Eles secaram.
Com todas as forças, eles nos secaram.
Fui ao Mercado del Puerto, certo de que lá poderia juntar três tarefas inadiáveis: ver o jogo do Brasil, perceber o comportamento dos uruguaios, já que dali sairia o adversário da Celeste numa eventual semifinal, e garantir uma boa matéria.
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Acertei na mosca em pleno voo.
Só não imaginava que a secação fosse tão fenomenal.
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Os garçons da Estancia del Porto, então, nossa! Eles praticamente deixaram de atender os fregueses. Eu mesmo tive o meu assado atirado ao prato. Quase foi ao chão a minha carne. O garçom me serviu no balcão sem tirar os olhos da TV.
Caía um holandês na área – ou melhor: um holandês se abaixava para ajeitar a chuteira – e ecoavam os gritos por todo o Mercado:
– Penal! Penal!
Falta – mais uma – cometida por Felipe Melo?
– Tarjeta! Tarjeta! Contra o Brasil no se puede tarjeta amarilla?
Aí o árbitro japonês mostra o cartão vermelho:
– Grande “Chino”, grande! Espetáculo, “Chino”!
A cada gol holandês, uma “ola” de palmas e gritos. Algumas transmissões recebiam a imagem antes, então a flauta começava no portão de entrada do Mercado, avançava segundos depois por outra casas de parrilla e só terminava quando a primeira TV já mostrava o reinício de jogo.
Um inferno.
Decidi perguntar para Juan Rios, 51 anos, 35 como assador do Mercado del Puerto, qual o motivo de tanta bronca com um time tão mediano como o de Dunga.
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– Se dá Brasil, teríamos dois inimigos na semifinal: o próprio Brasil, que sempre é o Brasil, e o juiz. O juiz sempre ajuda o Brasil. Contra a Holanda jogaremos só com a Holanda, um país que nunca ganhou nada. Nós somos maiores do que a Holanda. Nós já fomos campeões do mundo – explicou Rios, o líder dos secadores.
Era só escutar os gritos de alguém ao longe, virar o rosto e ver um uruguaio de punhos cerrados, todo sorridente, em júbilo com o conterrâneo ao lado, fazendo as contas de como seria melhor não cruzar com a Seleção Brasileira.
– Eles têm mais rivalidade com os argentinos de um modo geral, mas no futebol é parelho. Desde que cheguei aqui, é esta secação – testemunhou Júlio César Ferreira, gaúcho de Santa Maria que aguentou firme até o final.
Se secar ajuda a fazer um time perder, então os uruguaios tiveram grande participação na derrota brasileira para a Holanda.
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Tiveram, sim.