Nunca vai acontecer conosco, é uma certeza que temos sobre tudo. Não vamos escorregar no rochedo, mesmo estando de chinelos. Não vamos bater o carro, mesmo estando ao celular. Não vamos perder a mão soltando foguetes, mesmo sem saber ao certo como se acende o equipamento. Não vamos nos afogar, pois sabemos nadar…

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Com base em dezenas de certezas incertas como essas, o Grupo RBS, o Ministério Público de Santa Catarina, a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Rodoviária Federal lançaram em novembro do ano passado a campanha Uma Vida Vale Muito. Entre os discursos, editoriais e entrevistas da época ressaltava-se uma unanimidade de desejos: se uma vida for salva a partir do alerta desta bandeira, todo o esforço terá valido a pena.

Não criamos fórmulas para mensurar resultados. Além de ser impossível calcular, jamais foi este o objetivo. A ideia era mostrar que vidas podem ser poupadas com pequenos gestos, como colocar um colete salva-vida na hora de entrar num barco, não se arriscar em açudes ou em praias com bandeira vermelha, conferir o estado dos pneus do carro, usar o cinto de segurança, não andar acima dos limites de velocidade, não falar ao celular ao volante, checar se a rede elétrica da casa está em perfeito estado, só utilizar velas em caso de extrema necessidade e com muito cuidado etc etc etc.

Neste penúltimo domingo de verão sinto que a campanha ganha em Santa Catarina um símbolo involuntário: o garoto de 13 anos resgatado por três guarda-vidas em Bombinhas há 15 dias e cuja ação, ao ser filmada, ganhou repercussão internacional. Ao encontrar os braços de um dos heróis do mar, Enzo se abraçou ao guarda-vidas Ricardo Martins e, como se fosse seu último suspiro, implorou:

– Me tira daqui… não me deixa morrer.

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É com muita emoção que o Diário Catarinense deste domingo consegue contar esta história com final feliz, nas páginas 4 e 5.

Temos certeza de que Enzo e seus familiares não pretendem ser símbolos de nada, muito menos de uma campanha na qual todos os acontecimentos são tristes. Mas ao driblar uma confusão de sentimentos e dar um depoimento franco, o pai do garoto presta um serviço inestimável a milhares de outros pais. As frases dramáticas do empresário Israel Martins certamente ajudarão muitas famílias. Centenas de reportagens que priorizam temas como segurança e redução de riscos têm chamado a atenção, desde 12 de novembro, para o quanto é vital prevenir, o quanto é imprescindível difundir a cultura da prevenção. Mas nada tem tanto valor quanto o valor dado por quem quase sofreu a dor da perda.

– Antes disso, eu não enxergava a importância desses profissionais – disse o pai, grato aos guarda-vidas que lhe devolveram à vida.

– O que aconteceu (com Enzo) fez com que eu mudasse hábitos de nossa rotina. É só isso que a campanha deseja.

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