“A propaganda perdeu o foco, e a Oktoberfest ficou rotulada como a festa da ‘beberrança'”

A atitude da Prefeitura e da administração da Oktoberfest está correta em vetar quaisquer ações de promoção ou propaganda que não percebam o valor e o apelo cultural da festa.

Discutida e planejada pelo trade turístico de Blumenau desde 1976, a Oktoberfest só virou realidade após as enchentes de 83 e 84, por iniciativa do Prefeito Dalto dos Reis. Inspirada pela Oktoberfest de Munique, onde a preocupação é unicamente o consumo de cerveja, a nossa festa foi concebida com o propósito de se criar um novo e marcante atrativo turístico, no período de baixa temporada – o mês de outubro.

Não poderia ser somente uma festa para tomar cerveja. (…) Aqui, resgatou-se a musica alemã das antigas bandinhas, surgiram inúmeros grupos folclóricos e recomeçou o uso dos trajes típicos.

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Para isso, não poderia ser somente uma festa para tomar cerveja. Havia de ser uma festa de preservação cultural, de resgate das tradições trazidas pelos imigrantes , algumas delas quase desaparecidas em função da campanha nacionalista. E assim, não apenas se criou uma nova Oktoberfest como a de Munique. Aqui, resgatou-se a musica alemã das antigas bandinhas, surgiram gradativamente inúmeros grupos folclóricos – até 1983 não havia mais nenhum -, reestimulou-se a gastronomia alemã, recomeçou-se o uso dos trajes típicos – ninguém usava traje antes do surgimento da festa -, e, logicamente, também se tomava cerveja, e muita.

Mas a preocupação com a divulgação focava, sobretudo, essa “cara” alemã da cidade, essas características culturais e até geográficas que diferenciavam o destino turístico Blumenau. E assim vieram os turistas, aos montões, em busca de um novo, diferenciado e entusiasmante produto turístico. E assim os blumenauenses voltaram a se orgulhar das suas tradições.

A preocupação em mostrar quantos litros já haviam sido bebidos, as piadinhas sobre bêbados, a cerveja em primeiro plano foram erros que rotularam a Oktoberfest como a festa da “beberrança”.

Algumas vezes, no entanto, nestes trinta e poucos anos, a propaganda perdeu o foco. A preocupação em mostrar exaustivamente quantos litros já haviam sido bebidos, as cansativas piadinhas sobre bêbados, a cerveja sempre em primeiro plano, foram erros que em certo momento rotularam a festa, nacionalmente, como a festa da “beberrança”.

O preço foi alto. Os turistas começaram a diminuir. Vieram, em seu lugar, os baderneiros. Os blumenauenses os rejeitaram e muitos começaram a rejeitar a festa. Os possíveis patrocinadores não tinham interesse em apostar num evento de bêbados.

Norberto Mette é ex-presidente da PROEB (Fundação Promotora de Exposições de Blumenau – hoje Centro de Exposições Parque Vila Germânica)

Assista ao vídeo que gerou polêmica nas redes sociais: