CAROLINA WANZUITA

Voz que comanda o Redação Globo, programa de rádio da 95.3 FM que aciona as maiores redações do Grupo Globo para levar informações ao ouvinte de segunda à sexta-feira, às 17h, Rosana Jatobá fala sobre os desafios do Jornalismo diário. Confira os principais trechos da entrevista:

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Como foi essa transição do Direito para o Jornalismo? Aconteceu de forma natural?

Eu venho de uma família de juristas e sempre fui muito estimulada a discutir essas questões. Mas desde cedo eu tinha uma pré-disposição para me expressar bem e escrever bem. Resolvi então prestar o vestibular para os dois cursos, comecei a cursar os dois paralelamente. Mas tive que trancar o Jornalismo para fazer estágio da OAB. Depois que me formei em Direito e prestei concurso para o Ministério Público Federal, eu tinha um turno livre para terminar a faculdade de Jornalismo e foi isso o que fiz. Antes de terminar o curso consegui um estágio na TV Bandeirantes e aí me apaixonei completamente pelo Jornalismo a ponto de pedir exoneração da Procuradoria para me dedicar somente a ele. Isso coincidiu com minha vinda a São Paulo, antes eu era repórter em Salvador, na Band.

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O que a bagagem do Direito trouxe para o Jornalismo?

Ajuda muito. Comecei como repórter de rua e todas as vezes que tinha matéria jurídica eles me chamavam para fazer por causa desse traquejo nessa área. Mas não só em relação ao conteúdo que você acumula quando estuda Direito, mas pela maneira como você consegue fazer uma análise mais abrangente de outras disciplinas. O Direito dá essa base para fazer essas relações com mais facilidade. Você adquire noções de cidadania e direitos humanos, necessárias para qualquer profissão e para ser cidadão acima de tudo.

Essa onda saudosista do regime militar, que estamos acompanhando no Brasil, deixa você preocupada em relação à liberdade de imprensa?

Muito preocupada. Mas ao mesmo tempo entendo que hoje tem um clima de desesperança e de cansaço tão grande que as pessoas, para se livrar dessa sensação de insegurança, crise econômica e desemprego acabam dando outra dimensão ao que é democracia. Na minha época lembro que estudamos educação moral e cívica e organização social política brasileira, a gente tinha uma formação focada em lidar com temas de cidadania, exatamente no contrafluxo do que representou a ditadura. Era uma necessidade que a gente teve de alertar para os riscos de retroceder para um regime que só fez mal ao nosso país. Quando vejo amigos ou familiares tendo essa inclinação para o autoritarismo me preocupa muito, mas ao mesmo tempo procuro entender as razões, porque vivemos num estado de desordem tão grande que de alguma maneira se justifica esse sentimento das pessoas.

O que você acha de precisa ser feito então?

Acho que (a sociedade) precisa de conscientização para as pessoas realmente entenderem o que foi aquele período, os riscos que ele trouxe não só para as famílias envolvidas, mas o que isso representa para o amadurecimento da democracia, para a vulnerabilidade de um regime. Com relação à imprensa, isso me preocupa ainda mais, porque um dos canais que são interceptados é a liberdade de expressão, é um dos primeiros que sofrem retaliações quando se põe contrariamente ao que está determinado pelo poder.

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