A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) considera inaceitável a tentativa do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), de cercear a liberdade de imprensa por meio da pressão econômica. A manifestação da entidade foi feita no final da tarde desta sexta-feira (8), por rede social, motivada por uma declaração do governador a um grupo de empresários.
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O colunista Upiara Boschi revelou que Moisés, em uma transmissão ao vivo para um grupo de líderes empresariais, criticou a cobertura realizada pela imprensa catarinense ao caso da compra de respiradores. O governador chegou a sugerir aos interlocutores que pressionassem os meios de comunicação usando a condição de anunciantes para garantir, nas palavras dele, “um recado muito claro de um jornalismo decente que tem que ser praticado, responsabilizar esses veículos”.
— Liberdade de imprensa é uma coisa e o que estão fazendo hoje aqui em Santa Catarina (é outra). E os senhores podem me ajudar muito, fica meu apelo. Em todos esses veículos de comunicação os senhores têm propaganda, comerciais, vendem seus produtos – disse Moisés.
A Abraji destaca que "fiscalizar o uso de recursos públicos é uma das principais funções do jornalismo. Em sua fala a empresários, o governador demonstra ignorância sobre o conceito de liberdade de imprensa. Como, infelizmente, está se tornando comum entre autoridades brasileiras, prefere atacar o mensageiro a prestar contas à sociedade catarinense".
A Abraji considera inaceitável a tentativa do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), de cercear a liberdade de imprensa através de pressão econômica. Fiscalizar o uso de recursos públicos é uma das principais funções do jornalismo. + https://t.co/TDoHN6ZXZw
— Abraji (@abraji) May 8, 2020Continua depois da publicidade
Questionado sobre o assunto em entrevista coletiva na noite desta sexta, Carlos Moisés refutou o uso do verbo "cercear", mas ratificou as críticas à cobertura do caso dos respiradores. O governador comparou ao caso ao da Escola Base, de São Paulo, em 1994, quando proprietários de uma escola infantil foram erroneamente acusados de assédio pela Polícia e tiveram suas imagens expostas pela cobertura da imprensa. Na fala aos empresários, Moisés disse que a compra de respiradores com pagamento antecipado de R$ 33 milhões foi feita em momento de “verdadeiro desespero” com a necessidade de ampliar a capacidade de atendimento de UTI no Estado.
Outras entidades também se manifestaram sobre a declaração do governador Carlos Moisés da Silva.
Nota de repúdio – ACAERT
A Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão- ACAERT repudia as declarações feitas hoje pelo Governador Carlos Moisés da Silva durante um evento transmitido ao vivo para empresários em nível nacional.
Durante o evento, Carlos Moisés da Silva insinuou que a imprensa catarinense deveria ser cerceada através da pressão de empresários, na condição de anunciantes dos veículos de comunicação, em torno do que ele considera um “jornalismo decente”.
A ACAERT considera que esse tipo de manifestação demonstra, por parte do governante, um total desconhecimento do papel da imprensa, que tem a obrigação de divulgar toda e qualquer informação que for de interesse público e para o bem da sociedade.
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Reforçamos ainda que o segmento não mediu esforços, desde o início da pandemia, para levar a informação precisa aos catarinenses, reforçando os protocolos de segurança das autoridades de saúde e dando ampla divulgação, principalmente, aos esforços do Governo do Estado no combate à COVID-19, que teve horas exposição na programação das principais emissoras de Santa Catarina.
Nos surpreende, portanto, o conteúdo dessas declarações pelo tom de ameaça e as insinuações autoritárias, uma vez que o próprio mandatário elogiou e agradeceu publicamente por diversas vezes em coletivas de imprensa a cobertura profissional que vem sendo feita pelos mesmos veículos que hoje ele pede que sejam responsabilizados por fazerem justamente aquilo que lhes é de obrigação, informar a população.
Esperamos que prevaleça o respeito com o segmento da comunicação e com a democracia, na qual a liberdade de imprensa é um direito inegociável e não pode sofrer qualquer tipo de pressão ou insinuação por parte de quem quer que seja. Como proferiu a suprema corte americana ao absolver os jornais que divulgaram documentos secretos: “A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes”.
Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão – ACAERT
Informar à sociedade o que é do interesse público, isso é liberdade de imprensa, diz ACI
A Associação Catarinense de Imprensa (ACI) – Casa do Jornalista vem a público manifestar seu repúdio a qualquer tentativa de cerceamento da liberdade de expressão. Não bastasse a necessidade de se expor a riscos variados para manter a sociedade informada sobre um dos episódios mais dramáticos vividos pela imensa maioria das pessoas em todo o mundo, no Brasil e em Santa Catarina os profissionais de imprensa encaram outro monstro: a intolerância. Esse, diferente do vírus, é demasiadamente humano e intratável.
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Mandar a imprensa "calar a boca" não é apenas desrespeitoso, mas também antidemocrático. Em Brasília, o gesto foi feito aos gritos, de forma descontrolada, pelo Presidente da República. Aqui em Santa Catarina, a opção foi por uma reunião virtual com empresários. Usando de truculência ou de pressão econômica, em ambas as situações a intenção era a mesma: matar o mensageiro que traz más notícias, que aponta erros, que alerta para a possibilidade de correção de rumo.
Ainda que os governantes de ocasião não queiram ouvir, vale lembrar que a imprensa tem função: informar à sociedade aquilo que é de interesse público, mesmo que não seja de interesse daqueles que ocupam palácios temporariamente. Isso é liberdade de imprensa.
Diretoria da Associação Catarinense de Imprensa
Nota de repúdio – Abert
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) repudia as afirmações do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), que, nesta sexta-feira (8), durante debate virtual e após tecer críticas ao trabalho da imprensa, sugeriu que empresários do estado pressionem os meios de comunicação, usando a condição de anunciantes, em uma clara tentativa de cerceamento à imprensa livre, plural e independente.
É lamentável que o governador desconheça o real papel dos veículos de comunicação profissionais, que, principalmente em um momento de crise sanitária mundial, exercem a missão fundamental de informar a sociedade.
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A ABERT lembra que a imprensa tem uma responsabilidade social na manutenção da democracia e da diversidade de opinião, e qualquer tentativa de coação é um ataque à liberdade de expressão.
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão