Uma cena chamou a atenção de quem passou pelo calçadão central de Lages, na Serra catarinense, na manhã desta terça-feira. Uma garota, sentada sozinha em um dos bancos, exibia um cartaz com a frase: “Eu tenho aids. Quem não tem preconceito me abrace”.
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As reações das pessoas foram as mais diversas. Algumas atenderam ao pedido da menina. Outras chegaram a ler o cartaz, mas não pararam. Discretamente, a reportagem do DC conversou com a jovem para conhecer a sua história.
Ela revelou não ser portadora do HIV e que se tratava de um trabalho de jovens aprendizes do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) de Lages. A ideia surgiu durante uma aula do módulo de Orientação Profissional, no qual são abordadas questões de cidadania, valores, leis, política, comportamento, direitos e deveres.
Após ver o filme “Filadélfia”, em que o ator Tom Hanks interpreta um portador do vírus HIV que luta pelos direitos na Justiça, a instrutora da turma, Thayssa Islayne Mendes, decidiu levantar a discussão sobre as causas e consequências do preconceito, um dos temas mais polêmicos da atualidade.
Buscou vídeos sobre o tema na internet, foi para a sala de aula e propôs um teste. A jovem de 16 anos que se passou por portadora do vírus é moradora de Correia Pinto, cidade de 14 mil habitantes e distante 25 quilômetros de Lages.
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Da expressão de deboche à oferta de ajuda
Por aproximadamente 30 minutos, ela recebeu 15 abraços, a maioria de homens de mais idade. Um deles chegou a oferecer um lanche, suco e dinheiro, mas ela recusou. Por outro lado, uma mulher balançou negativamente a cabeça como forma de reprovação, e duas garotas olharam para a estudante com expressão de deboche.
Um senhor não conteve a emoção e abraçou a garota com força. Chorando muito, ele contou que a filha de 12 anos havia contraído o vírus. Todas as reações foram filmadas e fotografadas pelos alunos, escondidos nas lojas do calçadão e misturados à população. As imagens servirão para debates em sala de aula.
– A grande maioria das pessoas me ignorou. Algumas chegaram a se amontoar no banco ao lado só para não dividir espaço comigo, e eu fiquei sentada sozinha. Aids não se transmite pelo beijo, abraço ou um simples aperto de mão. É muito triste ver a falta de informação e a discriminação -, disse a estudante, para quem a experiência vai servir de lição para toda a vida.
Tristes com o preconceito, felizes com a solidariedade
A meia hora no calçadão foi o suficiente para gerar sentimentos extremos entre os estudantes que participaram do teste. A instrutora deles, uma jovem de 23 anos que está na oitava fase do curso de Jornalismo, conta que assim que voltaram para a sala de aula, os adolescentes ficaram tristes e quietos.
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– Eles ficaram comovidos por ver que ainda existe preconceito no mundo. A aluna que fez o papel de portadora da doença ficou bastante chateada por causa das duas meninas que a olharam diferente, e disse que se fosse em sua cidade, um lugar pequeno onde todos a conhecem, as pessoas não iriam mais olhar para ela.
Mas se por um lado a discriminação marcou negativamente, diz a instrutora, a solidariedade animou a turma e serviu de exemplo.
– As 15 pessoas que a abraçaram representam o bem, e foi muito bom saber que existe gente assim.