Ficar em pé por até 30 minutos, aguentar na pele o calor do sol escaldante do Verão, o vento frio no Inverno, as chuvas fortes nas entradas de estações, às vezes carregando pesos como sacolas de supermercado cheias. Seria uma competição do tipo No Limite ou Hipertensão?

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Não, essa é a realidade diária dos mais de 400 mil moradores das cidades de São José, Palhoça e Biguaçu, que, quando precisam se descolar de ônibus às margens da BR-101, têm de enfrentar abrigos de ônibus com infraestrutura precária.

Para verificar a situação de cada um deles, a equipe de reportagem da Hora de Santa Catarina percorreu ponto por ponto durante três dias. Das três cidades, São José é a que mais tem abrigos de ônibus às margens da rodovia: 42. O problema é que nenhum deles estava em bom estado.

Em Palhoça há menos pontos: 12, pela contagem da equipe, mas apenas um não tinha defeito. Em Biguaçu veio a esperança de que nem tudo está perdido. De 32 pontos, apenas um estava fora do padrão e totalmente corroído pela ferrugem. Dois não tinham cobertura.

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Entre os usuários, a insatisfação é unânime. Poucos se mostram satisfeitos com as estruturas. Entre os relatos estão histórias de banhos de chuva, de queimaduras do sol e de extremo cansaço das longas esperas em pé. A boa notícia é que as prefeituras anunciaram melhorias na área.

Biguaçu fará um mutirão de limpeza e pintura, Palhoça abrirá licitação para compra de pontos novos e São José aguarda autorização da concessionária Autopista Litoral Sul para instalar os equipamentos. Esta é mais uma matéria para você leitor recortar e guardar, para no futuro cobrar pelas melhorias prometidas.

SINAL VERMELHO

São José

Em todo o trecho da BR-101 que passa pela cidade há o maior número de pontos de ônibus. São 42 abrigos nos dois sentidos, milhares de usuários nos horários de pico, principalmente depois das 17h, quando os funcionários das indústrias, redes de supermercados e de confecções saem do trabalho.

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Segundo os usuários, além da escassez no horário dos ônibus, a quantidade de abrigos não reflete na qualidade. Dos 42, apenas 18 tinham estrutura, como coberturas e bancos, e destas apenas uma estava em bom estado. No restante, há apenas placas indicando a localização do ponto.

Andreia Machado, 26, trabalha em uma empresa às margens da rodovia. Em seu ponto, não há nada além de uma placa com a palavra ônibus. Além do cansaço de ficar em pé, ela conta que passa por situações constrangedoras todos os dias.

– Uma mulher, sozinha, parada às margens de uma rodovia, sem um ponto de ônibus adequado, é constrangedor. Muitos motoristas passam e buzinam e eu fico com medo, é terrível – conta.

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Conceição Rodrigues, 49, e Ronilda Furtado de Souza, 44 ,enfrentam situações ainda piores. No ponto onde elas costumam pegar o ônibus, não há nem placa de trânsito. Elas só sabem que ali param os coletivos porque conhecem a região.

– Tiraram o ponto há mais de cinco anos, e a placa há quatro meses. As coisas quebram e ninguém repõe. Para a gente que usa todo o dia faz muita falta- reclama.

O que diz a prefeitura

A secretária de Segurança, Defesa Social e Trânsito de São José, Ane Warmling, informa que a prefeitura sabe da falta de abrigos às margens da rodovia e diz que, há cinco meses, foi feito um pedido de instalação das estruturas à Autopista Litoral Sul, mas que até hoje não houve retorno.

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Ane diz que assumiu a secretaria em abril deste ano e que a solicitação para a compra das novas estruturas já estava pronto, não havendo mais tempo de trocar o modelo, que prevê estruturas em metal. Cada uma, segundo ela, custa de R$ 10 mil a R$ 14 mil, e que o investimento na compra de cerca de 200 delas vai custar em média R$ 2 milhões.

– É bom que a população saiba quanto custa cada peça dessas. Todos pagamos por elas e sofremos muito com vandalismo, uma nova intacta dura uma semana. Precisamos que os usuários cuidem dos pontos e nos ajudem a fiscalizar quem não cuida, ligando para a Polícia Militar quando verificar a ação de vândalos – afirma.

SINAL AMARELO

Palhoça

Nas marginais da BR-101 que ficam município não há muitos pontos de ônibus. A reportagem contou 15: sete deles tinham abrigo e, desses, apenas um não apresentava defeitos graves, como corrosão por ferrugem, bancos quebrados, lixo e vegetação alta. E a falta dos equipamentos faz toda a diferença para o usuário Amadeu Roque, 58. Ele conta que quando chove evita sair de casa, pois esperar pelo ônibus nestas situações é ainda mais complicado.

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– Os abrigos estão quebrados e não protegem de nada. Se chove, nos molhamos por inteiro – conta.

O que diz a prefeitura

O secretário de Trânsito de Palhoça, Luiz Kniss, informou que a manutenção dos abrigos é feita anualmente e que a prefeitura optou pelas estruturas de metal, por serem mais fáceis de instalar, transportar e transferir quando for necessário, diferentemente das de concreto, que segundo ele, são difíceis de instalar ou remover. Para melhorar as que já existem, ele afirma que uma licitação será aberta para compra dos equipamentos, mas só depois das eleições.

– Precisamos ainda buscar verbas e definir onde serão instalados e quantos a cidade precisa – explica.

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SINAL VERDE

Biguaçu

Em Biguaçu, o número de pontos de ônibus também não é alto. Com exceção de apenas um caso, registrado na comunidade de São Miguel, que está totalmente corroído pela ferrugem, todos os 29 abrigos às margens da rodovia são padronizados, de concreto e sem defeitos. Também estão em locais limpos, há lixeiras e em alguns há até floreiras ao lado. Entre os usuários, há poucas reclamações quanto ao estado de conservação das estruturas.

O que diz a prefeitura

O secretário de Desenvolvimento Urbano e Transportes de Biguaçu, Saul Ferreira, diz que escolha da cidade pelos modelos de abrigos em concreto foi justamente pela durabilidade, que não sofre com ação de vândalos ou com ações do tempo.

Ele lembra que as estruturas são antigas e que a prefeitura precisa apenas mantê-las limpas. Na cidade, uma força-tarefa deve deixar os pontos mais limpos. Segundo ele, o município vai gastar cerca de R$ 52 mil com limpeza e pintura. O trabalho deve durar 45 dias.

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– Teremos dois veículos. Um passará limpando, e o outro passará pintando- afirma.

Segundo Ferreira, o trabalho dará prioridade aos bairros do interior da cidade, mas os moradores podem ligar para a secretaria informando outros locais que precisam de manutenção.

Onde cobrar melhorias

São José

::: Secretaria de Segurança, Defesa Social e Trânsito.

::: Endereço: Rua Irmãos Vieira, 224, Campinas.

::: Telefone: (48) 3259-6160.

Palhoça

::: Secretaria de Segurança, Trânsito e Defesa Social.

::: Av. Hilza Terezinha Pagani, 280.

::: Parque Residencial Pagani.

::: Telefone: (48) 3279-1758.

Biguaçu

::: Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Transportes.

::: Endereço: Rua São José, s/n°.

::: Telefone: (48) 3285-5629.

Os leitores da Hora que foram jornalistas por um dia e acompanharam a produção da matéria, falam sobre a experiência que tiveram:

Maria Cecília de Queiroz Silveira Logrado

“No dia em que eu passei passei na redação, acompanhando os repórteres, vi o quanto o tema abordado naquela data era importante. A má conservação dos abrigos de ônibus é realidade em todo o país. No Nordeste, onde morei, também é assim.

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Não fosse a imprensa, dificilmente haveria melhorias na área. Afinal, este assunto só é lembrado por quem anda de ônibus e depende disso diariamente. Oferecer abrigos decentes à população é muito importante, principalmente nesta época do ano, quando é mais frio e a necessidade aumenta.

Também percebi o quanto as pessoas procuram a imprensa quando precisam resolver um problema da sua rua ou de seu bairro. Muitas pessoas nos paravam no caminho para contar coisas que necessitavam de melhorias. E este é o papel da mídia, ser os olhos da população”.

Jonatan Felipe Schetz

“Gostei muito da receptividade dos jornalistas da Hora e me agradou o tema que acompanhei: a situação dos pontos de ônibus nas cidades de São José, Palhoça e Biguaçu. Quando se fala em mobilidade, vemos muitas notícias sobre carros, obras e como estão os horários e as condições dos coletivos.

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Pouco se fala na situação e nas necessidades dos pontos. Também me surpreendeu muito o fato de as pessoas pararem a reportagem no meio do caminho para sugerir temas ao jornal, o que demostra o quanto ele é o canal mais curto para população resolver problemas com as prefeituras.

Neste dia que acompanhei a equipe, um morador reclamava das péssimas condições de uma escola. Espero que a Hora vá atrás dessa história, que também é muito importante.