A dor de familiares com crianças internadas. A dedicação integral de enfermeiros para recuperar e tratar vítimas de queimaduras, câncer e doenças das mais tristes possíveis. Nada disso comoveu os assaltantes que atacaram o Hospital Infantil Joana de Gusmão, na madrugada de quinta-feira, em Florianópolis, e causaram indignação geral.
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Um lugar onde a luta é pela vida de pequenos, que sequer imaginam a dimensão da maldade humana, virou o alvo de bandidos tachados como cruéis. São cinco ladrões – dois podem ser adolescentes.
Armados, apontaram armas no rosto de mulheres para rendê-las enquanto comparsas abriam com maçarico o caixa eletrônico do Banco do Brasil, na portaria de acesso ao hospital.
A poucos metros, bastando subir os acessos, dormiam dezenas de crianças internadas. Pais, parentes ou amigos imaginavam estar num lugar onde o crime daria trégua. Não foi isso que aconteceu.
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– Se eles subissem onde estavam as crianças seria uma tragédia ainda maior para todo mundo. Mesmo aqui na portaria, foi uma sem-vergonhice só o que fizeram. Uma barbaridade atacar hospital infantil – dizia revoltada, à tarde, uma vigilante que há 15 anos trabalha no local, na Agronômica.
Em todos esses anos, a funcionária terceirizada comentou ter sido a primeira vez que assaltantes agiram dentro do hospital. Em outros dois assaltos, nos últimos anos, o alvo tinha sido o posto bancário da garagem.
Quem passava pela portaria e via o caixa com as fitas de isolamento passava resignado. Havia uma revolta contida. Segundo disseram alguns funcionários ao DC, uma enfermeira foi rendida ao descer para saber o que estava acontecendo, pois havia sentido cheiro de fumaça lá de cima. Ela conseguiu fugir correndo.
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Outras duas servidoras foram rendidas e obrigadas a ficar no chão. O vigilante foi contido com arma na cabeça. Uma mãe, que aguardava o atendimento do filho, também acabou na mira dos criminosos e teve o celular roubado.
Os bandidos conseguiram levar o dinheiro, cuja quantia não foi divulgada. Eles estavam num Corsa que ficou estacionado na frente. Deixaram para trás maçarico e ferramentas. Duas câmeras do circuito interno filmaram toda a ação e estão sendo analisadas pela polícia. Até ontem à noite, ninguém havia sido preso.
A Polícia Militar localizou o carro abandonado na Avenida Beira-Mar Norte, perto do Terminal de Integração do Bairro Trindade (Titri).
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Este foi o segundo ataque a caixa eletrônico dentro de um hospital este ano em Florianópolis. A outra investida ocorreu no dia 6 de maio, no Hospital de Caridade, no Centro. Os ladrões vestiam jalecos brancos e usavam crachás para disfarçar. Após investigação, a polícia prendeu os autores. Alguns deles eram vigilantes do próprio hospital.
Bandos partiram para ataques no comércio
Acuados com o monitoramento policial nas agências bancárias, à noite, os ladrões de caixas eletrônicos partiram para alvos como lojas de conveniências em postos de combustíveis, empresas e até universidade, conforme mostram os registros policiais das últimas ações pelo Estado.
Os novos pontos de agir geralmente estão bastante movimentados. Isso significa que os ataques das quadrilhas deixaram ainda mais a população na linha de fogo.
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Por volta das 6h de quinta-feira, os caixeiros, como são chamados os arrombadores de caixas eletrônicos, escolheram um posto de combustíveis na BR-101 na Praia de Fora, em Palhoça.
O bando rendeu o vigia e o frentista. Depois, abriu um caixa eletrônico com uma furadeira. Ficaram no local por uma hora e fugiram com o dinheiro do terminal, dinheiro do caixa e energéticos.
Em Indaial, no Vale do Itajaí, na quarta-feira à noite, quatro ladrões invadiram a empresa Hering em busca do caixa eletrônico. Armados e encapuzados, eles fizeram o vigilante refém e usaram um maçarico para cortar o equipamento.
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Também no Vale, em Blumenau, assaltantes agiram dentro da Universidade Regional (Furb), na madrugada de terça-feira. O vigilante e três mulheres foram amarrados. Eles ficaram trancados num banheiro enquanto os ladrões abriam o terminal do Banco do Brasil.
“Vamos responder à altura”, diz a polícia
As polícias Civil e Militar disseram estar mobilizadas à caça dos criminosos que atacaram no Hospital Infantil.
– Vamos responder à altura. Em hospital, cheio de crianças lá dentro, é muita safadeza – afirmou o diretor da Polícia Civil na Grande Florianópolis, delegado Ilson Silva.
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O policial garantiu que a polícia intensificou as rondas à noite e rechaçou críticas de que haveria policiamento apenas para as empresas privadas, no caso, os bancos. Segundo Ilson, a intenção é proteger a sociedade, principalmente os alvos mais recentes que estão no microcomércio.
Especialista alerta sobre reação
Não adianta bancar o herói e tentar reagir se estiver num desses lugares quando houver um assalto a caixa eletrônico. Em caso de troca de tiros, a recomendação é imediatamente se atirar ao chão.
– Em locais movimentados, é um acaso até agora não termos tido morte ou feridos – diz o coronel aposentado do Exército Eugênio Moretzsohn, especialista em segurança.
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Para ele, as recentes ações de grupos criminosos representam um perigo a mais, pois eles se prevalecem de irresponsabilidade com as vidas e propriedades alheias. Como, geralmente, estes bandidos estão armados, ainda há o risco de confronto com a polícia. Nestes casos, o desafio dos policiais é evitar danos colaterais, como as balas perdidas.
– O uso do celular para acionar as autoridades é a única forma de reagir – alerta.
Santa Catarina vive uma onda de ataques a caixas eletrônicos desde 2011. Nos últimos dois anos, 135 caixeiros foram presos no Estado. Procurado pelo DC na quinta-feira à tarde, o secretário da Segurança Pública, César Grubba, não quis se manifestar.
Assaltos, furtos a caixas eletrônicos e a bancos
2011
Total 182
Até 13 de setembro:120
2012
Até 13/09:275
2012 2011
Janeiro 39 10
Fevereiro 23 09
Março 30 13
Abril 33 16
Maio 32 12
Junho 36 13
Julho 35 18
Agosto 33 15
Setembro 14 21
Fonte: Secretaria de Segurança Pública de SC.