Não se falou de outra coisa no fim de semana – principalmente nas efervescentes redes sociais. O beijo entre os personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), no último capítulo da novela Amor à Vida, ganhou contornos de final de Copa do Mundo ou transmissão do Oscar com incontáveis hashtags.

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A Rede Globo, que já havia engavetado outra cena parecida em América (2005), mal esperou o capítulo de sexta-feira terminar para soltar um comunicado: “Toda cena de novela é consequência da história, responde a uma necessidade dramatúrgica e reflete o momento da sociedade”.

Com o casamento de pessoas do mesmo sexo aprovado por leis em diferentes países, a maior emis- sora do país decidiu seguir o texto de Walcyr Carrasco à risca e exibir o beijo. Discussões acaloradas nos comentários do Facebook seguiram na madrugada de sábado.

O deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), conhecido pela posição contrária à união gay, usou o Twitter para comentar a cena: “Jornalistas de todo o Brasil estão me ligando pra saber da cena exibida na novela, sobre um beijo gay. Primeiro não a assisti. Eu teria algo a dizer caso fosse exibida numa programação infantil, pois com estes me preocupo, mas pelo horário exibido só adultos viram”.

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Sobrou para todos no mundo virtual. Autor de tramas de sucesso na emissora carioca, Aguinaldo Silva viu uma de suas declarações voltar aos holofotes. No ano passado, ele afirmou que, “segundo fonte fidedigna”, nunca haveria beijo gay em uma novela das nove. Com sua peculiar ironia, respondeu no Twitter: “Teve beijo gay na tevê brasileira e o país não entrou em convulsão, como se previa? Decepção! Pensei que era tipo um beijo antes de morrer! Mas quanto a mim, continuo mantendo o que sempre disse: nada de beijo gay nas minhas novelas, beijo gay só se for aqui em casa”.

O catarinense Nilson Xavier, especialista em telenovelas e criador do site Teledramaturgia, resumiu em seu blog o andamento da trama até o ápice. “Pela primeira vez, o público passou a torcer por um casal protagonista gay. (Walcyr) Carrasco teceu sua teia de forma tão engenhosa que fez Félix, que já era querido, se envolver com o gay bonzinho da história, Niko, arrebatando o público. Foi o golpe de misericórdia. (…) O público aprovou a relação, Félix estava em boas mãos. A química dos atores também ajudou, em bonitas cenas de envolvimento emocional, que dispensaram maiores contatos físicos”.

Maior atração e atuação da trama, o protagonista Mateus Solano falou nos bastidores logo após a gravação da cena:

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– Fiz história? Não sei se fiz história. É tudo tão efêmero. É uma cena que, se Deus quiser, vai reverberar na sociedade e em outros trabalhos. É um pequeno passo na dramaturgia, mas um grande passo na sociedade.

As atrizes que interpretam Helena: Julia Dalavia, Bruna Marquezine e Julia Lemmertz. Foto: João Cotta/Rede Globo/Divulgação

A última Helena

O amor entre primos será o fio condutor de Em Família, novela que estreia nesta segunda-feira (3/2), depois do Jornal Nacional. Anunciada como a última investida de Manoel Carlos na área, a trama traz Julia Lemmertz no papel principal (nas fases anteriores Julia Dalavia e Bruna Marquezine dão vida à personagem), fechando um ciclo iniciado por sua mãe, Lilian Lemmertz (1937-1986), em Baila Comigo, exibida em 1981. Deve ser a última Helena, nome dado a praticamente todas as protagonistas do autor.

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A história gira em torno das famílias de duas irmãs, Chica e Selma, que se casaram com dois irmãos, Ramiro e Itamar, respectivamente. A partir destes enlaces surgem os conflitos. Conhecido por abordar temas polêmicos, Maneco vai apresentar questões como alcoolismo, homossexualidade e luta contra o Parkinson.