As paisagens nos arredores do Mercado Municipal contemplam parte da história de Joinville, como o antigo Moinho e o rio Cachoeira. Mais de 100 anos depois da construção, a vizinhança do cartão-postal começa a gerar preocupação em comerciantes.

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Os proprietários reclamam, principalmente, do abandono e do aumento da sensação de insegurança na região entre as ruas Santos, Ricardo Stam Gomes, Cachoeira e as avenidas Procópio Gomes e Doutor Paulo Medeiros.

— Umas das minhas funcionárias veio trabalhar, por volta das 5h da manhã, e foi agarrada por um homem na saída da Rua Santos. Ela conseguiu correr, mas sentimos insegurança aqui — conta Rodrigo Schmitz, 38 anos, que gerencia um hotel nas proximidades do Mercado.

Segundo ele, o clima de insegurança na região é agravado porque existem muitas casas e comércios abandonados. Aos poucos, a falta de movimento nos locais fez com que muitos fossem ocupados por pessoas em situação de rua e, em alguns casos, para o consumo de drogas.

Casas abandonadas são ocupadas irregularmente

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Em um dos imóveis da rua Santos, por exemplo, o telhado da casa foi queimado e as janelas quebradas. Dentro da residência muito lixo, como restos de embalagens de comida e bebida pelo chão, demonstrando recente ocupação do imóvel. Para o gerente, a união do abandono e as ocupações irregulares geram as principais situações que ele observa acontecer na região, como assaltos a pedestres e venda de drogas.

Em uma das construções descuidadas nos arredores, a Polícia Militar chegou a realizar uma operação no mês de julho. Durante a ação, os policiais encontraram um homem que era mantido em cárcere privado após ir até o local para comprar entorpecentes.

Ainda que exista o descaso com as casas e antigos comércios, às proximidades do Mercado possui um grande fluxo de pedestres e trânsito de veículos, já que dá acesso aos bairros Boa Vista, Bucarein e ao Centro da cidade. Segundo o major Celso Mlanarczyki, subcomandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM) – que cuida do policiamento nesta região – por se tratar de uma área com grande concentração de pessoas, o perímetro é acompanhado constantemente pela polícia.

Tráfico de drogas está entre os crimes

Ainda que exista a preocupação dos comerciantes, a Polícia Militar diz que não computou um aumento significativo na incidência de delitos nas proximidades do Mercado Municipal. De acordo com o subcomandante, os principais delitos registrados na região são: posse e tráfico de drogas, receptação, além de furtos e acidentes de trânsito.

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— O que se destaca durante abordagens são a posse de entorpecente, receptação e tráfico de drogas, já que isso decorre da ação da polícia. Não são ocorrências que vem por demanda, mas pelo policiamento rotineiro – explica o major.

Por se tratar de um patrimônio público, a responsabilidade de zelar pela praça e pelo Mercado é da Guarda Municipal (GM). Questionada pela reportagem, a prefeitura preferiu se manifestar por nota e informou que GM realiza rondas na região. Os moradores podem fazer denúncias pelo telefone 153.

Paisagem menos convidativa

O aspecto de abandono e descuido tornou a paisagem pouco convidativa aos frequentadores. Segundo o gerente de hotel Rodrigo Schmitz, os visitantes que vão ao cartão-postal encontram cenas de descuido com o patrimônio e o legado histórico-cultural. O cenário acaba espantando turistas, que desistem de fazer um passeio a pé pela cidade por causa da sensação de insegurança na região.

Ele ainda conta que o hotel já recebeu avaliações negativas em sites de viagens e turismos por conta da situação da localidade. A falta de conservação é perceptível na vegetação que está malcuidada. Lixos e entulhos acumulados, assim como pouca iluminação também estão entre os pontos reclamados pelos que frequentam a localidade.

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Questionada a prefeitura se manifestou por meio de nota e informou que a área do Mercado Público passa por manutenção de limpeza e de ações de jardinagem por parte da Secretaria do Meio Ambiente.

Insegurança para trabalhadores

Não é somente os turistas e visitantes que se sentem vulneráveis ao transitar pela região. A estudante Bárbara Joaquim Carvalho, 21 anos, considera o local perigoso. Trabalhando no Mercado Municipal há cerca de um mês, a jovem conta que neste período já soube de assaltos – o último na manhã de sábado – e de situações do uso de entorpecentes nos arredores durante o dia e que precisou a intervenção da polícia para manter a segurança.

— Eu saio para ir para casa por volta das 18h30min e já está escuro. Muitas vezes eu prefiro o transporte por aplicativo para ir à faculdade, por ser mais seguro — explica a universitária.

A tesoureira Jucemara Borges trabalha em um estabelecimento comercial na Rua Procópio Gomes e corrobora da opinião do gerente. Além disso, ela aponta que a noite – quando o fluxo de carros e pedestres diminui – a região fica mais perigosa. Ela conta que já presenciou furtos de aparelhos celulares durante o dia, na porta da loja em que trabalha. Para ela, como a região ficou mais perigosa nos últimos meses, o policiamento na área deveria ser ampliado, com mais viaturas e rondas em vários períodos do dia.

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O subcomandante do 8º BPM, major Celso Mlanarczyki, explica que as abordagens e rondas da PM são realizadas diariamente, a região que circunda o Mercado é alvo de ações preventivas. Ele explicou que quando a polícia identifica um cenário que fuja da normalidade disponibiliza, além do policiamento convencional, operações na região. Para isso, o policial conta com a participação da comunidade que tem papel importante.

— É importante a comunidade ficar atenta a atitudes e pessoas suspeitas e trazer essas informações à PM, que irá atuar de maneira mais pontual. Não adianta somente a polícia identificar um cenário pelos índices criminais, é importante também a comunidade informar quando percebe algo. O 😯 BPM está sempre de portas abertas — conclui o oficial.

Moradores em situação de rua

Outra condição apontada pelos comerciantes é a ocupação dos arredores por moradores em situação de rua. De acordo com o gerente Rodrigo Schmitz, a crescente presença nas redondezas acaba intimidando pedestres, turistas e visitantes. Além das casas na Rua Santos, um antigo posto de gasolina, o palco de shows na Praça do Mercado e o terminal desativado de passageiros acabam virando morada para essas pessoas.

— Eles não assaltam, mas pedem dinheiro a quem passa aqui, o que acaba incomodando as pessoas, a região acabou virando um albergue — lamenta Schmitz.

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Segundo a prefeitura, os moradores de rua têm apoio e assistência do município no Centro Pop, oferecendo alimentação e auxílio para a ressocialização. A orientação da Secretaria da Assistência Social é que as pessoas em situação de rua sejam direcionadas pela população aos serviços oferecidos pelo Centro de Referência para que tenham o suporte para encaminhamentos de ajuda.

A unidade fica localizada na rua Paraíba, 937, bairro Anita Garibaldi, próximo da rodoviária de Joinville. Além disso, o município conta com estrutura de saúde com o programa Consultório na Rua.