Quase sempre, o mecânico Rogério Cardoso da Silva, 21 anos, não consegue vencer o sono na hora de voltar para casa, em Sombrio, depois das aulas do curso técnico em química, que faz em Criciúma. Pudera, o dia costuma ser cheio desde cedo, na oficina de máquinas de costura onde trabalha em Santa Rosa do Sul. Dorme tanto que, não raro, acaba passando do ponto certo em que precisa desembarcar.

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Mas naquela noite, não. Diferente das outras, Rogério voltava para casa animado, conversando com um colega. E junto com outras duas meninas, desceu no acostamento da BR-101, próximo ao Restaurante Japonês. Caminhava às margens da rodovia quando o veículo passou por ele, retomando a viagem. Foi quando aconteceu.

O ônibus voltava para o asfalto, o caminhão que vinha atrás em alta velocidade não conseguiu parar e o choque foi inevitável. A cinco metros de distância, Rogério sentiu todo o corpo paralisar. Não sabia o que fazer. Não pensava em nada. Não conseguia reagir.

Não sabia nem para onde ligar, quando voltou a si e se deu conta do que havia acontecido. Ele correu e, no meio da corrida, pegou o celular e ligou para o 193 quase que automaticamente. Na tensão do momento, nem sequer sabia se estava ligando para o número certo – não sabia nem aonde daria a ligação. Mas assim que um bombeiro atendeu, avisou do acidente e pediu ajuda.

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– Foi tão violento que a traseira do ônibus chegou a erguer. Dava para passar por baixo dele – contou.

Enquanto o socorro não chegava, Rogério ajudou como pode. Puxou pela mão as pessoas ensanguentadas que, sem forças, tentavam sair da parte de baixo do veículo e se desvencilhar das ferragens e tentou acalmar aquelas que choravam copiosamente.

Sabia que o acidente que se materializou ali na frente era grave, mas só no dia seguinte se deu conta do quanto: 22 pessoas feridas, a maioria universitários que voltavam para casa, e uma menina de seis anos, que estava com os pais, morreu. Riselli Silveira Bitencourt está sendo velada em Santa Rosa do Sul e será sepultada na noite desta quarta-feira.

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A Delegacia de Polícia Civil de Sombrio irá investigar as circunstâncias do acidente. O inquérito deve ser instaurado nos próximos dias.

– Foi um milagre de Deus eu ter escapado ileso. Não há explicação. É um milagre eu ter desembarcado um segundo antes e não ter adormecido para ficar ali – conclui.