Prestes a completar seu centésimo dia de governo, o prefeito Udo Döhler diz não estar satisfeito com a reforma administrativa feita por sua equipe. Ele quer mais. Pensa em submeter a administração do São José à Secretaria de Saúde e busca compactações de órgãos. A entrevista concedida ao colunista Jefferson Saavedra, ao repórter João Kamradt e à editora Larissa Guerra abre a série de reportagens de “AN” sobre os primeiros atos do peemedebista no comando de Joinville.
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A Notícia – Os desejos iniciais para os 100 dias de seu governo se realizaram?
Udo Döhler – Estou satisfeito como as coisas andaram até agora, mas é claro que outras poderiam ter andado num ritmo mais acelerado. A nossa reforma poderia andar mais. Nós aprovamos um pedação, mas há mais um pedaço. Outras coisas nessa reforma já andaram, como a questão do Hospital São José, onde estamos analisando a submissão total do São José pela Secretaria da Saúde. Mas no São José ainda precisaremos fazer algumas reformas importantes. Por exemplo, o ideal é eliminar o hospital como autarquia. Ele deveria ser submetido à Secretaria da Saúde.
AN – Mas como o senhor definiria: existe uma falta de eficiência no São José?
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Udo – A gestão está emperrada. Primeiro, não temos dados disponíveis em tamanho o suficiente. Colocamos 150 computadores novos, estamos instalando programas para que a gente consiga acompanhar mais de perto toda a rotina. Nós sabemos que há áreas ociosas – algumas já conseguimos consertar. Nós tínhamos lotação de pacientes em uma área enquanto tínhamos um andar inteiro desocupado. Isso já foi regularizado. Alguns equipamentos já foram recuperados. Mas isso não é suficiente. Agora, nós vamos agilizar a inauguração do Ulysses Guimarães. Mas sobretudo, precisamos melhorar o desempenho do médico. O médico pode ter um desempenho melhor.
AN – Durante a campanha, o senhor bateu na tecla de que gestão privada e pública são iguais. Nesse período na frente do governo, o senhor não viu diferenças?
Udo – Não existe diferença entre o público e o privado. O que acontece é que, no setor público, nós temos uma burocracia muito acentuada. E a burocracia guarda uma parcela com a taxa de corrupção. Na hora em que conseguirmos diminuir a burocracia, diminuiremos a corrupção.
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AN – O senhor voltou atrás na decisão de dar folga para os servidores na quinta-feira da Semana Santa. Essa não é uma diferença entre gestão pública e privada?
Udo – Não foi apenas a quinta-feira que diminuímos. Nós fizemos com que se diminuísse esses feriados prolongados. A terça e a quarta-feira de Carnaval até o meio-dia, por exemplo, eram pontos facultativos na Prefeitura e deixaram de ser. Suprimimos a quinta-feira, porque a quinta Santa não existe. Mas a Câmara de Vereadores manteve a quinta como ponto facultativo, assim como o Poder Judiciário e o governo do Estado. Mas nós tínhamos essa convicção.
AN – Esta resistência do funcionalismo público às medidas que o senhor vem tentando implantar acaba criando um ponto de preocupação em seu governo?
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Udo – Não. A negociação está acontecendo, eu participo das reuniões. Agendamos encontros semanais e faremos reuniões amadurecidas. A negociação está aí, mas é possível haver a convocação de um movimento paralisador. AN – Além da reforma no Hospital São José, o que vem mais aí na segunda etapa dessa reforma que ainda não saiu?
Udo – Nós ainda temos condição de otimizar algumas áreas da Prefeitura, buscar algumas compactações. No Ippuj, por exemplo, estamos examinando o que fazer. Não é questão de absorver o Ippuj pela Secretaria de Planejamento. É questão que nós precisamos ter uma equipe para realizar projetos. A nossa leitura de futuro mudou. Até então se pensava uma cidade para 750 mil habitantes. Nós acreditávamos que chegaria até 850 mil, mas já estamos revendo isso, prevendo que nossa população ultrapasse um milhão de habitantes. Nesses primeiros meses de governo, nós gastamos muito tempo pensando no que a cidade precisa para o futuro. Nós temos aqui todo o detalhamento ao saneamento básico, ao esboço de pavimentação e um macro-olhar do nosso futuro. Continua depois da publicidade
AN – E o senhor acredita que a LOT será aprovada ainda neste ano?
Udo – Acredito que sim.
AN – Mas os vereadores já estão propondo emendas antes da lei chegar para análise do Conselho da Cidade. O senhor acredita mesmo que será aprovado rapidamente?
Udo – Estamos fazendo esse processo dos vereadores enviarem as emendas antes para acelerar esse processo. Vamos considerar e agrupar todas as sugestões dos vereadores que acharmos coerentes antes de ir para o conselho. Eles nos entregam e isso vai para o Conselho da Cidade. Vamos cuidar para que os interesses que travaram o processo antes não aconteçam agora. Acreditamos que a discussão será rápida, já quego que mandaremos já foi discutido antes no conselho. A lei básica da LOT está de bom tamanho. Não esgota todo o assunto, mas deixa bem adiantado. AN – O senhor não está sendo otimista demais em crer que os vereadores ficarão satisfeitos com o que a Prefeitura aceitar pôr na LOT e não irão propor mais nada? Continua depois da publicidade
Udo – Eu penso diferente. Se cada vereador querer resolver o seu problema no seu quintal eleitoral, ele irá inviabilizar a LOT. AN – E com relação ao governo Colombo, o senhor está satisfeito?
Udo – Estou sim. Iremos receber recursos na saúde, por exemplo, que é ônus do Estado que estávamos absorvendo. AN – Mas o governo do Estado tem três hospitais em Joinville.
Udo – Mas o que faz atendimento mais complexo é o São José. O atendimento que deve ser do município e não o contrário. Hoje, o São José realiza o dobro de cirurgias do que o Hospital Regional. Estamos assumindo hoje o que é do Estado. No curto prazo, faremos que o São José aumente sua capacidade em 30%.Nós estaremos perto de conseguir isso nesse primeiro ano de governo. Vamos ampliar nossa capacidade de atender, mas vamos cobrar os recursos do Estado. Hoje investimos 33% dos nossos recursos em saúde. Isso não faz sentido. Nós vamos reduzir nossos gastos nessa área e melhorar nosso atendimento. Continua depois da publicidade
AN – O senhor passou três meses pregando um discurso de austeridade. Por essa medida, o senhor já percebeu que algumas promessas de sua campanha podem não ser cumpridas nesses quatro anos?
Udo – Manteremos a austeridade por todos os quatro anos. Mas buscamos medidas para cumprir tudo. Por exemplo, o asfaltamento que o “AN” disse que não íamos asfaltar nada [em reportagem em fevereiro, o prefeito deu declaração de que não conseguiria cumprir os 75 km planejados para o primeiro ano de governo], mas vamos asfaltar sim. Se der tudo certo, chegaremos até 79 km neste ano. É um compromisso nosso.
AN – Durante a campanha, o senhor sempre falava em achar um nome para que ele ficasse os quatro anos. Mas em menos de três meses, já trocou o presidente do Ittran. Foi um erro a escolha? Continua depois da publicidade
Udo – O Ittran é um órgão importante, onde precisamos resolver nosso trânsito, nossas praças, nosso estacionamento rotativo, e nós precisávamos melhorar o ritmo do órgão. Então, achamos que a gestão precisava ser mais técnica. E foi isso que procuramos fazer. Nossas escolhas sempre priorizaram o índice técnico e competência.
AN – E o senhor está com dificuldade de acomodar os vários interesses nas subprefeituras que o senhor criou?
Udo – Isso não aconteceu. Já nomeamos o Osmari Fritz e o Sidney Sabel para as subprefeituras. Ele não está ali porque é componente de um partido, mas por sua larga experiência, excepcional formação e por conhecer aquela região. Continua depois da publicidade
AN – Mas o senhor não vem encontrando problemas de acomodar os vários pedidos de cargos vindos de aliados?
Udo – Não, até porque temos 43% dos cargos livres. E dentro do necessário serão preenchidos. Nós achamos que por vezes temos o cargo e não temos a pessoa. Tanto que só agora decidimos nomear o diretor do Hospital São José. AN – E a relação com a Câmara?
Udo – Estou satisfeito. Até agora, todos os projetos que encaminhamos foram aprovados. Mas é claro que vêm vindo pedidos de informação aos milhares para cá. Tem pedido de informação que nos obriga a colocar seis pessoas por uma semana só naquilo. Tanto que enviamos o projeto de cobrança de dívida ativa para o Legislativo só por excesso de zelo, porque nem precisávamos enviá-lo. Se precisar, decreto por aqui mesmo. Assim como temos que ter outras formas de recuperar recursos, como atualizar a planta monetária do IPTU, por exemplo, que é algo que precisaremos fazer futuramente. O IPTU de Joinville é muito mais em conta do que em Itajaí, Florianópolis e Balneário Camboriú. Continua depois da publicidade AN – Como o senhor está se preparando para as eleições de 2014?
Udo – Nosso mandato é de quatro anos. Termina em 2016. Mas no ano que vem, todos os joinvilenses são eleitores importantes. Porque podemos aumentar a nossa representação na Assembleia Legislativa. Temos que votar nos candidatos daqui.
AN – E qual balanço que o senhor faz desse começo de governo?
Udo – Estamos conhecendo a estrutura, tentando recuperar ativos que não foram pagos, buscando formas de diminuir nossas dívidas. Estamos vendo como resolver nossos processos licitatórios, contratar melhor e aumentar a vinda de recursos do Estado e do Federal. É claro que temos muito o que fazer, como, por exemplo, a negociação com o servidor público. Estamos tentando valorizar o servidor público de Joinville.
AN – O que mais o senhor tem como meta até o final do ano?
Udo – Melhorar a saúde, que passa pela melhora do sistema de informação, com novos computadores, programas e sistemas que falem entre si, desde os Continua depois da publicidade
postos de saúde até os hospitais.