Em 27 de março do ano passado, o mundo assistiu a uma das imagens mais emblemáticas da pandemia do novo coronavírus. Naquele dia, o Papa Francisco rezou sozinho na imensa Praça São Pedro. Foi a primeira vez na história milenar da Igreja católica em que um papa orou solitário, deu a bênção e a indulgência plenária ao mundo pelo fim da peste que só no Brasil tirou a vida de 270 mil pessoas.

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Cinquenta dias depois da Páscoa, em maio, na festa de Pentecostes, Francisco dizia que “Quando sairmos dessa pandemia, não poderemos continuar fazendo o que temos feito e nem da forma que estávamos fazendo. Não, tudo será diferente”. O Patriarca Bartolomeu, de Constantinopla, também se manifestou cheio de esperança de que a pandemia ajudaria o mundo positivamente: “Esta provação é para nós a oportunidade de mudarmos para melhor”, destacou o chefe da Igreja Ortodoxa da Turquia.

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Também o líder espiritual do Tibete, Dalai Lama, apostou numa lição de responsabilidade universal. Prêmio Nobel da Paz em 1989, ele defendeu os valores da compaixão e de apoio mútuo e disse que a resposta deveria ser com atitudes de humanidade.

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Um ano depois da chegada da pandemia a Santa Catarina, onde pelo menos 8 mil pessoas morreram em consequência da Covid-19, a gente se pergunta: estarão certos os influentes líderes religiosos, assim como tantos outros que acreditam nesta capacidade de regeneração da humanidade? Será que a pandemia e tudo que ela impõe – distanciamento social, solidão, doença, mortes, crise na economia, desemprego – nos fez melhorar como pessoas? 

– A pandemia é uma crise coletiva que impacta todas as pessoas, mas ao mesmo tempo de uma forma particular. Isso faz com que cada um reaja diferente ao momento doloroso que a humanidade atravessa. Enquanto uns percebem a questão coletiva, outros seguem olhando de forma individual e perdem a oportunidade de crescimento – avalia o psicólogo Rossandro Klinjey.

Em vídeo, Rossandro Klinjey comenta sobre o comportamento das pessoas na pandemia:

Ele é também escritor e palestrante conhecido pelos comentários sobre comportamento, educação e relacionamentos no programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo, e no seu canal no Youtube e no Instagram. Ele complementa o raciocínio: 

– As crises têm um caráter pedagógico e isso é doloroso. Mas se dói tanto, como acontece atualmente com todos, porque não sairmos transformados desta situação? Por que não aproveitar e construir valores que não tínhamos antes? – pergunta.

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Para o psicólogo, este é o propósito das crises e das dores humanas: diante da dor experimentada podemos ter mais compaixão e empatia pela outra pessoa, pelo sofrimento do outro, reinventar o nosso lado melhor. Mesmo assim, nem tudo está perdido: 

– Se por acaso a gente tem ainda um lado sombrio, não devemos nos culpar e sim nos responsabilizar e nos transformar. Só assim a gente vai aprender com esta crise – pontua.

“É um momento de servir, de estender a mão”, afirma filósofo Clóvis de Barros Filho

O homem sairá transformado da pandemia. Se melhor ou pior, depende da referência. É o que diz o filósofo Clóvis de Barros Filho autor do livro “Despertar Inspirado”, em parceria com a Monja Coen Roshi, e onde ele faz uma sequência de reflexões diárias, movido pela reclusão e a necessidade de se manter inspirado, e complementadas por comentários da monja. 

– Prefiro falar não do “quando tudo voltar ao normal”, mas do agora, do presente, de onde a vida está. Temos diante de nós este momento, o qual depende de nós e de nos darmos conta do quinhão de existência que está nas mãos do acaso – diz Barros Filho.

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Clóvis de Barros Filho fala sobre o momento de nos aperfeiçoarmos durante a pandemia no vídeo a seguir:

Para filósofo, o momento é rico para que as pessoas possam se aperfeiçoar e buscar uma vida mais autêntica. 

– O momento é bom para avaliarmos os limites da nossa perfeição. É um momento de servir, de estender a mão. 

Já a líder espiritual budista de maior prestígio no Brasil, monja Coen, considera que uma tragédia social pode também ser um momento de avaliar a vida, a sociedade e encontrar uma chance de reconexão e realinhamento. Neste contexto, a resiliência é muito importante: 

– Não podemos desistir nem de nós mesmos, nem do mundo. O que estamos precisando neste momento é dar foco naquilo que é benéfico.

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“O cuidado sara as feridas passadas e impede que no futuro tenhamos outras”, diz teólogo

Para o catarinense Leonardo Boff, teólogo e um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação no mundo, é tempo de se criar a cultura da fraternidade sem fronteiras, e do cuidado necessário que a tudo envolve. Como pessoas somos todos interdependentes e devemos nos cuidar.

O cuidado implica numa relação afetuosa para com as pessoas e para com a natureza; é amigo da vida, protege e confere paz a todos que estão à sua volta. 

– Cuidar de todas as coisas, desde o nosso corpo, da nossa psique, do nosso espírito, dos outros e mais comezinhamente do lixo de nossas casas, das águas, das florestas, dos solos, dos animais, de uns e de outros, começando pelos mais vulneráveis. 

O estudioso nascido em Concórdia, no Oeste do Estado, observa que o isolamento social trazido pela pandemia despertou a humanidade de um sono profundo. Sem que os homens tivessem programado, eles começaram a ouvir os gritos da Terra e os gritos dos pobres e a necessidade do cuidado de uns para com os outros e também da natureza e da Mãe Terra. 

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– Sabemos que tudo o que amamos, cuidamos, e tudo o que cuidamos também amamos. O cuidado sara as feridas passadas e impede que no futuro tenhamos outras – conclui.

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