Eles passam horas em pé, com bandeiras em punho na tentativa de convencer eleitores de que o candidato de cada um é merecedor daquele voto. Uns são mais entusiasmados, outros preferem a discrição. Você já deve ter passado por eles, em alguma esquina ou cruzamento importante de Florianópolis, desde agosto, mas especialmente nos últimos dias, com a polarização dos bandeirinhas de Angela Amin (PP) e Gean Loureiro (PMDB) pelas ruas da Capital.
Continua depois da publicidade
Alguns portam camisetas e adesivos dos candidatos, mas a maioria segura bandeiras com o número de cada um na urna, o 11 da pepista e o 15 do peemedebista. Tem bandeirinha que é mais mecânico, evita movimentos largos e cumpre o serviço com cara de quem deseja logo sair dali. Outros, não. Cabos eleitorais que são, puxam conversa, acenam para motoristas, tremulam empolgados os panos “do nosso prefeito”, da “nossa prefeita”.
Entre esses personagens tradicionais do período eleitoral, há homens e mulheres, jovens e adultos em quantidade semelhante. Tem o desempregado, o que aproveita para engordar a renda com o bico, o experiente, que já se considera cabo eleitoral profissional, estudantes e trabalhadores autônomos que desempenham a atividade não apenas para faturar um extra, mas também para ajudar a “emplacar um conhecido num cargo bom”, ganhar “moral” com o candidato, conhecê-lo melhor ou ainda defender propostas em que acredita.
— Sou comerciante, mas estou aqui ajudando um amigo da comunidade, que foi candidato a vereador, e como ele é da base do Gean vamos apoiar — explica Fabiano Baron Zimmer, 41 anos, morador do Morro do Horácio em sua primeira eleição como cabo eleitoral na modalidade bandeirinha.
Continua depois da publicidade
Entre os que trabalham com Angela Amin, há os que são contratados para cumprir turnos de trabalho de seis horas, em média, e há também os que garantem que ficam parados nas esquinas de forma “voluntária”, fora do horário comercial e nos dias de folga.
— Esse grupo que está aqui é todo voluntário, pessoas que foram candidatos a vereador na eleição, conhecem a Angela e estão apoiando sua campanha. Eu mesmo me licenciei do trabalho para ajudar na campanha — disse um homem, que não quer se identificar, enquanto bandeirava para Angela debaixo de um semáforo na Avenida Beira-Mar Norte, em frente ao Koxixo¿s.
Entre esses trabalhadores informais, uns garantem não receber dinheiro. Falam em “ajuda de custo”, em “gasolina” e “lanche”. Tem que diga ser militante da “causa”.
Continua depois da publicidade
O certo é que diante da arrecadação de recursos menor por parte dos candidatos em comparação com eleições anteriores, em que era liberado a doação de dinheiro por empresas, o trabalho de bandeirinhas se faz ainda mais importante.
“Ajuda de custo”

Em algumas das esquinas e cruzamentos mais movimentados da Agronômica, militantes com bandeiras do candidato Gean fazem campanha para o peemedebista. Tem comerciante, ex-assessor parlamentar e diarista.
Todos dizem trabalhar em outros horários, mas revelam conseguir tempo para ficar das 13h às 19h parados em algum ponto tremulando bandeiras. É o caso da diarista Ana Regina Custódio da Silva, 53 anos, há 18 militando por candidatos a vereador e prefeito na Capital.
Continua depois da publicidade
— Já elegi muita gente — conta, orgulhosa.
Ex-bandeirinha das campanhas “dos Amin”, Ana admite que sempre foi apoiadora da pepista. Em 2016, entretanto, a moradora do Morro Santa Vitória apoiou o candidato a vereador Jeferson Backer (PSDB), do Morro do Horácio, que teve 1.771 votos e ficou em primeiro suplente do PSDB. Jeferson apoia Gean, e como Ana votou e fez campanha para ele, agora está junto com Gean também.
— Tô com o Gean por causa do Jeferson, que ajuda as comunidades e vai trabalhar pela gente se alguém pegar uma secretaria e ele assumir como vereador — destaca.
Também cabo eleitoral experiente, o ex-assessor parlamentar Felipe Farias, 31 anos, revela que sua tática é buscar o corpo a corpo com os eleitores para convencê-los de que o peemedebista “é a melhor opção”.
Continua depois da publicidade
— Trabalhamos sempre com uma média de 15 a 30 pessoas, e além de segurar as bandeiras, também distribuímos adesivos e santinhos em alguns casos. Mas o principal é convencer as pessoas que o Gean é o melhor — diz Felipe, no acesso ao Morro do Horácio.
“Cabo eleitoral espontâneo”

Dentre o grupo que apoiava a candidata Angela Amin em frente a um semáforo na Avenida Beira-Mar Norte estava o advogado Carlos Henrique Geller, 68 anos.
Cego, ele balançava a bandeira com o número 11 na esperança de fisgar outros eleitores que também decidam votar na pepista. Carlos se diz um “cabo eleitoral espontâneo”, que considera “a política a mola mestra da sociedade”.
Continua depois da publicidade
— Gosto disso, de trabalhar por um candidato, uma ideia em que acredito. Costumo ir em alguns encontros da Angela — explica Carlos.
O advogado entende que o “convencimento” dos eleitores tem que acontecer “naturalmente”, e descarta receber qualquer tipo de ajuda de custo da campanha de Angela Amin.
— Eventuais despesas na rua são por nossa conta, e esse trabalho voluntário por um candidato e uma ideia faz parte da essência da política — avalia.
Continua depois da publicidade
Durante o dia em que a reportagem esteve com os aliados de Angela, muitos ali se identificaram como amigos da pepista, outros eram candidatos que tentaram se eleger para a Câmara de Vereadores da Capital. Eles disseram não atuarem como cabos eleitorais, mas sim como voluntários da campanha, em alguns casos bem próximos ao comitê da pepista.
O que dizem os candidatos
Os dois candidatos foram procurados para explicar como são bancados os “bandeirinhas” que atuam desde o primeiro turno nas ruas da Capital.
A equipe da candidata Angela Amin respondeu que as contratações estão sendo feitas desde o início da campanha do primeiro turno. Começou com um número de 20 pessoas nas bandeiradas e foi aumentando gradativamente até o segundo turno. As pessoas contratadas trabalham num período de seis horas diárias, com 30 minutos de intervalo. Há também muitas pessoas que não são contratadas, mas participam como voluntários.
Continua depois da publicidade
Já a equipe de Gean Loureiro afirmou que são 50 “bandeirinhas” contratados e registrados na prestação de contas da campanha. Eles recebem R$ 35 por dia, a cada duas semanas.