Na Bahia, o abadá representa um determinado preconceito, uma afirmação de um segmento social mais elitizado, acredita o historiador carioca André Diniz, secretário de Cultura de Niterói, na Grande Rio de Janeiro, e autor do Almanaque do Carnaval, publicado em janeiro pela editora Zahar. Na sua opinião, o abadá abafou a riqueza cultural do axé, que já representou a união entre grupos sociais distintos na Bahia e, hoje, contribui para a segregação financeira e estética no Carnaval.
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O escritor disse que a segregação no Carnaval baiano existia antes do axé, quando as pessoas de menos posses brincavam separadas das que tinham melhor situação financeira. O surgimento do trio elétrico na década de 1950, com Dodô e Osmar, foi um marco que conseguiu unificar a festa:
– Você tem um carro que vai arrastando todo mundo e todos podem brincar juntos. Esse é um marco de unificação muito forte e começa a ser exportado. Ele vai se unir aos estilos afro-descendentes da Bahia, aos tambores africanos, e faz surgir essa musicalidade muito rica que remonta ao samba do recôncavo baiano e é conhecida como axé.
Para Diniz, no entanto, embora marcado pela riqueza cultural e musical, o axé trouxe embutida, com o abadá, a segregação estética e financeira. Ele citou como exemplo o caso, narrado em seu livro, de uma moça que, mesmo tendo dinheiro para pagar o abadá, não pôde entrar num trio elétrico porque não atendia a determinado padrão de beleza.
– Hoje, na Bahia, os únicos blocos em que se pode sair sem abadá são Os Filhos de Gandhi e o Ilê Ayê. O resto é tudo com abadá. Ou seja, a riqueza e a beleza do axé, que ganhou a mídia, a indústria de massa e tornou-se um produto do mercado, foi um pouco abafada por causa do abadá.
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