Evitados pelos principais candidatos, perseguidos pelos nanicos. Assim tem sido a abordagem de temas polêmicos nas campanhas eleitorais. Se tem presidenciável que nem quer ouvir falar em legalização das drogas, tem outro que faz questão de marcar posição e garantir o apoio do seu eleitorado.

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No primeiro debate entre os candidatos à Presidência, ocorrido na noite de terça-feira, a estratégia ficou clara. Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (PSOL), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB) – que, juntos, não somam 3% das intenções de voto, conforme última pesquisa Ibope – apontaram a artilharia para assuntos delicados. Na retaguarda, Aécio Neves (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) evitaram as controvérsias.

– Os nanicos trazem temas polêmicos à baila porque estão disputando votos de nichos. Eles respondem ao seu eleitorado, tentado garantir que ele se mantenha fiel, e contribuem para, de alguma forma, tornar a sociedade brasileira menos retrógrada. Se você olhar ao redor, são temas que outros países próximos estão enfrentando – aponta o cientista político Benedito Tadeu César.

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No embate desta terça-feira, o candidato do PV questionou Aécio sobre a interrupção da gravidez e se posicionou favorável à liberação da maconha. Luciana Genro atacou Pastor Everaldo sobre a responsabilidade pelas mortes de homossexuais por preconceito – o evangélico disse jamais ter discriminado alguém. A candidata do PSOL ainda defendeu a regulamentação da maconha e do aborto. E os três líderes nas pesquisas?

– Os candidatos com pouca chance de ganhar uma eleição fazem o papel de intermediário entre os candidatos com maior votação e os temas polêmicos que os principais tentam evitar. Eles provocam essa discussão até para deixar os candidatos maiores em uma situação de constrangimento – explica a cientista política, professora da Ulbra e da ESPM Ana Simão.

Os especialistas ressaltam que, apesar de temas como casamento gay, interrupção da gravidez e legalização das drogas dependerem da aprovação do Congresso, a Presidência tem papel importante em levantar e propor o debate.

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– No Uruguai, a legalização da maconha dependeu do patrocínio do presidente José Mujica – contextualiza Benedito Tadeu César.

Zero Hora selecionou três temas polêmicos levantados no debate de terça-feira à noite e buscou a opinião dos três principais presidenciáveis. Confira, abaixo, a posição de Aécio, Dilma e Marina sobre casamento homoafetivo, aborto e legalização das drogas.

Foto: Miguel Schincariol / AFP

ABORTO

Aécio Neves

No segundo bloco do debate, Aécio foi questionado pelo candidato do PV sobre a sua opinião a respeito da interrupção da gravidez. O tucano respondeu:

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– Acredito que a legislação atual deve ser mantida, mas defendo que haja cada vez mais informação, sobretudo a adolescentes de baixa renda no Brasil.

Dilma Rousseff

Ainda antes do começo oficial da campanha, em junho deste ano, a presidente defendeu a interrupção da gestação por motivos “médicos e legais” e que os procedimentos deveriam ocorrer em todas as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) com serviço de obstetrícia.

Marina Silva

É contra, mas reconhece os argumentos dos dois lados do debate. Em 2010, apresentou a proposta de um plebiscito para discutir o assunto.

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CASAMENTO HOMOAFETIVO

Aécio Neves

É a favor.

– Já é parte da nossa realidade. Sou a favor, não há qualquer questionamento em relação a isso. Já é pauta do passado – disse Aécio em entrevista no começo de agosto.

Dilma Rousseff

Quando ainda era ministra da Casa Civil, Dilma fez uma defesa enfática sobre o casamento gay. Depois passou a ser criticada por esquecer o assunto. O projeto que inclui a união entre pessoas do mesmo sexo no Código Civil está parado no Congresso.

Marina Silva

A candidata já se posicionou contrária ao ato como sacramento, mas disse ser a favor dos direitos civis dos homossexuais. Sobre a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, afirmou não ter opinião.

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LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS

Aécio Neves

É contra. Em entrevista há três semanas, o tucano afirmou não acreditar que o Brasil deva adotar a medida:

– Não sou a favor da legalização das drogas. Respeito países que estão buscando alternativas. Nós devemos acompanhá-las e observá-las com atenção, mas ainda não vi nenhum resultado objetivo de países que avançaram na descriminalização.

Dilma Rousseff

Em encontro com jornalistas estrangeiros em junho deste ano, a presidente descartou a legalização da maconha no Brasil nos termos como ocorrido no Uruguai.

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– Aqui, no Brasil, não cabe a legalização da maconha porque é um país onde existe o crime organizado, e as principais drogas são o crack e a cocaína – disse.

Marina Silva

Já defendeu um plebiscito para avaliar a liberalização, afirmando que faltava informação à sociedade, mas que “continuar como está não é a solução”. Em 2013, 70% dos fundadores da Rede Sustentabilidade – partido que tentou criar – eram favoráveis à legalização da maconha.