Em uma pequena cidade de Santa Catarina onde vivem pouco mais de 6 mil moradores, uma tecnologia vem transformando toneladas de lixo em cimento para uma gigante nacional. A solução sustentável é aplicada há mais de 10 anos por uma empresa em Vidal Ramos, no Alto Vale do Itajaí, e impede que resíduos não usados na reciclagem sejam levados para aterros sanitários. Ao invés disso, eles são destruídos e viram matéria-prima para a produção da Votorantim Cimentos.
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O método, chamado de “coprocessamento”, é uma forma de minimizar os impactos ambientais. Ele é executado pela Verdera, responsável pela gestão e destinação sustentável de resíduos da empresa de materiais de construção. Apesar de ter 15 fábricas que atuam com esse modelo espalhadas pelo país, a unidade em Vidal Ramos é a única de Santa Catarina. A cidade foi escolhida estrategicamente para abastecer a região Sul, onde fornece cimento ao Estado e a alguns pontos do Rio Grande do Sul.
Só no ano passado, a Verdera descartou, por meio do trabalho feito em todas as fábricas, 1 milhão de toneladas de resíduos no Brasil e na América do Norte que, de forma sustentável, foram usados no processo de fabricação do cimento. Para se ter uma ideia, esse volume equivale a 1.257 piscinas olímpicas de lixo que deixaram de ser enviadas para os aterros sanitários.
Veja fotos dos resíduos usados na fabricação do cimento
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O coprocessamento é considerado, portanto, uma energia limpa, onde os resíduos são completamente destruídos enquanto servem de substituição parcial ao combustível que alimenta os fornos da indústria cimenteira. É durante esse procedimento que se transforma calcário e argila em clínquer, matéria-prima do cimento.
Além disso, o método não altera a qualidade do cimento e é praticado de forma segura e ambientalmente adequada para trabalhadores do setor e para quem vive no entorno das fábricas.
Tecnologia está de acordo com a legislação brasileira
Alguns materiais, como isopor, embalagens laminadas, materiais contaminados e certos tipos de plásticos, não podem passar pelo processo comum de reciclagem. Assim, para que não sejam levados aos aterros sanitários — onde entrariam em um processo de decomposição que levaria anos e ainda geraria gases nocivos ao planeta — eles servem como combustível alternativo para a produção industrial.
Em 2010, o Governo Federal instituiu a Lei nº 12.305/10, da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece alguns objetivos, como a redução na geração de rejeitos, impulsionamento da reciclagem e da reutilização de materiais, além da inclusão social dos catadores. Para isso, a lei determina uma hierarquia na gestão desses materiais e exige plano de gerenciamento dos municípios.
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Como prioridade está a não geração de resíduos, seguido pela redução, reutilização, reciclagem, tratamento e, como última alternativa, o descarte em aterros sanitários. O coprocessamento é considerado uma opção de tratamento, junto com a compostagem e a incineração.
O método é, portanto, um dos caminhos para evitar que materiais sejam depositados de forma incorreta no meio ambiente. Cumprindo a legislação vigente no Brasil, a tecnologia limpa não gera passivos e ainda transforma o que antes era considerado resíduo em matéria-prima para a indústria.
Vidal Ramos foi pioneira em tecnologia para melhorar o coprocessamento
Em Vidal Ramos, o coprocessamento é feito desde 2011, quando a fábrica da Verdera foi inaugurada no Alto Vale. A cidade catarinense foi pioneira no uso da tecnologia by-pass de cloro, que funciona como um filtro que tem a finalidade de retirar do forno de cimento o cloro em excesso proveniente dos resíduos.
O by-pass permite que uma maior quantidade e tipos de resíduos que não podem mais ser reaproveitados ou reciclados — como plásticos, tecidos e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) — sejam destinados de forma sustentável através do coprocessamento, de acordo com a Votorantim Cimentos.
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A empresa de materiais de construção e soluções sustentáveis tem mais de 13 mil empregados e unidades também fora do país, na Argentina, Bolívia, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Luxemburgo, Marrocos, Tunísia, Turquia e Uruguai. Junto com o cimento, a companhia também fornece concretos, argamassas e agregados.
Milhões de toneladas de resíduos com destino incorreto em 2022
Nesta sexta-feira (17) é celebrado o Dia Internacional da Reciclagem, que surgiu de uma resolução da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O objetivo é promover uma reflexão sobre o impacto dos resíduos no meio ambiente e conscientizar a respeito da importância da reciclagem.
O que a tragédia no RS tem a ver com a emergência climática?
Conforme dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2023 — pesquisa feita pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema) —, pouco se tem avançado na adequação do manejo dos resíduos no país, apesar dos 13 anos de vigência da Lei nº 12.305/10, mencionada anteriormente.
O levantamento mostra que em 2022 foram coletados 93% dos resíduos sólidos gerados no Brasil, o que corresponde a 71,7 milhões de toneladas. Dessas, 27,9 milhões foram enviadas para os mais de 3 mil lixões que se estima ter no Brasil. Somados a essa quantidade, os 7% de resíduos não coletados, que
equivalem a 5,3 milhões de toneladas, também foram lançados em locais de disposição incorreta.
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Com isso, estima-se que cerca de 33,3 milhões de toneladas de resíduos tiveram destinação ambientalmente inadequada no país em 2022.
Entenda a importância do descarte correto de resíduos
*Sob supervisão de Raquel Vieira
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