Do ponto de vista dos investidores, existe um congelamento no processo de tomada de decisão especialmente quando há dificuldade de enxergar que tipo de futuro as startups terão. Em um período de crise, como a pandemia, que afetou altamente as contas na maior parte dos casos e forçou alterações na estrutura interna das empresas — seja para o modelo home office ou aplicando mudanças nas orientações trabalhistas, como redução de jornadas e salários — a safra de investimento que nasce é a que gera os melhores retornos, mas a tomada de decisão dos fundos tende a ser cada vez mais cética.

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No Brasil, estávamos vivendo um momento histórico em 2019, com sete unicórnios nacionais e perspectiva de grandes aportes. Nos últimos seis meses, todo o cenário foi transformado — o que impacta não só nosso presente, mas principalmente os próximos meses. O ecossistema de startups começou este ano com a certeza de que os investimentos em renda fixa no país, afetados pela redução sequencial da taxa Selic, se destinariam em parte para o fomento às startups. Mas, em poucas semanas, com os efeitos do coronavírus no mercado, as quedas bruscas na Bolsa e novas perspectivas para quem tem capital, nos deparamos com outra realidade.

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Apesar das perdas de faturamento acumuladas nos últimos quatro meses por causa da redução da atividade econômica e da possibilidade de que os efeitos da crise sanitária se estendam por mais tempo, uma em cada cinco empresas de Santa Catarina pretende realizar investimentos ainda durante a pandemia. Essa é uma das conclusões da quarta edição da pesquisa “Impacto do Coronavírus nos Negócios de Santa Catarina”, promovida pelas federações empresariais da Indústria, do Comércio, Serviços e Turismo, com apoio do Sebrae/SC. São 18,9% das empresas entrevistadas que informam estar em busca de crédito para novos investimentos e projetos — um percentual significativo, já que contrasta com a estimativa de perda de faturamento que totaliza R$ 36,7 bilhões nos setores pesquisados, o que representa 8,4% do PIB estadual.

O acesso ao crédito é crucial para a manutenção ou retomada das atividades, no entanto, apenas uma em cada três empresas que buscaram, obtiveram empréstimo, ainda que o número de financiamentos obtidos desde maio tenha aumentado 2,3 pontos percentuais. No total, 45,1% das empresas consultadas disseram ter procurado financiamento e somente 16,6% do total o obtiveram. Além disso, os entrevistados consideram que o acesso ao crédito poderia ter evitado as falências registradas durante a pandemia — onde 48% das respostas apontam que estas foram motivadas pela pandemia, em razão da redução de faturamento.

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Agora, quando falamos globalmente, vemos que o processo de angariação de fundos também mudou drasticamente. De acordo com o “Relatório Anual sobre o Ranqueamento Global dos Ecossistemas de Startups” realizado pela Startup Genome, considerando até startups que já obtiveram sua folha de termos antes da crise, assinadas ou não assinadas, três a cada quatro startups tiveram seu investimento interrompido. Sendo que 18% dos negócios com contratos tiveram sua rodada de investimentos cancelada pelo investidor, enquanto 54% tiveram o processo adiado.

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Ademais, o total de fundos de Venture Capital caiu dramaticamente em todos os continentes, ficando abaixo em 20% nos primeiros três meses de 2020. Em alguns lugares do mundo a queda foi ainda maior. Na China, por exemplo, primeiro país a ser afetado pela crise, os investimentos baixaram em 50% em comparação ao resto do mundo.

Em suma, de acordo com autor e investidor Brad Feld, dentro dos ecossistema de startups, diversos fatores se influenciam entre si sucessivamente, sem uma linearidade fixa. Uma linha de raciocínio desse sistema único é que a quantidade de investimento influencia o grau de talentos, que influencia na performance das empresas, que influencia em funding e em novos centros de conhecimento, assim por diante. Portanto, não é possível prever o futuro dos aportes, dada a volatilidade do cenários econômico, temos que acompanhar e estudar a evolução do setor, semana após semana — que deverá ditar o novo modo de operação dos investimentos nos próximos anos.

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