A investigação da Polícia Federal (PF) que apontou irregularidades no uso de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teve o sigilo retirado na quinta-feira (11). A divulgação dos fatos investigados indicou a suposta utilização de recursos e servidores da Abin para espionagem de autoridades e adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O caso vem sendo chamado de investigação sobre uma “Abin paralela”. As informações foram detalhadas pelo portal g1.
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Conforme a investigação, policiais e servidores da Abin teriam formado uma organização criminosa para monitorar autoridades contrárias ao grupo político de Bolsonaro. O esquema teria ocorrido durante a gestão do ex-presidente e é investigado desde 2023. A atuação dos investigados envolve invasão de celulares e computadores.
Entre as pessoas e autoridades monitoradas estão representantes do Legislativo, como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Judiciário, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e jornalistas.
Entenda as investigações sobre a Abin em tópicos
Espionagem contra investigadores
A investigação da PF apontou que a Abin teria sido instrumentalizada para monitorar autoridades responsáveis por inquéritos contra familiares do ex-presidente Jair Bolsonaro. Auditores da Receita Federal que atuaram no caso do esquema de “rachadinha” do gabinete do ex-deputado e atual senador Flávio Bolsonaro teriam sido alvos de ações clandestinas. A intenção seria “achar podres” dos profissionais responsáveis pelos relatórios contra o senador e filho do ex-presidente.
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Entre as investigações monitoradas pela Abin paralela também estiveram fatos ligados à morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), assassinada em março de 2018.
Ministros do STF no alvo
Outros alvos das ações irregulares da chamada Abin paralela foram ministros do STF, como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Segundo a PF, dois servidores da Presidência da República e da Abin teriam elaborado relatórios falsos e divulgado fake news para tentar atacar a credibilidade dos magistrados. Os materiais envolveriam informações falsas sobre declarações dos ministros em perfis nas redes sociais. Por trás da conduta estaria o desejo de desacreditar o Poder Judiciário e o sistema eleitoral, conforme os investigadores da PF.
Senadores da CPI da Covid
O uso clandestino da Abin para monitorar adversários teria ocorrido também contra rivais políticos que integravam a CPI da Covid no Senado, em 2021.
O senador Alessandro Vieira, que integrava a CPI, havia apresentado um requerimento para que o vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, prestasse esclarecimentos à CPI, com direito a quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e de mensagens do parlamentar. Por conta disso, os envolvidos no uso irregular da Abin, Marcelo Bormevet, que atuava na Presidência da República, e Giancarlo Rodrigues, com atuação na Abin, teriam também elaborado peças de desinformação sobre o senador. Em uma das conversas, Giancarlo afirma que Alessandro Vieira seria um dos alvos e avisou: “Já estou municiando o pessoal”.
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Conhecimento sobre ‘minuta do golpe’
O uso irregular da Abin não é o único fato investigado pela Polícia Federal. Alguns dos supostos envolvidos também estariam a par de outras ilegalidades, como a elaboração de uma “minuta do golpe”, no fim do governo Bolsonaro.
Segundo a PF, conversas dos dois principais investigados pela “Abin paralela” indicariam “referências relacionadas ao rompimento democrático”.
A operação desta quinta-feira cumpriu cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão, nas cidades de Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
A suspeita é de crimes como organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.
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A lista de pessoas espionadas
- Alexandre de Moraes, ministro do STF
- Dias Toffoli, ministro do STF
- Luís Roberto Barroso, ministro do STF
- Luiz Fux, ministro do STF
- Arthur Lira (PP-AL), deputado federal e presidente da Câmara dos Deputados
- Kim Kataguiri (União-SP), deputado federal
- Rodrigo Maia, ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados
- Joice Hasselmann, ex-deputada federal
- Jean Wyllys (PSOL), ex-deputado federal
- Alessandro Vieira (MDB-SE), senador
- Omar Aziz (PSD-AM), senador
- Renan Calheiros (MDB-AL), senador
- Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), senador
- João Doria, ex-governador de São Paulo
- Hugo Ferreira Netto Loss, servidor do Ibama
- Roberto Cabral Borges, servidor do Ibama
- Christiano José Paes Leme Botelho, auditor da Receita Federal do Brasil
- Cleber Homen da Silva, auditor da Receita Federal do Brasil
- José Pereira de Barros Neto, auditor da Receita Federal do Brasil.
- Jornalistas:
- Monica Bergamo, jornalista
- Vera Magalhães, jornalista
- Luiza Alves Bandeira, jornalista
- Pedro Cesar Batista, jornalista.
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