Um registro medieval recentemente encontrado trouxe à tona que a legitimidade do Sudário de Turim, peça de linho com 4,2 metros que muitos acreditam ter envolvido o corpo de Cristo após a crucificação, já era posta em dúvida possivelmente desde 1355.
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O manuscrito, estudado e publicado no Journal of Medieval History, foi datado entre 1355 e 1382 (provavelmente redigido após 1370, de acordo com os especialistas).
Segundo o conteúdo, o renomado teólogo normando Nicole Oresme (que mais tarde se tornaria bispo de Lisieux, na França) rejeitou o Sudário, classificando-o como uma falsificação “clara” e “patente”, resultado de enganos atribuídos a “clérigos”.
A contestação mais antiga registrada
Esses escritos, que hoje são reconhecidos como a mais antiga rejeição documentada da peça, antecedem a primeira crítica conhecida, feita pelo Bispo de Troyes, Pierre d’Arcis, em 1389.
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Pierre d’Arcis também considerava o Sudário uma fraude e relatou que outro bispo, antes dele, já havia apontado o mesmo por volta de 1355.
O documento de Oresme, identificado pelos historiadores Alain Boureau e Béatrice Delaurenti, acusa religiosos de inventarem “milagres” para arrecadar doações, usando como exemplo o Sudário exibido em Lirey, na França.
“O que destaca a escrita de Oresme é sua tentativa de fornecer explicações racionais para fenômenos inexplicáveis, em vez de interpretá-los como divinos ou demoníacos” declarou, em comunicado, Nicolas Sarzeaud, autor do estudo.
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O filósofo chegou a classificar testemunhas de acordo com fatores como sua confiabilidade e também alertou contra rumores”, complementou o historiador da Universidade Católica de Louvain.
Exposição e ocultamento da relíquia
Sarzeaud considera que Oresme tomou conhecimento da farsa de Lirey enquanto atuava como acadêmico e conselheiro real nos anos 1350.
O Sudário permaneceu em exibição em Lirey até cerca de 1355, quando o Bispo de Troyes determinou sua retirada após apurações que revelaram encenações de milagres e o uso de atores pagos.
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Depois disso, a peça permaneceu guardada por muitos anos, até que o Papa Clemente VII autorizou sua volta às mostras públicas, mas com a exigência de que fosse apresentado apenas como uma “representação” do Sudário original, e não como um artefato legítimo.
Mais tarde, em 1389, o Sudário foi oficialmente declarado falso em um relatório enviado ao Papa Clemente VII.
Nesse mesmo documento, o bispo solicitou ao rei Carlos VI da França que suspendesse novas exibições, descrevendo o objeto como “um tecido fabricado, retratado artificialmente”.
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“O Sudário é o caso mais documentado de uma relíquia forjada na Idade Média e um dos raros exemplos de um culto que acabou sendo denunciado e interrompido pela própria Igreja e por seus religiosos”, contou Sarzeaud.
Debate e análises modernas
Com a imagem desbotada de frente e verso de um homem nu, lembrando as representações tradicionais de Jesus após a crucificação, o Sudário gera controvérsias há séculos, embora ainda reúna fiéis que acreditam em sua veracidade.
Testes de radiocarbono realizados anteriormente situam sua origem entre o fim do século XIII e o XIV, e um estudo tridimensional mais recente, publicado na revista Archaeometry, concluiu que o tecido havia sido enrolado em uma escultura e não no corpo de Cristo.
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O professor Andrea Nicolotti, docente de História do Cristianismo e das Igrejas na Universidade de Turim, afirma que o registro de Oresme adiciona “mais evidências de que, mesmo na Idade Média, sabia-se que o Sudário não era autêntico”.
“A opinião de Oresme é muito importante porque vem de uma pessoa que não estava pessoalmente envolvida na disputa e, portanto, não tinha interesse em sustentar sua própria posição”, explicou ele.
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