A reitora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Roselane Neckel, diz que a Polícia Federal (PF) agiu de forma intransigente com estudantes, professores e o restante da comunidade acadêmica na tarde desta terça-feira. Ela critiou a ação policial e nega que tenha tido qualquer conhecimento sobre a operação que resultou num confronto entre universitários e a força policia.
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>> Confronto entre estudantes e policiais transforma UFSC em campo de guerra
DC – Quais são as medidas que a universidade vai tomar a partir de agora?
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Roselane Neckel – Nós estamos aqui produzindo uma nota e um relatório circunstancial falando sobre a questão de hoje (terça-feira). A UFSC foi surpreendida por uma ação violenta e desnecessário por parte da PF que feriu profundamente a autonomia universitária e os direitos humanos. Em vários momentos, em várias ocasiões, tentamos diálogos tanto com a PM e com a PF e dissemos que quaisquer ações que envolvam diligências com este perfil precisam ser imediatamente comunicadas à reitoria. Isso não foi feito. Não fomos informados da ação. Fomos informados por terceiros no momento em que eu estava em uma reunião e imediatamente liguei ao superintendente da PF em exercício, Paulo Cassiano Junior. Solicitei esclarecimentos sobre a ação e informei a ele o estranhamento a respeito de uma ação com camburões, cachorros e armamentos pesado a 200 metros do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI), onde ficam crianças, que inclusive sofreram com o gás de pimenta lançados pelos policiais.
DC – Então a universidade não tinha nenhuma informação a respeito da ação?
Roselane – Não. Não deveria ser feita nenhuma ação policial dentro do campus. As ações deveriam ser feitas onde está o problema social e que a dentro da UFSC circulam milhares de pessoas. Nós não poderíamos ter a repetição de atos cometidos anteriormente que colocaram em risco a vida de crianças, estudantes, professores. Quando você tem o combate ao tráfico de drogas tem os traficantes, que também podem reagir. Imagine o que poderia acontecer se traficantes resolvem reagir dentro da universidade?
DC- A senhora encaminhou algum pedido para que houvesse combate ao tráfico de drogas na universidade?
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Roselane – Fui intimada pela PF que solicitou informações a partir de uma denúncia anônima em relação ao uso de drogas nas imediações do NDI. Eu fui intimada a depor como gestora a respeito das providências que estavam sendo tomadas em relação à essa situação. Foi colocado um questionamento sobre nossa posição quanto ao uso de drogas ali. Então dissemos que reconhecemos o problema social que é a questão das drogas, no entanto acreditamos que a PF tem condições de monitorar o tráfico de drogas dentro da UFSC, como quaisquer outro espaço em Florianópolis, e valorizar operações que combatam os traficantes, mas que preservem a tranquilidade da universidade.
Confira no vídeo o momento que a PM usa gás e bomba de efeito moral:
DC – E quais ações preventivas hoje a UFSC tem com relação as drogas?
Roselane – O que foi colocado é um programa que a nossa pró-reitoria de assuntos estudantis está fazendo que é um projeto contra o uso abusivo de drogas. Inclusive a UFSC hoje é responsável por um programa junto ao governo federal de capacitação e conselheiros municipais. As nossas práticas são educativas, não são repressoras, isso não nos cabe. Mas cabe sim proteger a comunidade de ações que coloquem em risco a vida das pessoas. Essa era nossa apreensão que foi dita para as polícias Federal e Militar. Nós tínhamos sim um diálogo, mas no sentido que a PF deveria apenas fazer um monitoramento. Mas para que qualquer ações que envolvam armamentos não acontecessem no campus da UFSC.
DC – A senhora entrou em contato com a PM quando a confusão começou?
Roselane – Não. Eu na verdade recebi informação do tumulto e liguei para o superintendente da PF para saber o que estava acontecendo, pois eu não havia sido comunicada de nada sobre a operação. Quando eu fui comunicada por terceiros, desesperados com o que estavam acontecendo, e com o tamanho da operação. A PM é que me ligou para me informar que havia sido solicitada e que havia estranhado este tipo de ação.
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DC- Qual tipo de documento a senhora pretende encaminhar para Brasília a partir desta quarta-feira?
Roselane – Estamos buscando todos os relatos que foram colocados pelos estudantes e pelos que estavam presentes lá. Nós temos aí vários depoimentos que precisamos registrar com relação à essa situação para que possamos fazer a melhor análise. Agora é indubitável o registro da intransigência da PF em mediar o conflito.
DC – Onde a senhora estava durante a confusão?
Neckel – Eu estava no gabinete da reitoria e estava negociando com outras instâncias do governo federal diante da percepção de que o diálogo que estava sendo realizado pela nossa equipe junto ao superintendente da PF não iria ter sucesso. Eu estava no gabinete da reitoria e logo depois nós saímos porque havia outra reunião agendada, inclusive avaliamos a situação em outro espaço que não era na UFSC. Também para que pudéssemos pensar com calma tudo que havia acontecido.
Em imagens o confronto entre estudantes e polícia: