O dia 9 de setembro de 2013 marca um ano do acerto de Gilmar Dal Pozzo com a Chapecoense. O técnico chegou ao clube para substituir Itamar Schülle, em um momento em que a queda de rendimento da equipe tirou o Verdão dos quatro primeiros do Grupo B, que avançariam à segunda fase da Série C. Dal Pozzo já havia assistido alguns jogos da Chapecoense e viu no grupo qualidade suficiente para conseguir o acesso à segundona. Tanto é que ele optou pelo time de seu Estado ao invés de acertar com o Caxias, equipe que defendeu em 2000, ano da conquista do Campeonato Gaúcho.
Continua depois da publicidade
Na estreia pela Chape, justamente contra o Caxias, o técnico comandou o time em um vitória por 4 a 0. Dal Pozzo recebeu aplausos de ambas as torcidas – a da Chape comemorou a goleada, a rival reconheceu um ídolo.
Inicialmente questionado, o técnico logo mostrou que é alguém que confia na preparação e no trabalho como base para um bom resultado dentro de campo. Com essa filosofia, comandou a Chapecoense no acesso para a Série B. No ano seguinte, venceu o primeiro turno do Catarinense e conquistou o vice-campeonato.
A arrancada na Série B deste ano surpreendeu todo o país. Nem mesmo a diretoria do clube esperava que o time estivesse na vice-liderança da segunda divisão e tivesse conquistado resultados históricos como a vitória por 2 a 1 contra o Sport, em Recife, e o empate sem gols com o poderoso Palmeiras, no Pacaembu.
Continua depois da publicidade
Foi depois deste resultado que Dal Pozzo atendeu o Diário Catarinense. Para dar uma ideia de como ele é obstinado pelo trabalho, o time mal chegou de São Paulo na quarta-feira e já foi direto para o treino. Na entrevista, o técnico disse estar ansioso por chegar em casa e tomar um chimarrão com a mulher, Cláudia. Ele teria pouco mais de uma hora até se concentrar novamente.
Diário Catarinense – O que representa este um ano de Chapecoense?
Gilmar Dal Pozzo – É um orgulho participar desta campanha maravilhosa. Quero comemorar esse um ano porque para um técnico não é normal ficar tanto tempo. A cultura no Brasil é o imediatismo. Aqui tive a sustentação da diretoria, que me apoiou mesmo nos momentos difíceis. Por isso tem dado certo.
DC – Qual foi o momento mais difícil, em que talvez tenha pensado em sair?
Dal Pozzo – Não vejo um momento ruim para um técnico que teve um aproveitamento de mais de 70%. No Catarinense, a equipe oscilou no segundo turno, mas já estava classificado. Aí a imprensa tentou desestabilizar o grupo. Penso que as cobranças foram injustas pois a equipe já estava classificada e não valeria nada se ganhássemos o returno. Mas nesse momento a equipe se fortaleceu e conseguimos ter bons resultados até agora.
Continua depois da publicidade
DC – Qual o momento mais marcante neste período?
Dal Pozzo – O acesso (para a Série B), sem dúvida. Mas o cartão de visita foi o jogo contra o Caxias. Vim eu e o Lucianinho (auxiliar técnico) e era uma responsabilidade representar esse clube. Na primeira semana vencemos o Caxias por 4 a 0. Um dos discursos quando cheguei foi de resgatar o orgulho do torcedor. E a melhor maneira de fazer isso é mostrar o resultado de campo. Desde o primeiro jogo os atletas assumiram minha proposta.
DC – Quais são os fatores para o bom desempenho?
Dal Pozzo – A seriedade da diretoria, o grupo de jogadores sensacional, de caráter, comprometidos com a causa maior, que é o clube. Eles entenderam a ideia e os resultados apareceram. O principal é o comprometimento do grupo, que encampou a causa.
DC – O que esta campanha para os profissionais, para o clube, para a cidade e para a região?
Dal Pozzo – É um crescimento para todos. Falo da visibilidade que os profissionais estão tendo. Tem proposta todo o dia para os atletas. Para o mim também. Foi um crescimento muito grande na minha carreira. Há um ano estava parado havia quatro meses, depois de uma bela campanha no Veranópolis. A Chape me deu essa o chance e eu aproveitei.
Continua depois da publicidade
O clube cresceu de uma maneira incrível. Hoje vejo uma torcida nova, de 12 a 15 anos, que deixou de torcer para Inter e Grêmio e torce para a Chapecoense. Isso é um crescimento muito grande. Há um ano a tínhamos três mil sócios, hoje são oito mil. A arrecadação e o investimento aumentou. A Chapecoense é reconhecida porque a campanha é fantástica. Para a região toda também é bom. Houve um crescimento para nós, profissionais, mas o clube também alavancou de uma forma impressionante.
DC – O que a falta para a Chapecoense ser um time de Série A?
Dal Pozzo – Nosso primeiro objetivo é garantir a permanência na Série B. O grupo tem uma simplicidade, uma humildade, mas possui um comando que tem muita ambição. O clube também tem que ter essa ambição de crescer, dando uma condição melhor. Ele foi pego de surpresa no acesso à Série B. Hoje nós treinamos em campos que são praticamente uns potreiros. Mas o clube está está construindo o Centro de Treinamento, que vai melhorar as condições. Sem essas condições, vai bater na primeira divisão e voltar. A diretoria tem está buscando esse crescimento.
DC – Além das propostas de Portugal e do Criciúma, houve mais alguma?
Dal Pozzo – Houve algumas propostas que não foram divulgadas, mas consigo administrar bem. É normal tendo em vista a campanha. Peço para os jogadores administrarem esse assédio porque é normal dentro do futebol, desde que não perca o foco no dia a dia.
Continua depois da publicidade
DC – O que fez você ficar na Chape?
Dal Pozzo – Quando cheguei e disse que iria resgatar o orgulho da torcida direta e indiretamente, acabei me apaixonando por esse clube. Tenho orgulho de vestir essa camisa. Passei a ser um pouco torcedor, colocando a razão no trabalho, mas também a emoção. Talvez isso tenha sido definitivo, mas, principalmente, pelo apoio da diretoria.
DC – O que você espera ainda conquistar na Chapecoense?
Dal Pozzo – Sinceramente, estou completando um ano e espero cumprir meu contrato. Espero que da mesma forma que tive gratidão em ficar, que não haja o abandono se vier uma crise. Espero completar o meu trabalho e atingir os objetivos. O principal sonho é o acesso à Série A e vamos em busca dele.
DC – Você projeta um returno ainda mais difícil?
Dal Pozzo – Com certeza, nem Palmeiras, nem Chape repetirão a pontuação. Essa pontuação nem os times de Série A têm. As outras equipes evoluíram e teremos jogos difíceis. As pessoas têm que compreender isso.
Continua depois da publicidade
DC – Em que técnico você se inspira?
Dal Pozzo – Principalmente no Tite.
DC – Subindo para a Série A, você pode renovar com a Chapecoense?
Dal Pozzo – Quero cumprir meu contrato com a Chape, que vai até o final do ano. Depois tenho viagem marcada para a Disney com a minha família. Quero aproveitar as férias com eles, pois a gente passa 70 a 80% do tempo treinando ou em concentração. Primeiro tem que conquistar algo para depois projetar o futuro