinho Moreira (PMDB) para comandar até o final do ano uma pasta problemática, o criciumense de 56 anos enfrenta desafios proporcionais à dívida atual da secretaria.

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O Tribunal de Contas do Estado (TCE) estima débito de R$ 1 bilhão com hospitais, fornecedores e entidades. A situação da saúde é mais complicada diante do aumento da demanda, crescimento nas judicializações por medicamentos e hospitais carentes de recursos. Desde a semana passada, Casagrande se reúne com servidores para ajustes internos. Trocou o comando da superintendência da rede hospitalar e pretende estabelecer metas para cada unidade gerida direta ou indiretamente pelo Estado. Será o quarto secretário de Saúde desde 2015, quando iniciou o segundo mandato de Colombo. Antes, passaram pela cadeira João Paulo Kleinübing (PSD), Vicente Caropreso (PSDB) e Murillo Capella.

Formado em gestão pública, passou pela pasta entre 2012 e 2014 como secretário-adjunto. Antes, ocupou a cadeira de secretário de Saúde de Criciúma em duas gestões. Também foi vereador e deputado federal entre 2007 e 2010. Até a semana passada era secretário de Articulação Nacional do Estado, com foco de atuação em Brasília, onde pretende articular repasses do SUS a SC.

Dívida de R$ 1 bilhão

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A dívida levantada precisa ser analisada. Não acredito que chegue a esse valor. Vamos fazer uma análise profunda. Ao longo dos últimos anos venho estudando a saúde. O problema é o encarecimento muito alto. Muitas pessoas deixaram de ter plano de saúde e foram para o SUS. Antigamente o médico fazia o raio X e pronto. Hoje tem raio X, tomografia e outros equipamentos a mais. A tecnologia aumentou o custo-saúde. A judicialização leva R$ 200 milhões por ano. Há um desequilíbrio no valor que vem do SUS com o que a gente paga. Só os hospitais Regional (São José) e o Celso Ramos (Florianópolis) juntos recebem R$ 30 milhões a menos do que atendem. Por isso, o Tesouro do Estado precisa desembolsar esse valor. Há um custo muito elevado. Então, faremos uma análise muito profunda nessa questão do número de profissionais e de leitos. Cada diretor terá que criar metas. É um desafio grande e que eu gosto.

Como zerar a dívida

Tudo é um trabalho de análise de cada item. Desse valor, tem alguns que são contestáveis. Há outros que a secretaria poderá negociar um prazo maior. Tudo vai depender daquilo que teremos de planejamento e fluxo de caixa. Não posso priorizar um pagamento de dívidas e deixar de dar acesso ao paciente que precisa de medicamento oncológico. Não posso deixar de salvar uma dívida porque tem uma dívida. Não vamos negar o pagamento, mas a prioridade número um é atender as pessoas.

Quem pagar primeiro?

Precisamos priorizar o acesso, onde estiver a necessidade de acessos emergencial. Ou seja, o paciente que precisar de tratamento de câncer e não está recebendo, esse remédio será a nossa emergência. No momento que a gente não der condição e acesso a um paciente, ele judicializa a saúde, o que queremos evitar. Quero pedir aos médicos que nos ajudem nesse sentido, dando sugestões de como ter na rede os medicamentos sem necessidade de encaminhamento de judicialização.

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Judicialização

Precisamos ter o médico como aliado para ele nos ajudar a ter o medicamento no sistema. Se ele nos disser que há um entendimento dentro da classe médica de que tal medicamento é necessário e eu comprá-lo em grande quantidade, é mais barato do que chegar ao juiz e ele determinar que se compre aquilo individualmente. Devo procurar o presidente do CRM (Conselho Regional de Medicina) e do Sindicato dos Médicos para tê-los como aliados, mostrando que é possível diminuir esses R$ 200 milhões.

Regionalizar a saúde

Queremos que as pessoas sejam atendidas nas suas regiões. Vamos analisar o que os pacientes vêm buscar na Capital. A ideia é diminuir o custo, porque quando ele sai de uma região ele está gastando. Sai de madrugada, fica na fila. Se tem um serviço que custa X na Capital e ele pode ser transferido pelo mesmo valor para a região, por que não fazer?

Novas fontes de receita

Conversei com o futuro governador (Eduardo Pinho Moreira) sobre isso. Neste ano o repasse para a saúde será de 14%. Se a Fazenda conseguir passar esse percentual, vamos nos planejar em cima disso. Com isso, a gente tem que fazer descer a despesa do dia a dia, seja nas judicializações, nos hospitais, hora-plantão, sobreaviso ou compra de medicamentos. Vamos dar autonomia para cada diretor de hospital com parâmetros e metas estabelecidas. Precisamos diminuir custos e crescer receitas através de mais recursos do Ministério da Saúde. Na terça-feira (amanhã) estarei no gabinete do ministro para tentar elevar essa receita.

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Apoio de empresas

Acho a proposta excelente, algumas empresas ajudaram recentemente. Nada melhor do que o agradecimento para que continuem nos ajudando. Tem maneiras de buscar parceiros. É fundamental essa ajuda tanto privada quanto pública de forma transparente naquilo que se pode fazer. Temos que correr atrás, nem tudo vai se resolver. São 11 meses pela frente, temos que tentar equacionar tudo isso da melhor forma possível.

11 meses de trabalho

Não tenho ainda uma meta estabelecida de como vamos chegar em dezembro. Começamos hoje (sexta-feira), em duas semanas vamos trabalhar o planejamento, vamos apresentar à Fazenda com relação à disponibilidade. E assim tentar ao máximo fazer uma análise profundar para comprar e contratar bem. Não é fácil, mas acho que vai dar pra fazer um trabalho para dar acesso às pessoas que mais precisam.

Redução de despesas

Chamando a equipe para o compromisso para que eles nos ajudem a verificar preços. Conseguimos diminuir com a participação de todos, analisando aquilo que se compra, se o preço pago é o de mercado. Faremos aquilo que é feito na iniciativa privada, cuidando dos custos. Será um trabalho árduo de centavo por centavo. As três associações dos hospitais filantrópicos de Santa Catarina se colocaram à disposição para ajudar com técnicos. Teremos o apoio de muita gente.

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Organizações sociais

A fiscalização será feita mensalmente, e não mais de forma trimestral. A entidade terá contrato de metas, que aliás vamos implantar nos hospitais próprios. Se não cumprir, não recebe. Se tiver 10 cirurgias no contrato e não cumprir, no mês seguinte vamos descontar.

Samu

O Samu presta um relevante serviço, só que recebemos R$ 1,8 milhão do governo federal e o contrato atual está em R$ 9 milhões. Há uma diferença muito grande entre o que se paga e o que se recebe. Vou ter uma conversa com o Ministério da Saúde e no Conselho Estadual de Saúde para saber se a gente continua ou se há outro caminho para reduzir esse custeio. Ainda não sei o caminho. Sou simpático à ideia de juntar o serviço com o Corpo de Bombeiros. Dá para juntar e incentivar o trabalho.