Naquela noite de setembro de 1960, seu Hermes Krüger saiu de casa com uma missão que ia além de animar uma festa em Joinville com a sua tradicional Banda Krüger. Aquele casamento serviria também para que ele encontrasse um ofício para o filho Milton.

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Quem se arriscasse a ser o empregador precisaria ter disposição para ensinar a tarefa a um garoto de apenas 12 anos. A noite foi de muita música, mas também de muita conversa. Se não desse certo naquele dia, paciência. Mas deu.

Depois de um papo aqui e outro ali, seu Hermes conseguiu para o filho a vaga de aprendiz de relojoeiro. A vontade de ver alguém da família nesse trabalho era antiga e vinha da mania que o músico tinha de consertar relógios de parentes e vizinhos.

Há 50 anos, Milton Krüger dá continuidade ao sonho do pai e mantém em Joinville uma das relojoarias mais antigas da cidade.

– Eu lembro que meu pai me ofereceu três opções: relojoeiro, alfaiate e mecânico. Quando eu disse que preferia ser relojoeiro, ele vibrou -, recorda.

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Antes de abrir a Relojoaria Krüger – agora joalheria e ótica – Milton trabalhou em outras duas lojas do segmento. Em 1973, abriu seu próprio negócio que há 12 anos está instalado na rua Nove de Março, no Centro de Joinville. Com tantos anos de profissão, o comerciante precisou se adaptar:

– Antigamente, a profissão de relojoeiro era valorizada, as peças eram mais raras.

Milton conta que na Europa e nos Estados Unidos a atividade é mais reconhecida do que por aqui. Com o surgimento dos relógios mecânicos, o ramo foi mudando e se modernizando.

Do uso de ferramentas para conserto milimétrico das pequenas engrenagens, o comerciante passou a fabricante de relógios personalizados. A marca Krüger Time existe há dez anos e tem peças espalhadas não só por Joinville, mas também pelo Brasil.

– Até para alguns países já vendemos, como Angola, Estados Unidos, Itália e Alemanha – conta.

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Tudo muito bem documentado por Milton, que guarda fotografias de todas as peças que já fez e daquelas que ainda está projetando.

Ele não consegue enumerar, mas nesses 50 anos, milhares de relógios já passaram pelas mãos dele. Tamanha experiência deixa marcas também no seu dia a dia. Ninguém melhor do que ele para saber administrar o tempo que tem.

– Como sempre lidei com horários, fui ficando rigoroso com isso. Sou muito pontual e gosto que sejam pontuais comigo também.

Do mal que a maioria da população sofre, Milton fica livre:

– Acho que temos horas suficientes no dia, é só saber se organizar.

Só que não foi só o tiquetaque que compôs a trilha sonora de seu Krüger durante esses anos. Herdando a veia musical do pai, nos anos 1970, ele também manteve seu grupo, no qual era baixista.

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– O Conjunto 2001 era, na verdade, uma banda de rock. Usávamos ?conjunto? porque estava na moda na época -, conta.

A banda durou três anos e, além de arriscar nas canções de rock, passava também por alguns sambas e outros ritmos nacionais.

– Tocávamos de tudo.

Depois de muito tempo sem tocar, ele não acha que está enferrujado.

– Ainda quero comprar um instrumento para poder brincar em casa.

Outro dote é o de esportista: o remo e o golfe são outras paixões dos tempos de menino.