Maicon Teixeira viveu uma saga pelas estradas catarinenses na madrugada de 28 de março de 2004, quando aconteceu o Furacão Catarina. Na época, ele vivia em Torres, no Rio Grande do Sul, e decidiu ir com três amigos a um baile de rodeio em São João do Sul, município de Santa Catarina que faz divisa com o Estado vizinho. O rodeio encheu, mas o baile não aconteceu.

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— Faltou luz no meio do rodeio e nós resolvemos ir embora. Quando saímos do meio do povo, começamos a ver aquela chuva forte, aquele vento… A gente não tinha noção do que estava acontecendo. Avisaram que ia ter um furacão, mas nós imaginávamos que seria só um vento forte e acabou.

O trajeto até Torres normalmente demoraria 30 minutos. No caminho para casa, porém, os amigos se depararam com a BR-101 bloqueada por um tronco de eucalipto derrubado pelo vento. Eles desceram do carro e tentaram sozinhos remover a árvore.

— Nesse momento, a gente olha para cima e vê os eucaliptos balançando de um lado para o outro. Eu penso: “Deus, tira a gente daqui que vai cair um negócio desses em cima do carro e nós vamos todos morrer”.

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Amedrontados, os amigos deram a volta e decidiram passar a noite no antigo trevo de São Bento do Sul. Lá, por ser um espaço mais aberto, eles calcularam que havia menos chances do carro ser atingido por árvores, placas ou outros objetos trazidos pelo vento.

A madrugada foi tensa. A certa altura, os amigos precisaram abrir a porta do veículo, e ao fazerem isso, a porta se rasgou e quase saiu voando. Um deles chegou a passar mal de nervosismo.

— Era uma angústia — descreve Maicon.

Leia todas as reportagens especiais sobre os 20 anos do Furacão Catarina

Destruição e alívio

Ao amanhecer, o furacão já havia passado e a população começava a abrir caminhos entre as árvores derrubadas. A BR-101 ainda estava bloqueada, mas o trio de amigos encontrou um caminho alternativo por dentro das cidades. Na jornada, Maicon ia fotografando a destruição.

— Quando tu começa a entrar naquelas praias mais simples, tu vê casas viradas no próprio eixo, árvores grandes torcidas que nem palitos. A destruição cada vez maior. E cada vez tu ficando mais perto, tu vai ficando cada vez mais tenso com as tuas coisas, com a tua família.

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Na época, Maicon vivia com a mãe e os dois irmãos.

— Tu pensa: “Será que tá todo mundo bem?”. Porque tu sabe que tu tá bem, que não aconteceu nada com nenhum dos três (amigos), mas tu fica numa angústia de saber como estão as tuas pessoas.


Maicon conta que seu bairro, em Torres, foi bastante afetado pelo furacão. Um ginásio a uma quadra de onde vivia ficou completamente destruído. Mas sua casa, não. 

— Eu chego em casa, olho e tá o meu irmão numa escadinha, colocando as oito telhas que saíram do lugar na casa da mãe — relembra, com alívio. 

Maicon, que passou a vida entre o Sul catarinense e o Norte gaúcho, diz que o furacão marcou a região. Hoje, ele vive em Criciúma, onde dá aulas de Física. 

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— Eu duvido que qualquer pessoa que morou por aqui não tenha um pequeno relato ou uma grande história para contar do furacão — diz.

Fotos mostram a destruição do Furacão Catarina

Reportagens especiais relembram Furacão Catarina

Na semana que marca os 20 anos da passagem do Furacão Catarina pelo Estado, uma série de reportagens especiais relembra como foi o evento único no país que afetou cidades do Sul catarinense em 2004, e trazem os aprendizados deixados pelo furacão, que mudou a vida de milhares de catarinenses. 

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