A paixão da arte pelo apocalipse: o fim do mundo não aconteceu, mas inspira cinema, música, livros e quadros

O começo e o fim do mundo são questões fundamentais para a humanidade. Entram na lista de perguntas como “quem somos?”, ” de onde viemos?” e “para onde vamos?”, essenciais para a filosofia e a religião. Seriedade à parte, literatura, artes visuais, música e cinema não se cansam de explorar o assunto.

Seja nos desertos áridos de Mad Max, no fim do mundo aquático de Waterworld, no apocalipse zumbi de The Walking Dead, ou em músicas de Paulinho Moska e R.E.M., a verdade é que o fim do mundo (enquanto não chega) nos entretém. Nada mais contraditório, nada mais humano. De que adiantaria se preocupar com o fim do mundo se ele fosse inevitável? O melhor mesmo é se divertir. Até porque, se você está lendo isso, é porque o mundo ainda não acabou.

Ao que tudo indica, a tal profecia maia entrou para a lista de previsões furadas sobre o fim do mundo. Pelo menos até o momento, a sexta-feira, 21 de dezembro, segue se desenrolando firme e forte em todo o planeta Terra – que, para a frustração dos mais apocalípticos, tem tudo para chegar inteiro ao dia de amanhã. Não é de agora que datas emblemáticas – em geral, aquelas com números repetidos ou que marcam viradas de séculos – evocam teorias de toda ordem sobre a destruição da humanidade, seja ela figurativa ou literal.

– O fascínio pela imagem do fim do mundo passa pela atração de se pensar esse instante absoluto que precederia o fim, ou ainda um deslumbre pela destruição total, motivado pelo desejo de ser transpassado por aquilo que não se controla: como na paixão – explica a mestranda em Artes Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Priscilla Menezes.

Na arte e no entretenimento, o apocalipse inspirou e continua inspirando autores a imaginar como seriam os eventos que desencadeariam a aniquilação do universo e, também, o que haveria depois dela. Confira uma lista com alguns filmes, livros, músicas e obras de arte que versaram sobre o tema.

Filmes

Eu Sou a Lenda

E se o mundo acabasse e restasse só você? Você ia ser capaz de continuar vivendo? Will Smith enfrenta esse fardo no filme Eu Sou a Lenda. Ele parece ser o único sobrevivente depois de uma praga que atingiu os homens e os transformou todos em zumbis. O filme é de 2007 e traz uma bela atuação do protagonista.

Melancolia

Um imenso meteoro está em rota de colisão com a Terra e será nosso fim. As pessoas podem vê-lo no céu. Enquanto isso, a vida segue. Alguns se casam, tentam ser felizes, outras se rendem ao pânico. Kirsten Dunst é o destaque do filme de 2011, a melancolia em pessoa. Lars Von Trier é considerado um diretor de cinema autoral, com assinatura própria, além de um dos mais ambiciosos.

O Guia do Mochileiro das Galáxias

O que começou como uma série televisiva, em 1978, virou também uma série de cinco livros e um filme. Após conhecerem um extraterrestre que vivia disfarçado entre os seres humanos, o inglês Arthur Dent e seu amigo Ford Prefect escapam da destruição total do planeta Terra em uma nave espacial alienígena.

Dr. Fantástico

Clássico do cinema mundial dirigido por Stanley Kubrick, o filme de 1964 mostra um general da Força Aérea Americana que, em uma espécie de delírio paranoico, ordena um ataque nuclear à União Soviética. Entretanto, as bombas atômicas ameaçam desencadear a destruição total do planeta.

Livros

A Guerra dos Mundos

Romance de ficção científica escrito por H. G. Wells e lançado em 1898 no Reino Unido, o livro conta a história de uma invasão alienígena ao planeta Terra. Em 1938, Orson Welles produziu uma dramatização da obra para o rádio, nos Estados Unidos. No entanto, muitas pessoas pegaram a história já em andamento e pensaram que se tratava de uma notícia real. O episódio afetou cerca de 6 milhões de pessoas, das quais mais de 1 milhão acreditaram na tomada da Terra por marcianos.

Cama de Gato

Sátira sobre o fim dos tempos e o individualismo do homem, publicada em 1963, a obra de Kurt Vonnegut é narrada por um pesquisador que prepara seu próximo livro, intitulado O Dia Em Que o Mundo Acabou. A ideia do trabalho é reunir relatos de altas personalidades dos Estados Unidos sobre o que estavam fazendo no dia em que a bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima, no Japão.

O Livro do Fim do Mundo

Uma coletânea de textos organizada pela internet propôs a seguinte pergunta: o que você faria se o mundo acabasse daqui a uma hora? A inspiração foi a profecia maia que decreta o fim do mundo hoje, no dia 21 de dezembro de 2012. Mais de mil contos foram enviados e 34 viraram coletânea. Entre os autores, dois catarinenses, Marcel Angelo Timón Frias e Roberta de Oliveira.

Ensaio Sobre a Cegueira

Ao invés de um grande meteoro ou de uma erupção gigante de um vulcão, uma epidemia de cegueira. O livro de José Saramago, vencedor do Prêmio Nobel da Literatura de 1998, não coloca fim no planeta, mas na civilização como a conhecemos. A proposta é imaginar um novo mundo, onde todos são cegos. O livro foi adaptado para o cinema por Fernando Meirelles em 2008, com Julianne Moore e Mark Ruffalo no elenco.

Artes visuais

Juízo Final

O afresco pintado pelo italiano Michelangelo no século 16, no altar da Capela Cistina, representa o dia do juízo final, quando, após morrerem, todos os homens seriam levados a um último julgamento, segundo a narrativa bíblica. Com a Terra já destruída, tudo o mais seria revelado e os justos seriam levados à vida eterna, enquanto os demais receberiam o castigo eterno. Na pintura, Cristo é o juiz dos eleitos para subir aos céus.

Os quatro cavaleiros do apocalipse

Pintado em 1498 pelo alemão Albrecht Dürer, o quadro ilustra o apocalipse do Livro da Revelação do Novo Testamento. Na época, a Europa vivia o temor de que a chegada do ano 1500 representaria o fim do mundo. No relato bíblico, os cavaleiros aparecem após o rompimento dos primeiros selos do livro sagrado. Na versão de Dürer, cada um dos personagens representa um mal: a enfermidade, a guerra, a fome e a morte.

Ragnarök

A palavra significa “a destruição dos deuses” e é o fim do mundo na mitologia nórdica. Para os povos da região, o fim do mundo seria precedido pelo inverno mais frio de todos os tempos, que duraria um ano e meio. Além disso, todo princípio moral desapareceria. Uma grande batalha deixaria como vítimas deuses como Odin e Thor. O lobo Skoll devoraria o sol e seu irmão, Hati, comeria a lua. A Terra ficaria imersa na escuridão e as estrelas desapareceriam dos céus. Um galo seria o responsável pelo levante dos mortos.

Small Worlds

Se o mundo acabasse, se um meteoro nos atingisse, uma onde imensa levasse tudo embora, ninguém ia ver o que sobraria. São essas cenas, que teoricamente não serão vizualizadas nunca, que a escultora americana Lori Nix criou em uma série de modelos batizada de Small Worlds (Mundos pequenos em tradução livre) que mostram lugares cotidianos depois do fim do mundo. A artista expôs a destruição que imaginou em palácios, estufas vegetais, bibliotecas e teatros no Museu de Arte de Toledo, em Ohio, nos Estados Unidos, entre 18 de novembro de 2011 e 25 de março deste ano.

Música

Um minuto para o fim do mundo

A música da banda CPM 22 estourou no Brasil em 2005, com o disco Felicidade Instantânea. Apesar do refrão apocalíptico, a canção de hardcore melódico fala de um outro tema bastante conhecido: o amor. Na letra, escrita por Wally e Rodrigo Koala, um apaixonado anuncia o fim iminente de seu próprio mundo, sem possibilidade de salvação – tanto ao lado da amada (Quando estou com você/ Sinto meu mundo acabar) quanto sozinho (E só de pensar em te perder por um segundo/ Eu sei que isso é o fim do mundo).

O mundo não se acabou

Composta em 1938 por Assis Valente, a canção manda um alerta bem-humorado para aqueles que pretendem abandonar os critérios para aproveitar os últimos instantes de existência do mundo. Beijei na boca de quem não devia/ Peguei na mão de quem não conhecia/ Dancei um samba em traje de maiô dizem alguns dos versos da letra. O único problema é que, no final das contas, o tal do mundo não se acabou.

O último dia

Na canção de Paulinho Moska o mundo termina amanhã. Ele pergunta: se o mundo fosse acabar o que você faria? E aí lista uma série de atividades bobas que fazemos todos os dias (apesar delas não trazerem felicidade) e outras coisas simples que deixamos de fazer. Andava pelado na chuva. Corria no meio da rua. Entrava de roupa no mar. Abria a porta do hospício e trancava a da delegacia. Em diferentes níveis revolucionários, o foco da música é que a gente se lembre do que realmente quer fazer.

It’s The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)

A enxurrada verbal da música do R.E.M. propõe um fim do mundo muito louco. Começa com um terremoto, pássaros, cobras e um avião. Lá pelas tantas a letra vai do olho de um furação, para confusão generalizada no meio da rua, festa de aniversário, cheesecake e jujuba. O fim do mundo rock n’ roll da banda é uma grande bagunça non sense e o refrão enfatiza: é o fim do mundo como o conhecemos e eu tô numa boa.

Quadrinhos

The Walking Dead

O clássico apocalipse zumbi. A série de quadrinhos de Robert Kirkman deu origem à série de televisão que mostra o drama de Rick Grimes, que acorda de um coma para descobrir que o mundo está dominado por pessoas infectadas por um vírus que as transforma em zumbis. Em busca de sua esposa, ele encontra um grupo de sobreviventes. A série bateu recordes de audiência, fez uma legião de fãs e foi indicada a Melhor Série Dramática no Globo de Ouro de 2011.