Contrário à condenação do ex-presidente Lula no caso do triplex do Guarujá, o ex-prefeito de São Paulo e professor de ciência política Fernando Haddad (PT) avalia que a Justiça no Brasil não está tendo “distanciamento” para julgar processos envolvendo políticos. Em entrevista ao programa Timeline Gaúcha, nesta sexta-feira (14), o ex-ministro da Educação afirmou que sentença contra o ex-presidente é “frágil”.

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— A pior coisa que pode acontecer para a Justiça é virar um Fla-Flu, perder o distanciamento necessário para conseguir fazer um julgamento sem paixão, de maneira que alguém que fosse tucano pudesse reconhecer a inocência eventual do ex-presidente Lula e um petista, ao contrário, pudesse reconhecer a culpa.

Para o ex-prefeito, decisões judiciais estão sendo influenciadas pela opinião pública.

— Não está havendo distanciamento em virtude do fato de que a Justiça se envolveu demais com os meios de comunicação. Virou uma coisa de opinião pública, e a Justiça não se faz pela opinião pública, se faz com documentação, coleta de provas e depoimentos — avalia.

Haddad considera que “é possível” que Lula não soubesse dos crimes investigados pela força-tarefa da Operação Lava-Jato. O ex-prefeito ponderou que o governo federal “é de um tamanho medonho” e argumentou que os ex-presidentes da Petrobras não são réus apesar de terem comandado a estatal, enquanto ex-dirigentes da petrolífera foram arrolados em processos julgados pelo juiz federal Sergio Moro.

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— Vou dar um exemplo para ser imparcial: é possível que o governador de São Paulo (Geraldo Alckmin, do PSDB) não soubesse o que estava acontecendo no metrô e na Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A, companhia paulista de economia mista) — afirmou, em referência ao suposto esquema corrupção. — Quem conhece o tamanho do governo sabe que isso é possível. É possível que esteja envolvido? É possível também, mas ser for julgar o governador, tem que provar o envolvimento.

O ex-prefeito da cidade mais populosa do país reiterou que não comemora “a condenação de ninguém”. Haddad ainda negou a possibilidade de que seu nome seja indicado pelo Partido dos Trabalhadores para a disputa à Presidência caso Lula não possa concorrer.

— Não existe essa conversa. Todo mundo tem a certeza de que o ex-presidente vai recorrer ao TRF e depois pode ter ainda um segundo recurso. Ele já deixou claro que vai lutar até o final para defender a honra dele — afirma. — E vamos torcer para ele conseguir (provar a inocência) porque, para o país, é muito bom que as pessoas possam ser consideradas inocentes e seguir sua vida, e é muito bom que, caso não consigam, paguem por o que fizeram.

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