Em meio ao Centro movimentado de Blumenau, um pedaço de área verde pode passar despercebido aos olhos de quem trafega pela Rua 7 de Setembro diariamente. A cerca de 300 metros do barulho dos carros e buzinas, a realidade sossegada da Mata Atlântica parece abrir portas para um mundo que desacelera diante da diversidade de animais e plantas no local.
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Uma outra forma de vida esconde-se no Parque São Francisco de Assis.
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Durante os quase 30 anos de existência deste espaço, já foram encontradas 160 espécies de aves, 18 de anfíbios anuros — como sapos — e ao menos 22 mamíferos. A fauna presente na região é flagrada pelas armadilhas fotográficas, que são instaladas em pontos específicos da floresta. Preferencialmente em locais onde há pegadas e evidências de que algum animal visitou a região.
— A gente teve um registro bem legal do gato-mourisco, que é um felino que está bem ameaçado por causa da perda do habitat, e fazia uns cinco anos que não tinha registro dele aqui no parque. E a gente conseguiu esse registro bem recentemente — conta a estagiária do local, Melanie Cardoso.
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A jovem explica que outras espécies raras também são filmadas pelas câmeras espalhadas dentro do espaço. É o caso do gavião-pombo-pequeno, uma ave considerada “vulnerável à extinção” no Brasil e no mundo, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
Para o professor de botânica, André Luís de Gasper, o Parque São Francisco de Assis funciona como um abrigo para os animais e outros seres vivos que se desenvolvem na floresta. Por conta da urbanização, o local vira uma espécie de refúgio em uma região improvável da cidade.
— É uma unidade de conservação urbana e ela tem uma função primordial que é proteger a biodiversidade, proteger os organismos que lá vivem. As plantas sempre estão lá, mas também tem uma função importante para a fauna que circula naquela região — ressalta.

Além de ser casa para espécies que não são vistas com tanta frequência por quem visita ou trabalha no local, o parque também se torna o lar de animais “populares”. Não é raro encontrar, durante um passeio pela floresta, cutias ou quatis pelo caminho, por exemplo.
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— Aqui nós temos um shopping ao ar livre. Você tem tranquilidade e os animais que são soltos aqui. Não tem nada em cativeiro. Eles estão aqui por vontade própria, porque aqui é o habitat deles — comenta o gerente das unidades de conservação de Blumenau, Vanderlei Balduzzi.
A biodiversidade que salva vidas
Os animais também não são os únicos seres vivos que chamam a atenção no parque. Junto com eles, as plantas se destacam pelos benefícios que proporcionam à saúde dos humanos. É o que explica o professor de botânica, André Gasper. De acordo com ele, a riqueza na vegetação impressiona.
Além de ervas e epífitas — como samambaias, orquídeas e bromélias — são mais de 200 espécies de árvores em um só lugar. Algumas, inclusive, ameaçadas de extinção, como o palmito e a bicuíba.
Essa diversidade é ideal para quem deseja desenvolver estudos na área. Por isso, é comum, segundo Gasper, que alunos e professores procurem o parque para produzir TCCs, teses de mestrado ou doutorado.
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— Quando você pega uma infecção, o que você costuma tomar de remédio? Antibiótico, né? O antibiótico veio da onde? Da penicilina. A penicilina é um fungo. Então a gente consegue produzir medicamentos porque a gente busca na natureza, na biodiversidade, os compostos necessários para serem usados como remédio ou como cosmético também — finaliza André.

História e visitação
Atualmente, o parque reúne a maior área contínua de Mata Atlântica da região central de Blumenau. Há quase 30 anos atrás, antes de ser um local cedido à prefeitura, as terras pertenciam à comunidade franciscana, conforme explica o gerente das unidades de conservação, Vanderlei Balduzzi.
— Em 1995, a província franciscana fez a doação dessa parte pra gente com o intuito de preservar essa área que são 21 hectares. E aí a Lei 99 de 1995 nomeou isso aqui como Parque Municipal São Francisco de Assis — conta.
O professor Lauro Bacca também relembra, com carinho, dos primeiros contatos que teve com o espaço. Ressalta que participou das conversas iniciais na prefeitura, quando ainda decidiam o futuro dessa área, já que, na época, atuava como assessor de Meio Ambiente na cidade.
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— Antes de tudo isso, eu pude estar aqui com o Frei Odorico Durieux. Ele foi me mostrando o tal do campinho. Se ele não tivesse me mostrado, talvez ninguém saberia que ali havia um pequeno campo de pelada. E hoje é floresta — comenta.

O local, que guarda tanta história e biodiversidade, é aberto ao público, que pode optar pela visita autoguiada ou por trilha com acompanhamento. Na primeira opção, de acordo com o guarda do parque, Jailson Batschauer, a pessoa chega até a recepção e faz o percurso sozinha. Como há placas de identificação durante o trajeto, não há perigo de se perder dentro da floresta.
A outra modalidade ocorre através de um sistema da prefeitura, onde profissionais acompanham os visitantes pelas trilhas. A escolha parte, geralmente, de grupos de escolas que procuram o espaço em busca de educação ambiental.
O parque funciona de terça a domingo, das 8h às 12h e das 13h às 17h. Também permanece fechado em dias de chuva, por motivos de segurança. A entrada é gratuita, com estacionamento sem custos.
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Com informações de Felipe Sales, NSC TV
*Estagiária sob supervisão de Augusto Ittner
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