– A vida é esse barato, você ganha 80 anos dela e ainda reclama! – diz Ziraldo, ao telefone. Enquanto conversa com a reportagem de ZH sobre as oito décadas de vida que completa nesta quarta-feira (24/10), o cartunista, chargista, jornalista e dramaturgo esbanja vitalidade.

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Ao saber que preparamos cards com frases conhecidas de sua autoria, para os leitores de ZH compartilharem no Facebook, dispara:

– Você botou “ler é mais importante que estudar“? Essa é minha frase mais importante! – dispara, antes de passar a analisar os ditos escolhidos pela equipe do Segundo Caderno:

– Esta de “o livro alimenta a alma” é meio autoajuda, mas é verdade. Tanto que sugeri ao governo botar livro na cesta básica! Mas vou te dar outra frase boa: a palavra é o átomo da alma.

Para os 80 anos, o homem que teve a sensibilidade de criar o Menino Maluquinho e a audácia de manter publicações como O Pasquim e Bundas, diz ter bolado uma frase nova:

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– A natureza seria realmente sábia se a cabeça do homem envelhecesse junto com o corpo.

Justiça seja feita: se não dissesse que cinco stents garantem o funcionamento de seus vasos sanguíneos, ninguém imaginaria. Ainda na ativa, Ziraldo passa o dia no estúdio desenhando. Mas não esconde que seu filho preferido é uma criação que já acumula algumas décadas de vida:

– Meu pai tinha oito filhos e gostava de todos, mas eu era o que dava mais alegria para ele. Então é assim: eu gosto de todos meus personagens, mas o que mais me deu alegria é o Menino Maluquinho.

Confira os cards criados pelo Segundo Caderno e compartilhe no Facebook!

Viagem a Caratinga

No dia em que completa 80 anos, Ziraldo encara uma missão e tanto: cumprir com a família oito as horas de viagem que separam o Rio de Janeiro de Caratinga, cidade mineira onde nasceu. De ônibus.

– É um ônibus da minha terra, (da viação) São Geraldo, cujo nome homenageia meu pai! – diz, exultante.

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Seu Geraldo (cujo nome, junto ao de dona Zizinha, forneceu as partes formadoras do nome do filho, Ziraldo) era gerente de banco e “ajudou os primeiros donos de empresas de ônibus com financiamentos”. De certa forma, diz o cartunista, Geraldo ajudou a fazer de Caratinga uma potência.

– Teve época que metade do transporte de gente do Brasil era de Caratinga! – diz ele. Presume-se que seja um bom passageiro.

– A gente vai cantando daqui até lá. Vai ser uma festa. Vai ter parada escolar lá. Cinco mil estudantes. Vou me divertir e me emocionar muito. O povo da minha cidade é muito carinhoso com seus filhos. Você imagina que fizeram uma estátua de Menino Maluquinho com 12 metros de altura! – diz, antes da autopiada: – Mas é engraçado, a escolinha particular lá se chama Mônica! (risos)

Segundo Ziraldo, os conterrâneos conhecidos não são poucos: Miriam Leitão, Ruy Castro, Agnaldo Timóteo e Graça Foster.

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De ‘Avenida Brasil’ a mensalão

Ziraldo tem uma carreira singular, ligada ao jornalismo, à oposição à ditadura e à literatura. Ele falou ao telefone durante 30 minutos sobre temas tão diversos como família e mensalão. E comentou sua admiração por Carminha, a vilã vivida por Adriana Esteves em Avenida Brasil.

– Como construção de personagem, acho a Emília (de Monteiro Lobato) e a Rê Bordosa (de Angeli) os personagens mais fantásticos da literatura. Agora, a TV coloca nessa galeria um personagem que nenhum dramaturgo havia conseguido fazer, uma personagem tão inesquecível. Que complexa! – diz o cartunista.

Das telas ficcionais para a cobertura midiática do julgamento do mensalão, Ziraldo muda o tom: acha que os ministros do STF foram expostos demais e que nenhum grande julgamento no mundo é transmitido na íntegra e com tamanha amplitude.

– Não é que os caras que estão sendo julgados não mereçam passar pelo constrangimento, todos merecem ser expostos! – pondera, sem, no entanto, abrir mão da crítica aos “julgadores de ego inchado” e de um certo ceticismo: – O pessoal fica achando que essas coisas vão inaugurar uma nova fase no Brasil, no Impeachment já foi assim, e mudou coisa nenhuma!

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