Questões de natureza econômica ou política não podem prevalecer sobre a proteção de seres humanos.

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É difícil de entender a hesitação do ministro Guido Mantega em relação à entrada em vigor da exigência de airbag e freios ABS nos veículos novos fabricados no país. O governo teme que a obrigatoriedade dos equipamentos, somada à retomada do Imposto sobre Produtos Industrializados, possa provocar aumento de preços nos automóveis, mexer com a inflação, provocar desemprego e – isso ninguém admite oficialmente – causar prejuízos eleitorais aos atuais ocupantes do poder. Por isso, e também por pressão de fabricantes e metalúrgicos, o ministro da Fazenda admite adiar a medida para 2016. Do ponto de vista da segurança, é um verdadeiro absurdo, especialmente num país que contabiliza 50 mil mortes por ano no trânsito.

Quantas vidas mais serão perdidas nos dois anos de tolerância pretendidos para a instalação dos equipamentos protetores? Ora, o cinto de segurança e a cadeirinha para crianças também elevaram o custo dos veículos para os usuários – mas as vidas salvas desde que foram adotados não têm preço. Questões de natureza econômica ou política não podem prevalecer sobre a proteção de seres humanos. Médicos e especialistas em segurança do trânsito dizem que airbags evitam contusões torácicas graves na maioria das colisões.

Em países desenvolvidos, o equipamento já é obrigatório há vários anos. No Brasil, estabeleceu-se um cronograma para a obrigatoriedade: 8% dos veículos novos em 2010, 60% até 2012 e 100% a partir de 1º de janeiro de 2014. Agora, o governo planeja o descumprimento da própria decisão. Ainda há tempo, porém, para uma reconsideração. Este é um daqueles casos que merecem mobilização da sociedade e manifestação pelas redes sociais, pois a implantação dos equipamentos de segurança nos veículos não interessa apenas aos fabricantes e aos trabalhadores da indústria automobilística. Interessa a todos.

Se o airbag protege essencialmente condutores e passageiros, o freio ABS aumenta a segurança dos tripulantes e também dos pedestres, pois impede o veículo de derrapagem no momento de uma parada brusca. Não há por que perder mais tempo neste aperfeiçoamento dos carros fabricados no Brasil.

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Uma vida vale muito – e, por isso, itens de segurança comprovadamente eficazes não podem ser negociados como opcionais. Já estamos atrasados na implantação desta medida. E o governo não pode ter dúvida de que o seu adiamento por motivações eleitorais acabará resultando em prejuízo maior para a sua imagem, até mesmo porque o retrocesso tende a ser lembrado cada vez que ocorrer um acidente grave nas estradas do país.