O assassinato da professora grávida Flávia Godinho Mafra, 24 anos, chocou Canelinha, na Grande Florianópolis, na última semana. Uma mulher confessou o crime, segundo a polícia, e está presa. O inquérito ainda está em andamento. Um dos caminhos para se tentar entender o caso que abalou tanta gente é o da neuropsicanálise.

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O movimento dentro da neurociência e da psicanálise junta os conhecimentos de ambas as vertentes para melhor compreensão da mente e do cérebro humano. Um dos campos de atuação dos profissionais é a perícia judicial criminal, como faz o psicólogo Leandro Marcucci, assistente técnico no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, e professor em Crimimologia. Leia a entrevista:

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Crime como o ocorrido em 27 de agosto, em Santa Catarina, onde uma mulher mata a outra e retira-lhe o filho da barriga fazendo-se depois passar por mãe da criança no hospital parece raro. O senhor lembra de algum caso parecido?

Não lembro de um caso semelhante e com estas características. Encontrei poucos registros na literatura europeia e também em países nórdicos. Há, também, um caso em São Paulo. Mas não com as mesmas características. Geralmente estavam relacionados com seitas religiosas e tráfico de bebês. O caso de Canelinha é raríssimo.

Além da forma cruel como ocorreu, muita gente se diz chocada pela simulação de fatos por parte da suspeita: uso de barriga falsa, fotografias nas redes sociais, ingresso em grupos de gestantes da cidade, evento online (rifa) em prol do suposto filho. Como explicar tal comportamento?

Sim, há muitos pontos de fantasia por parte da autora confessa. Tomando por base os relatos, há evidente simulação dos fatos e premeditação do crime. Estamos diante de algo planejado, e isso fica claro (motivo que atraiu a vítima, escolha do local, ida para o hospital). A autoria assume as evidências, o que mostra um histórico que ela tinha a clara intenção de fazer o que fez.

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A mulher que confessou o crime à polícia diz que agiu sozinha, bastante provável segundo os policiais que acompanham o caso. É mesmo possível que somente da mente dela tenham saído tantos pormenores que agora vão formando este quebra-cabeça?

A psiquiatria em si pode dar uma outra linha de raciocínio, mas estamos diante de um caso de psicopatia, ou seja, a autora teve comportamento de uma psicopata. Isso significa que para a autora confessa tudo que ela fez estava certo.

“Outras mulheres grávidas correram o mesmo risco”

Crime chocou a cidade de Canelinha, que tem cerca de 12 mil habitantes
Crime chocou a cidade de Canelinha, que tem cerca de 12 mil habitantes (Foto: Foto: Diorgenes Pandini / NSC Total)

Partindo do pressuposto de que a suspeita agiu como uma espécie de predadora em busca de uma caça, é possível que outras mulheres grávidas na cidade tenham corrido o mesmo risco da vítima?

Sim, outras mulheres grávidas correram o mesmo risco. É preciso entender que um psicopata não precisa estar em surto para agir, e sim ter a personalidade de psicopata.

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O que deve ocorrer com a suspeita a partir de agora?

Nestes casos, a Justiça tende pelo isolamento da pessoa e cumprimento da pena em hospital psiquiátrico. Evidentemente que tudo vai depender dos argumentos da defesa, mas foi um crime com muita crueldade e grande comoção, o que certamente pesará na decisão da Justiça que tende a não perdoar casos assim.

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A que sinais – pais, irmãos, amigos – devem atentar para evitar que pessoas com algum problema semelhante não tenham uma atitude com desfecho tão trágico?

São reações humanas muito complexas. É mais fácil lidar com a personalidade psicopata, quando a mesma é identificada. Isso pode ser feito com acompanhamento profissional, medicação, proibição de consumo de álcool, isolamento e tendo sempre uma pessoa que cuide, que observe este paciente. É preciso entender que não teremos um outro caso exatamente igual. No nível psicótico, não é possível traçar o que a pessoa fará. Por isso a importância de tratamento para uma pessoa que tem personalidade psicótica. Eu vejo que neste caso de Canelinha todos os quesitos criminais apontam para um caso típico.

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