Os professores de filosofia Mário Sérgio Cortella e Clóvis de Barros Silva protagonizaram duas horas e 20 minutos de ensinamentos e reflexões sobre aspectos de valores morais; cidadania, política, liderança; e de como é complexa a transição civilizatória em períodos caóticos e de mudanças velozes. Mais de duas mil pessoas superlotaram o auditório da Expoville, em Joinville, na quarta-feira. O evento foi promovido pela Ajorpeme.
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Cortella foi cirúrgico ao analisar o momento atual da cena política e econômica nacional: democracia, imprensa livre e plataformas digitais são decisivos na construção de nossa história, resumiu. Confira uma sítese das reflexões feitas por ele
Virtudes
A virtude mais necessária, atualmente, é a da coragem. Importante compreender que coragem não é ausência de medo. E, sim, a capacidade para enfrentá-lo. Não confunda medo com pânico. O medo te defende; o pânico te paralisa. Outra virtude importante é a do exercício da paciência. Paciência não é lerdeza. Nossa democracia tem 30 anos, a partir da Constituição de 1988, e nos impacientamos com ela. Os ingleses me explicaram que a construção da democracia demora 400 anos. Um povo precisa ter paciência. O mundo contemporâneo é extremamente veloz. Os mais jovens não têm paciência. Na agricultura e na culinária é necessário paciência. Sem ela, os alimentos que nos chegam à mesa não estariam bem preparados.
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Crises
Já tivemos crises maiores do que a atual. Ela não é inédita. Nos anos 80, a inflação chegou a 3 mil por cento ao ano. Os preços mudavam várias vezes por dia. Não devemos nos impressionar demais com a crise econômica atual. Mas, também, não a minimizemos. O fato de agora é que nunca tivemos uma crise tão complexa como a atual, porque há o fator da instabilidade política. Uma presidente afastada, um presidente interino sob suspeição, um ex-presidente da Câmara de Deputados corrupto, um presidente do Senado sendo observado.
Olimpíadas
Teremos ótimas Olimpíadas, mas elas ocorrem em época errada. Quando o Rio ganhou a indicação para o evento, a economia estava bem. Mudou tudo. Nosso país mudou tanto, que a Seleção perdeu vários campeonatos e nós nem nos importamos mais. As Olimpíadas são um evento de congraçamento pela paz mundial, e colocamos 40 mil policiais nas ruas. Que contradição!
Memória
Os jovens, de 20 anos, não conhecem a história do País. Meus alunos de hoje não conheceram os Mamonas Assassinas. Para eles, o atentado às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, é história sem memória. Em dezembro de 1991, ganhamos o último campeonato de Fórmula 1. Ayrton Senna não conheceu a internet. A União Soviética ainda existia. E Collor era presidente do Brasil. Nem havia carros importados.
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Internet
A internet mudou as relações sociais. E a cobrança de clientes com fornecedores. Mudou, até, a interação entre médico e paciente. O paciente olha no Google e confronta falas e recomendações de médicos. Impossível isto há 20 anos.
Telégrafo
A geração atual, de menos de 20 anos de idade, reinventou o telégrafo. Só usa mensagem por WhatsApp. As pessoas não falam mais entre si. Desaprenderam a se comunicar oralmente.
Dúvidas
Cuidado com gente que não tem dúvidas. A ciência só avança com a dúvida. O País está dividido. De que lado você está? É a frase que começa qualquer diálogo. Assim, não se permite o diálogo. Preste atenção em quem não concorda contigo. Discordar é sinal de afeto. Você não tem de gostar das pessoas; tem de respeitá-las.
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