Dezenove dias depois de ter sido baleado numa pizzaria em Natal, onde passava férias com a mulher e também policial Caroline Pletsh, o sargento Marcos Paulo da Cruz, 43 anos, voltou a Chapecó. O avião pousou por volta das 13h30 no aeroporto Serafim Enoss Bertaso. Marcos Paulo foi o último passageiro a descer. Caminhava bem, mas usava uma tipoia no braço esquerdo, onde ainda estão alojados alguns fragmentos do tiro que levou.
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Ele não saiu junto com os demais passageiros pois seus familiares foram acomodados na sala de administração, que tem acesso ao pátio. Os parentes o aguardavam com ansiedade no local:
– Estou feliz por um lado, triste por outro, mas nem quero comentar com ele do que aconteceu. Só estou feliz de ver que ele está bem, que está vivo – disse o pai, Jacir da Cruz, lembrando que a nora não sobreviveu ao assalto.
Os filhos do primeiro casamento de Marcos Paulo, Gabriel, 14 anos, e Eduardo, 21 também foram abraçar o pai.
– Nunca senti tanta saudade dele, nem quando ele viajou para Brasília. Falava com ele todos os dias. Às vezes ele me ligava chorando. Fui eu que levei os dois para o aeroporto para a viagem, depois de terem trabalhado 45 dias na Operação Veraneio, para bancar as despesas. Tinha uma boa relação muito bem com minha madrasta, pois moro na casa ao lado. Pensei que os dois voltariam. Não vai ser fácil ele superar isso – disse Eduardo.
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Os pais de Caroline também foram recepcioná-lo e choraram muito ao abraçá-lo. Depois de receber o carinho dos familiares, Marcos Paulo foi até o estacionamento da administração do aeroporto, onde policiais fizeram um corredor. Do lado esquerdo, estavam principalmente os colegas da rádio patrulha, onde Caroline trabalhava. Do lado direito, colegas de turma e de serviço de Marcos Paulo.
Eram cerca de 40 policiais. Ele fez questão de cumprimentar todos. Chorou ao abraçar os mais próximos de sua convivência. Em alguns momentos encostou a testa na testa de colegas, como se compartilhasse a mesma dor. Tudo em muito silêncio. Foi até pensada numa homenagem, mas o sargento pediu que sua chegada fosse discreta.
O vice-presidente da Associação dos Praças de Santa Catarina (Aprasc), Valtecir Tomé Behnen, que foi colega de turma de Marcos Paulo, acompanhou- o desde o segundo dia de hospital em Natal, até o retorno.
– No embarque ele estava tranquilo mas à medida que o voo foi se aproximando de Chapecó a emoção foi tomando conta e ele começou a falar dela (Caroline), das lembranças. Agora volta tudo, ele vai chegar em casa e ver as coisas que compraram juntos – disse Valtecir.
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Do aeroporto, o sargento foi até o cemitério Jardim do Éden, visitar o túmulo da mulher. Depois foi fazer um exame raio-X, antes de ir para casa. O retorno era para ter ocorrido na semana passada, mas havia o risco de embolia pois um dos fragmentos atingiu o pulmão. Marcos Paulo também terá uma avaliação sobre a necessidade de uma cirurgia no ombro. Na chegada, ele não quis falar. A previsão é de que na segunda-feira dê uma entrevista coletiva.
– A volta do Marcos Paulo é uma retomada, uma nova história após um momento difícil, em que a gente lamenta a perda da Caroline. A instituição vai atuar para ele se sinta acolhido – disse o comandante do 2º Batalhão de Polícia Militar de Chapecó, tenente-coronel Ricardo Alves da Silva.