A volta da cantora Marisa Monte

Tem sido dito que o novo disco de Marisa Monte, O que Você Quer Saber de Verdade (EMI, 14 faixas, R$ 29,90), é coerente com seu passado de bons lançamentos. Diz-se também que o álbum falha porque não surpreende. São duas maneiras de dizer a mesma coisa: é possível surpreender após 23 anos de carreira?

Desde a gravação de seu primeiro disco, em 1988, Marisa Monte tornou-se o parâmetro para as novas cantoras brasileiras. Chegou o momento em que a situação se inverteu, e o frescor de vocalistas talentosas, como Nina Becker e Tulipa Ruiz, cobra da artista algo que ela não está disposta a entregar: uma repaginação forçada de sua música.

Durante coletiva pela internet – parte de uma série de ações online para o lançamento do álbum, o primeiro de Marisa desde a dobradinha Infinito Particular / Universo ao Meu Redor (2006) -, a cantora explicou que mantém a mesma linha de composição ao longo de toda sua trajetória porque assim conquistou o público que tem.

– Quanto mais pessoal for o meu trabalho, maior é a possibilidade de ele se comunicar com muita gente – afirmou Marisa.

Seguindo essa linha, O que Você Quer Saber de Verdade é acessível e universal. Dos primeiros versos da faixa-título (veja ao lado) ao último suspiro de Bem Aqui, é um trabalho marcado pelo otimismo e a simplicidade – e, nesse aspecto, Roberto Carlos é a referência mais evidente. Disse Marisa:

– As canções mais populares sempre surgiram como um convite para trazer essas pessoas para dentro de um universo ou mais profundo, ou mais sofisticado.

A sofisticação se traduz, por exemplo, no bandoneon tangueiro do conjunto Café de los Maestros (em Lencinho Querido, regravação de Dalva de Oliveira arranjada pelo argentino Gustavo Santaolalla, vencedor de dois Oscar e cabeça pensante por trás do Bajofondo). Mas a essência de O que Você Quer Saber de Verdade é certeira e velha conhecida: o trio Marisa, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, por trás de 10 das 14 faixas. Nesse sentido, a artista segue transitando pelo terreno em que fincou os pés na década de 1990, quando estabeleceu as primeiras parcerias com a dupla que, em 2002, formou com ela Os Tribalistas.

Deve-se dizer que o CD aposta em gente nova: do reconhecido hermano Rodrigo Amarante – parceria na composição e execução de O que Se Quer -, passando pela revelação Marcelo Jeneci em Hoje Eu Não Saio, Não e pelo pouco conhecido André Carvalho em Nada Tudo. São eles, somados à banda de apoio (formada por músicos da Nação Zumbi) e aos arranjadores de primeira linha, que injetam novidade em O que Você Quer Saber de Verdade.

Espera-se mais de Marisa Monte, justamente porque ela abriu espaço para um certo inconformismo no cenário de cantoras de MPB – o rústico carvão sobre o mainstream cor de rosa, como no título de seu Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão (1994). Agora, em vez de desconcertar o ouvinte, faz carícias – como parece ter sido a intenção.