Uma sociedade que não ensina é uma sociedade que não se ama, que não se estima; e este é precisamente o caso da sociedade moderna, como bem expressa Perrenoud (2000).

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Parece cada vez menos razoável negar a dimensão educativa do trabalho docente, mas seria absurdo quanto injusto, esperar dos professores virtudes educativas maiores do que a sociedade lhes confere a incumbência, a responsabilidade de ensinar.

E, é nesse âmbito que lhes cobram as competências; professores competentes; profissionais competentes. E sem dúvida surgem os questionamentos: como ser competente em espaços, ambientes da sociedade com demonstração de atos e atitudes de violência, presentes em todos os setores?

O próprio conceito de competência mereceria longas discussões. Esse assunto suscita já alguns anos inúmeros trabalhos, juntamente com os saberes de experiência e saberes de ação, tanto no mundo do trabalho e da formação profissional, como na instituição “escola”.

Em vários países tende-se igualmente a orientar o currículo para a construção de competência, desde os primeiros anos de escolaridade. Mas, a competência traduz a capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar esse tipo de situação. Essa noção de competência está estritamente relacionada a quatro aspectos: a) as competências não são elas mesmas os saberes ou atitudes, mas mobilizam os recursos necessários para uma determinada situação; b) cada situação é peculiar, específica e exige determinados recursos; c) o exercício da competência passa por operações mentais complexas, subtendidas por esquemas de pensamento; d) as competências profissionais constroem-se em formação; em situação de trabalho (ALTET, 1996, p. 38).

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Essa breve introdução parece indicar a complexidade de se ter competências, para enfrentar os problemas da sociedade atual: como as escolas, através da atuação de seus profissionais podem abarcar problemas complexos que se colocam no cotidiano escolar? O currículo com os diferentes conteúdos e abordagens; as exigências dos processos ensino e aprendizagem; a distância entre o uso do material escolar disponível e o avanço das tecnologias; as contradições enfrentadas por crianças e jovens que necessitam atendimentos especiais e direitos de igualdade; o crescente do uso de drogas; a violência doméstica; os atos e ações de violência escolar, entre outros desafios. Estamos preparados e temos competências para lidar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais?

Se de um lado há questionamentos sobre a qualidade da formação de pessoas, de profissionais, frente ao conjunto dessas dificuldades, há, por outro, a possibilidade de se buscar caminhos, minimizar as dificuldades e, muitas vezes, encontrar soluções.

Em uma sociedade de crise, a educação é um investimento assertivo, porém, é preciso que se criem situações que facilitem verdadeiras aprendizagens, tomada de consciência, construção de valores, de identidade; de uma educação coerente com a cidadania. É nessa direção que os gestores, professores e funcionários devem fazer investimento em sua formação, construir competências no exercício de sua atuação, mobilizando os recursos necessários para as diferentes situações. E como criar condições de um trabalho escolar competente, fecundo, no conjunto de disciplinas e conteúdos previstos em seus planejamentos? Algumas respostas podem ser encontradas na literatura nacional e estrangeira, nas pesquisas e estudos, nos cursos de capacitação. O que não se aceita hoje é reduzir a responsabilidade de ensinar, mesmo nesse complexo emaranhado de dilemas da vida humana e da mais difícil de todas as experiências: colocar-se diante do outro, o conviver com ele.

Luiza Elena L. Ribeiro do Valle e Maria José Viana Marinho de Mattos.

Autoras dos livros “Violência e educação – a sociedade criando alternativas” e “Adolescência – as contradições da idade”, ambos da Wak Editora.

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