Abra o guarda-roupa: a renda vem aí

Entre terminar o PhD em ciência política e tornar-se estilista, Miuccia Prada passou seis anos estudando mímica – e a fluência dela em linguagem não-verbal é parte do que a faz tão boa em sua profissão.

Há um ano e meio, a Prada apresentou um dos desfiles de parar o trânsito da moda que costuma mostrar de vez em quando. Este era uma extravagância de seda em escala não vista desde os dias de Madonna em Like a Virgin – mas no lugar daquelas coisas berrantes e brilhosas, havia uma renda suíça lindamente trabalhada, em pérola, café e, surpreendentemente, um tom de laranja. E em vez de usada em tops transparentes ou em acabamentos de babados, a renda apareceu em linhas retas e simples, em roupas para serem usadas no trabalho, como saias em A e camisas abotoadas.

Miuccia Prada disse ter ficado interessada em como a renda “segue as mulheres ao longo da vida”, desde os vestidos de comunhão aos véus de casamento e trajes de viúvas. Nos últimos dois anos, ela andou interessada em peças que as mulheres realmente amam em seus guarda-roupas: renda, ouro, peles. Essas são as peças, segundo Prada, que possuem o apelo mais básico.

Como costuma ocorrer, está claro agora – 18 meses depois, uma eternidade em termos de moda – que ela estava com o faro apurado. Em guarda-roupas atualizados, a renda não é mais apenas um acabamento, mas a peça principal. Eleita a mulher mais bem-vestida de 2009 pela Harpers Bazaar, Stella McCartney vestiu um macacão de renda de sua própria grife para o baile do Met deste ano. Na semana de moda de Londres, em setembro, o reinado da legging de efeito molhado foi substituído pela legging de renda. E em todos os cantos o casaquinho must have do verão – o blazer de lantejoulas – foi destituído por uma versão de renda.

Na loja online Asos.com, a diretora de compras femininas Caren Downie esteve à espreita da alternativa deste ano à onipresente lantejoula:

– Tínhamos noção de que não poderia ser mais uma estação inteira de lantejoulas. Sentimos que a fome por brilho iria minguar antes de chegarmos ao Natal, então precisávamos oferecer uma alternativa. Também estão havendo menos festas neste final de ano, devido aos cortes de custos por parte das empresas, e a renda é mais flexível do que o brilho em termos de fazer a transição entre o guarda-roupa diurno e o noturno.

Lorraine Pringle é relações públicas e diretora de marketing da sofisticada marca britânica Warehouse, que aderiu à onda da renda mais cedo com um blazer de renda imensamente popular no início da estação.

– As pessoas querem algo um pouco menos óbvio do que lantejoulas – garante. – Este ano, a versão mais sutil da renda está definitivamente dando certo.

Recém ficando acostumados aos cortes retos, de ombros marcados e com pegada de guerrilha urbana desta estação, os lojistas terão uma surpresa em 2010, quando a moda deve assumir uma estética mais sexy e mais feminina.

Antecipando isso, os varejistas estão usando uma renda mais encorpada como uma ponte entre as coleções mais “duronas” atualmente nas lojas e os looks mais suaves que vêm por aí, aos poucos encorajando os clientes a levar seus guarda-roupas em uma nova direção.

No site Asos.com, um top de renda preto com ombreiras aparentes vem sendo um dos hits da estação.

– As pessoas estão procurando por uma abordagem moderna à renda – explica Caren Downie. – Temos vestidos de renda, mas eles têm grandes zíperes aparentes por cima. A escala da renda também é importante: precisa ser grande e gráfica.

Já na Warehouse, leggings de renda e até um macacão feito com o tecido estão se mostrando populares.

Um macacão de renda levanta a questão: o que usar por baixo? Em fevereiro de 2008, quando Miuccia Prada estabeleceu as bases de sua coleção de renda com calças vigorosas, a maioria de nós presumiu que esse tropeço das passarelas nunca veria a luz do dia.

Apenas um ano depois, é impossível abrir um tabloide sem ver uma foto de Lady GaGa usando gigantescas calcinhas _ e só. Até agora, a maioria de nós jura que nunca será vista usando isso nem morta.

Eu digo que dou um ano: se a moda nos ensina alguma coisa, é a sabedoria de nunca dizer nunca.