Camisa 10 às costas, perna esquerda habilidosa e a capacidade de incentivar aproximações entre os jogadores e organizar o jogo com passe preciso. As características não podem ser mais típicas de um meia. E servem para definir Andrés D’ Alessandro.

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Ocorre que o argentino, em seus melhores momentos, não atuou posicionado como o “10” típico. No Inter campeão da América de 2010, por exemplo, era um extrema pela direita. Saía dali para circular pelo campo e confundir a marcação.

Não deixava de ser o articulador principal, o “maestro”, mas a posição não era a do típico 10. Quando escalado centralizado, D’Ale costumava sofrer por tornar-se mais visado, presa mais fácil para o volante que o tinha sempre ao alcance do olhar. Melhor era surpreender o adversário, aparecendo de repente à frente da área após sair da região do campo próxima à linha lateral.

Seria justo concluir, portanto, que a resposta para a pergunta do título deste texto está pronta. Bastaria devolver D’Ale ao lado direito para que renda tudo o que pode. Mas a questão é mais complexa do que parece.

Beira à crueldade colocar um jogador de 36 anos, por mais que seu preparo físico seja de nível surpreendente, a atuar como extrema. É uma posição sacrificante. Se não retorna para fechar espaços, acompanhar o lateral, há fortes prejuízos defensivos para a equipe.

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Em 2017, D’Ale passou a maior parte do ano atuando em uma função que exigia boa dose desses sacrifícios. Fez parte de um tripé de meio-campo em que Dourado era o homem mais recuado e o argentino ficava lado a lado com Edenilson. Se não retornasse, junto com o camisa 8, para ajudar o primeiro volante a fechar espaços, o time se tornava vulnerável. Seria justo, à época, prever que o camisa 10 não aguentaria o tranco de tanto trabalho de recomposição. Conseguiu, mas fica a dúvida se o aumento do nível dos adversários tornaria a alternativa inviável.

No fim do ano, quando devolvido à posição de meia centralizado — já que Edenilson passou a ser escalado como um segundo volante, junto a Dourado —, D’Ale teve alguma dificuldade. As mesmas que costumava ter em seus melhores dias, fruto da vigília concentrada dos volantes rivais.

Há ainda a possibilidade de uma solução, digamos, criativa. O colega Gustavo Fogaça já sugeriu algumas vezes uma opção que parece interessante: escalar D’Ale como um primeiro volante e colocar, a sua frente, jogadores com boa capacidade de marcação e recomposição. O objetivo é fazer com que ele comande a saída de bola lá de trás e seja uma espécie de válvula de escape: quando o time tiver dificuldades para infiltrar, recua a bola para o camisa 10 reiniciar a jogada.

Qualquer das alternativas carrega vantagens e desvantagens. Correm-se riscos e colhem-se benefícios. A questão é saber quais os riscos que se quer correr. E, principalmente, de quais benefícios o Inter de Odair precisará mais. A escolha da posição de D’Ale tem de ser tão criteriosa e estudada quanto o peso que o capitão tem para o time e o clube. Dessa decisão pode depender o sucesso de todo um trabalho.

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