Após a abdicação de Bento XVI, é possível discriminar alguns assuntos que ainda devem ser esclarecidos pelo seu sucessor:
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1) Contracepção e Aids
O Papa Bento XVI acenou com o que parecia uma trégua no tabu da camisinha, há quase três anos, quando disse que o uso de preservativos era aceitável em “certos casos”. Se, por exemplo, garotos de programa usassem camisinhas para reduzir o risco de infecção por HIV, ele disse, isso poderia ter sido considerado “um primeiro passo na direção da moralização, da responsabilidade, no caminho para recuperar a noção de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer o que se quer”. O exemplo, entretanto, foi escolhido cuidadosamente. Ao usá-lo o papa evitou o assunto da contracepção e não mencionou o uso de preservativos em relações homossexuais.
2) Abuso sexual na igreja
Os terríveis casos de abuso sexual que vieram à tona nos Estados Unidos e na Europa e que assombraram tanto de seu papado estão longe de serem resolvidos. Apesar de ter se referido à “vergonha” da igreja daquilo que ele chamava de “crimes indizíveis” cometidos por padres pedófilos e de ter pedido desculpas às vítimas, muitos críticos sentem que o Vaticano foi – e ainda é – muito devagar, muito relutante e muito secretivo quando o assunto é reconhecer e investigar abuso sexual.
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3) Homossexualidade e casamento homossexual
Apesar de ter há muito tempo condenado a violência física e verbal contra os gays como deplorável e passível de “condenação dos pastores da igreja onde quer que ocorra”, o papa esclareceu que não tinha intenção de afastar-se dos ensinamentos da igreja sobre homossexualidade e casamento gay. Em sua última mensagem de Natal, disse que atitudes modernas em relação à sexualidade e movimentos para promover o casamento entre pessoas do mesmo sexo constituíam um ataque “à verdadeira estrutura da família, feita de pai, mãe e filho”.
4) Aborto
A decisão do papa de dar um alto cargo a um cardeal que acredita que a interrupção da gravidez é errada mesmo em caso de estupro fala muito sobre a persistente oposição do Vaticano ao aborto. Em 2010, ele nomeou o cardeal canadense Marc Ouellet como prefeito da Congregação de Bispos, posição considerada a terceira mais importante no Vaticano. Mais cedo naquele mesmo ano, Ouellet disse em uma conferência antiaborto em Quebec que interromper uma gravidez era um “crime moral” mesmo em caso de estupro. Ouellet é tido como um dos possíveis sucessores do agora papa emérito.
5) Mulheres
O papa referiu-se ao lugar da mulher na igreja em um discurso em Roma em 2007, afirmando que “Jesus escolheu 12 homens como pais da nova Israel, para estar com ele e proclamarem a mensagem, mas… entre os discípulos, muitas mulheres também foram escolhidas. Elas desempenharam um papel ativo no contexto da missão de Jesus”. Em abril do último ano, ele respondeu a católicos “desobedientes” que haviam desafiado os ensinamentos da igreja em tópicos que incluíam a ordenação de mulheres e o celibato dos padres. “A desobediência é um caminho de renovação para a igreja?”, ele perguntou retoricamente durante um sermão na Basílica de São Pedro no dia que os padres católicos de todo o mundo renovam seus votos. Ele afirmou que o ponto de vista do Vaticano sobre mulheres-padres era “definitivo” e que o veto existente formava parte da “divina constituição” da igreja.