Antônio Campos volta para a política partidária depois de um hiato de mais de uma década. Em 2000 foi eleito vereador por Maravilha e, dois anos mais tarde, chegou a tentar uma vaga na Assembléia Legislativa, mas sem sucesso. Na época era filiado ao PT, mas por entender que o partido não representava mais os ideais pelos quais luta, saiu da militância do partido e entrou na militância sindical, onde atuou até agora. No começo deste ano, oficializou a filiação ao PSOL e, atendendo ao pedido do partido, lançou a candidatura ao Senado.

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Confira abaixo o que o candidato tem a falar na primeira de uma série de entrevistas com os candidatos catarinense ao Senado produzidas pelo Diário Catarinense.

Perfil

Nascimento e idade: 23/01/1964 | 54 anos

Naturalidade: Machadinho (RS)

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Profissão: professor

Escolaridade: superior

Carreira política: eleito vereador por Maravilha em 2000

Vídeo: confira as principais propostas de Antônio Campos, candidato ao Senado pelo PSOL

O senhor chegou a ser eleito vereador em Maravilha em 2000. Depois de tanto tempo, como se desenhou essa candidatura ao Senado?

Quando fui vereador em Maravilha tivemos várias atuações em conjunto com a comunidade, discussão ambiental e discussão da organização da agricultura porque eu sou Biólogo, mas também tenho um envolvimento com a agricultura por conta de que eu estudo sementes, fiz mestrado e doutorado em sementes. Então, tem uma proximidade muito grande com isso. Discutimos questões ambientais, que era um tema que sempre atuava na Câmara de Vereadores, e deixei de ser vereador para vir para o sindicato (Sinte). Então, quando foi em 2004, ainda eleito vereador, deixei de militar na política partidária por entender que eu tinha que me dedicar a atuação sindical e, para não misturar as coisas, me dediquei aos direitos humanos, que é uma coisa que eu milito bastante, a questão da organização dos movimentos sociais. Depois de um tempo, entrei na Universidade Federal da Fronteira Sul, deixei a rede estadual, passei no concurso da universidade e agora com essa situação toda que foi se criando no país, de instabilidade e problema de corrupção, um grupo de pessoas foi se aproximando da gente e tencionando para que a gente fosse candidato, numa discussão coletiva. Acabei, então, candidato ao senado pelo PSOL, que é um partido hoje que não está envolvido em corrupção, que tem uma proposta que vem ao encontro daquilo que eu acredito, que é garantia de uma vida digna para as pessoas, combater os privilégios, a desigualdade na distribuição de renda, no acesso à educação de qualidade.

O senhor já era filiado ao PSOL ou se filiou ao partido para concorrer?

Eu participava informalmente de algumas atividades há uns quatro anos, mas a filiação se deu no início desse ano a partir de uma discussão maior. Antes eu militava no PT e acabei então saindo do PT, evidentemente.

Como foi essa transição partidária? Por que quando o senhor voltou para a política partidária não optou mais pelo PT?

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Na verdade desde 2004 eu não atuava mais na militância partidária, estava afastado. Quando voltei a militar na atividade partidária, tinha um conjunto de situações que o PT não representava aquilo que eu defendia. Algumas questões relacionadas à questão da terra, da cobrança de impostos. São mudanças estruturais que o PT tinha no seu programa, mas não fez. Então foi por isso que eu acabei optando por um partido que se propõe a fazer isso e pretendemos que ele realmente cumpra seu papel no debate, da distribuição de renda, de cobrar impostos de 1% dos mais ricos, que não pagam impostos. Em Santa Catarina estima-se que mais de R$ 6 bilhões a gente tenha de isenções fiscais e daí não sobra dinheiro para fazer saúde, educação de qualidade, segurança. Hoje faltam quase 2 mil policiais em relação ao que já tínhamos de efetivo, sem contar o aumento da população. Tudo isso vai causando um conjunto de insegurança, tanto social quanto do ponto de vista da própria estabilidade das pessoas no Estado.

Quais as bandeira o senhor vai defender, caso eleito?

Existem um conjunto de coisas com as quais eu estou envolvido que fazem parte da minha vida social, política e ideológica. Uma delas é relacionada à produção de alimentos de qualidade. Temos um grande debate com vários grupos sociais sobre agricultura urbana, agro ecológica, agricultura orgânica. São grupos que a gente discute e, com isso, a alimentação de qualidade. Nós entendemos que a produção de alimentos não pode ter apenas um viés econômico, precisa também atender aos requisitos da qualidade de vida, dignidade dos consumidores e dos produtores que se envolvem também. Essa é uma grande bandeira também, de como a gente faz uma rediscussão desse modelo de produção agrícola que, na nossa opinião, está à beira do caos. As pessoas não querem mais consumir hormônios e veneno. Uma outra questão importante para nós é a distribuição de renda, por isso que a gente insiste em combater os privilégios porque nós entendemos que não vamos melhorar a qualidade de vida, a segurança, a educação, não vamos desenvolver esse país sem distribuir renda. É uma cadeia que vai provocar um conjunto de melhoras para a sociedade. E para a educação, evidentemente, a gente tem uma atenção muito especial. Uma delas passa pela valorização profissional e, nesse ponto, há 30 anos que eu milito no sindicato, e sempre digo que nós precisamos ter no Brasil, como já é em muitos países do mundo, aonde tenha uma carreira única. Quando o professor da creche e da universidade tenham o mesmo salário. Aí nós vamos garantir, por exemplo, que nós tenhamos profissionais bem preparados para cuidar das crianças que precisam de atenção especial na primeira e segunda infância, durante a adolescência. Hoje ocorre que os profissionais mais habilitados estão no ensino superior e aí há uma carência no início da carreira até porque ela não é valorizada Essa valorização de uma carreira única nós entendemos ser fundamental. Precisamos fazer da educação no Brasil um processo inverso do que está sendo feito. Por exemplo, com a base comum curricular nacional ela coloca dois pontos de estrangulamento para a educação. O primeiro que é fazer dois tipos de escola, uma para quem vai mandar e uma para quem vai trabalhar. Nós queremos que a escola seja igual para todos. Depois o que cada um vai conquistar depende dos seus méritos, mas as oportunidades têm que ser igual para todos. O segundo problema é a possibilidade de nós colocarmos muitos profissionais preparados fora da escola quando ela admite, por exemplo, um profissional de notório saber substituindo professor. Esses são os problemas colocados e nós pretendemos fazer um debate inverso, garantindo educação de qualidade. Temos hoje a referência no Brasil por exemplo que são os institutos federais, as universidades federais são as universidades públicas em geral. Agora não basta ser apenas no ensino superior, tem que ser desde a creche, do ensino fundamental, médio para que a gente possa realmente mudar o quadro de acesso e oportunidades para os nossos alunos.

Um dos focos do senhor, se eleito, é o fim dos privilégios e a formação de uma única Câmara, mas ao mesmo tempo o senhor concorre ao Senado. É uma contradição?

Nós entendemos que se a gente seguir os livros que nos colocam no Direito, por exemplo, essa é uma atividade, uma pretensão, complexa. Nós falamos em combater privilégios, em acabar, por exemplo, mesmo com direitos adquiridos de quem tem aposentadorias injustas e imorais. Se nós continuarmos nessa via constitucional que a gente tem, não é possível nem a discussão do Senado, nem a discussão dos privilégios. A idéia é a gente estando no Senado, justamente, fazer esse debate. Se a gente for eleito, a gente vai estar lá no Senado diuturnamente articulando a sociedade, articulando a política brasileira para que a gente abra esse debate num grande plebiscito e a gente possa, a partir de lá, fazer esse debate de construção dessa possibilidade. Alguns tem me dito que é impossível e eu tenho dito que quando começou-se a discussão para acabar a escravidão, eram poucos e também se dizia que era impossível, mas hoje mesmo existindo, mas legalmente ela não existe mais. Com essa questão do Senado é a mesma coisa e nós pretendemos questionar e divulgar abertamente com a população os grandes gastos que se tem hoje, os privilégios no Senado, como é o atendimento diferenciado para a saúde desses senadores que consome mais de R$ 10 milhões. É claro que existem outros privilégios, como as aposentadorias hereditárias que consomem R$ 3 bilhões ao ano de dinheiro público, precisamos acabar com isso. Então isso tudo passa por uma grande discussão institucional e a gente tem condições de fazer o debate e vamos fazer esse debate com a sociedade brasileira.

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Nesse primeiro momento seria mais um trabalho de conscientização do que de legislação em si?

A ideia é a gente construir um projeto conjunto com mobilidade social e com representatividade política de um grupo que quer se engajar e não sou só eu, são vários nesse país que pensam dessa forma, que nós precisamos rever esse processo de um legislativo unicameral.

É possível acabar com a corrupção na relação do Executivo com o Legislativo?

Com certeza, mas aí nós precisamos de dois elementos. O primeiro é a simplificação do processo legislativo. Hoje nosso processo legislativo é altamente complexo. Um projeto nacional vai para a Câmara, é aprovado. Vai para o Senado, se muda alguma coisa, volta para a Câmara e assim sucessivamente. Esse tramite todo entra a influencia do governo que através de um processo que nós consideramos famigerado, que são as emendas parlamentares, é um absurdo num ambiente democrático que parlamentar distribua dinheiro. Quem tem que cuidar do dinheiro público arrecadado é o Executivo. O Legislativo tem o papel de legislar e fiscalizar. Aqui no Brasil se mistura isso. Tem deputado distribuindo recurso. É por isso que a corrupção anda a passos largos no país. Enquanto isso existir, vai existir corrupção, porque o Executivo age dessa forma. Então esse é um dos passos para a gente eliminar isso. Outro ponto é a gente acabar com a reeleição e com o carreirismo político. As pessoas acabam criando feudos para se garantir à reeleição. Eu sei que grande parte do partido não concorda com o que eu penso, mas eu me dou o direito de dizer que sou contra a reeleição por entender que ela é um dos instrumentos que fomenta a corrupção. Se nós tivermos cada vez mais pessoas integras, honestas, que se dediquem à política partidária, vamos eliminar esse processo da corrupção. Se vocês observarem os dados, os políticos envolvidos em corrupção não são os iniciantes, em geral são os que estão lá há muitos anos já e acabam se envolvendo no banquete da corrupção.

Como senador, se eleito, como o senhor atuará para garantir o repasse de mais recursos do Governo Federal para Santa Catarina?

Primeira questão dos recursos, quer insistir, é eliminar privilégios públicos e privados. O governo federal, por exemplo, faz isenções fiscais das grandes empresas e isso tira dinheiro dos Estados e dos municípios. Não é só o Estado quem sofre, os municípios ainda mais. Aí o prefeito está lá com o pequeno ou micro comerciante ou moradores e se obriga a aumentar os impostos municipais, ISS, IPTU, para compensar aquilo que o governo federal tira e, enquanto isso, nós vamos tendo empregos caríssimos no país e por isso que o desenvolvimento vai ficando cada vez mais capenga. Um dos pontos é acabar com isso, acabar com a bolsa empresário. Hoje o bolsa empresário é muito maior que o bolsa família e nós temos que fazer com que o empresário catarinense tenha condições de caminhar com as próprias pernas. Nós dizemos sempre que tem que dar a linha para aprender a pescar, então, vamos dar para o empresário essa mesma condição, principalmente os grandes que são os que têm os maiores privilégios. O segundo ponto é rediscutir o pacto federativo. Não dá mais para os prefeitos e governadores ficar à mercê de uma política que, cada vez que precisa fazer uma obra, fica buscando apoio de parlamentar, do Executivo. Precisamos inverter a lógica de arrecadação dos impostos do país. Imposto tem que ser arrecado no Estado e o excedente é repassado para a União. Aí sim vamos ter condição de que o Estado seja autônomo. Hoje ele não é.

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