Três defensores públicos caminham pelo corredor do Contêiner, ala onde está parte dos presos condenados do Presídio Regional de Blumenau. Pretendem ouvir um por um dos que ali estão. Parados à porta de uma das celas, aguardam os agentes da Força Nacional de Segurança retirar 17 homens do espaço destinado para oito. Pouco antes de todos saírem, um cano que fica no corredor rompe-se. Jorram fezes e urina. O dejeto escorre pelo corredor e chega às celas. O cheiro na ala, que já era forte, passa a ser insuportável. Com chinelo ou pés no chão, os detentos se apoiam nas paredes para evitar contato com os detritos. Mas não tem jeito. Sob a mira das armas dos agentes, pisam no chão infetado.

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_ É sempre assim. O pior é quando nossos filhos e esposas precisam passar por isto _ lamenta um dos detentos.

Assista ao vídeo que revela o cenário da pior unidade prisional de Santa Catarina, o Presídio Regional de Blumenau

Lembrar daquela cena e do fedor que o local exalava emociona a defensora pública estadual do Tocantins Letícia Amorim, coordenadora da Força Nacional de Defensores Públicos no Presídio Regional de Blumenau, entre 10 e 19 de abril deste ano. Ela chora e fala pausadamente ao recordar o que viveu nos dias em que passou pela unidade considerada por autoridades a pior de Santa Catarina. Antes mesmo de deixar Tocantins rumo a Blumenau, Letícia foi avisada por colegas de que veria aqui um retrato do caos. O grupo veio ao Estado por consequência dos atentados ocorridos em Santa Catarina em novembro de 2012 e fevereiro deste ano. A vistoria fez parte do pacote de ações que o Ministério da Justiça ofereceu ao governo para ajudar na contenção dos ataques.

Confira na galeria de fotos detalhes do interior do Presídio

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O relatório, que pede a desativação da unidade prisional de Blumenau _ já assegurada pelo Estado _ e detalha problemas encontrados em outras estruturas de Santa Catarina será apresentado ao Governo, em data a ser definida. O Santa teve acesso exclusivo ao documento e revela a seguir um cenário assustador no Presídio Regional de Blumenau, que explica por que a unidade acumula um histórico de fugas, princípios de motins e rebeliões _ como a ocorrida em outubro de 2011, quando um preso foi morto queimado.

_ Não há solução. Tem que fazer outro e modificar tudo. Mudar gestão, estrutura física, a cabeça das pessoas _ adverte Letícia.

Nos espaços do Centro de Observação e Triagem (COT) , ala feminina, semiaberto, ambulatório e cozinha, por exemplo, a situação é crítica: faltam vasos sanitários, chuveiros, pias; ratos e baratas circulam pelo chão; alimentos são guardados sem refrigeração; remédios ficam espalhados pelo chão e os presos dividem talheres, correndo o risco de se contaminarem.