O que você conseguia comprar com R$ 10 em 1994? Comparações como essa são comuns no imaginário brasileiro, que lembra por vezes com nostalgia de valores mais em conta de produtos do dia a dia, como itens da cesta básica ou o preço da gasolina.

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De acordo com a calculadora do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), disponibilizada no site do IBGE, a inflação acumulada desde o mês de julho de 1994, quando o Plano Real foi implementado, até junho de 2024, é de 708,01%. O índice busca medir a inflação de um conjunto de produtos vendidos no varejo para apontar a variação do custo de vida médio de famílias brasileiras.

Isso significa que o que custa R$ 1,00 atualmente valeria, naquela época, cerca de R$ 0,12. Em outra comparação, se você quisesse comprar uma nota de R$ 1,00 daquela época, seria preciso desembolsar R$ 8,08 nos dias atuais. Olhando em comparação, o poder de compra do brasileiro aumentou nesses últimos 30 anos, ainda que os preços dos produtos também tenham escalado, por conta da inflação, que agora segue em parâmetros considerados dentro da normalidade.

Para ter um melhor panorama de como o poder de compra mudou nesses últimos 30 anos, é importante relembrar outros indicadores, como o salário da época. Em setembro de 1994, dois meses depois da oficialização da adoção do real como moeda, o salário mínimo foi definido como sendo R$ 70. Em 2024, o salário mínimo no Brasil é de R$ 1.412.

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De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), a cesta básica em Florianópolis em 1994 custava R$ 68,88. O valor é equivalente a 98,4% do salário mínimo da época. Dados da DIEESE ainda trazem que, naquele ano, seriam necessárias 233 horas e 53 minutos de trabalho, em média, para adquirir a cesta.

A pesquisa mais recente, feita em junho deste ano, mostra que a cesta básica está em R$ 801,03 na capital catarinense, o que representa 56,64% do valor atual do salário mínimo. Além disso, para comprar uma cesta básica, são necessárias 124 horas e 49 minutos de trabalho, em média, atualmente.

Confira os preços dos principais itens da cesta básica em 1994 em Florianópolis

  • Carne – R$ 3,71
  • Leite – R$ 0,52
  • Feijão – R$ 1,09
  • Arroz – R$ 0,67
  • Farinha – R$ 0,60
  • Batata – R$ 0,52
  • Tomate – R$ 0,50
  • Pão – R$ 1,60
  • Café – R$ 6,56
  • Banana – R$ 0,42
  • Açúcar – R$ 0,73
  • Óleo – R$ 0,89
  • Manteiga – R$ 6,80

Confira os preços dos principais itens da cesta básica em 2024 em Florianópolis

  • Carne – R$ 42,69
  • Leite – R$ 5,66
  • Feijão – R$ 9,89
  • Arroz – R$ 8,21
  • Farinha – R$ 4,72
  • Batata – R$ 10,23
  • Tomate – R$ 9,74
  • Pão – R$ 15,15
  • Café – R$ 35,60
  • Banana – R$ 8,40
  • Açúcar – R$ 5,71
  • Óleo – R$ 6,50
  • Manteiga – R$ 68,51

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Dessa forma, com R$ 10 em 1994 você conseguiria comprar dois quilos de carne, um quilo de feijão, um quilo de banana, um quilo de batata e um quilo de tomate. Atualmente, só um quilo de feijão consome quase esse mesmo valor. Porém, é importante destacar que R$ 10 na época eram equivalentes a 14,29% do salário mínimo, e nos dias de hoje R$ 10 equivalem a 0,7% do salário mínimo.

Reportagens da época mostram que a gasolina custava cerca de R$ 0,53, enquanto o álcool saía por R$ 0,42, a gasolina aditivada por 0,55 e o diesel por R$ 0,34. Um botijão de gás de cozinha custava R$ 4,02.

A pesquisa do Procon de Florianópolis deste mês de junho mostra que a gasolina está custando R$ 5,94, e o álcool R$ 4,35. A gasolina é vendida por R$ 6,09 e o diesel sai, em média, por R$ 6,21. Já o gás de cozinha tem preço médio em Santa Catarina, segundo a Petrobras, de R$ 113,20.

O preço do carro popular é outro que costuma vir à tona em comparações. Em 1994, um Gol 1.0, da Volkswagen, custava R$ 7.243,00. Em 2024, um Volkswagen Gol zero quilômetro custa R$ 75.267,00, um pouco a mais do que o carro zero quilômetro mais barato do país — o Fiat Mobi, que sai por R$ 72.990.

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O que dizem os especialistas

A maior mudança em relação ao poder de compra da população veio com o fim da hiperinflação, resultado da implementação do Plano Real em três etapas, desde 1993, até seu marco em 1º de julho de 1994. O doutor em Economia e professor na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), João Frois Caldeira, explica que antes da nova moeda entrar em vigor, as pessoas precisavam fazer compras para o mês inteiro assim que recebiam os salários, já que os preços subiam todo dia.

— Naquela época, menos pessoas tinham acesso ao sistema financeiro. Pessoas de baixa renda não tinham como se proteger da inflação. Então vamos supor: se você recebe o salário hoje, você tinha que correr para o supermercado e comprar tudo que precisava, porque se guardar o dinheiro, o preço do arroz vai subir, o preço da carne sobe todo dia, então você perde o poder de compra diariamente — relembra.

Isso dificultava as famílias de administrarem o orçamento, já que guardar dinheiro significava que aos poucos ele iria perder valor. Alguns dias de demora em fazer as compras para a casa poderia significar perda de poder de compra e aumento nos preços de 5% a 10% em uma única semana.

Com a migração para o Plano Real, o Brasil conseguiu atingir estabilidade econômica financeira, o que trouxe previsibilidade. Esse fator é importante tanto para as famílias, na hora de planejar, quanto para os empresários, explica o ex-Diretor de Relacionamento e Cidadania e ex-chefe do Departamento de Organização do Sistema Financeiro do Banco Central do Brasil (BCB), Luiz Edson Feltrim.

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— A estabilidade financeira dá previsibilidade para todos os agentes financeiros e para as pessoas. Então eu posso me planejar para fazer o meu investimento. E isso gera estabilidade de emprego, estabilidade financeira, e a poupança privada contribui para o desenvolvimento tecnológico social — afirma Luiz Edson.

O ex-colaborador do Banco Central, que atuou durante a época do Plano Real, reafirma a importância do país de ter um sistema financeiro sólido, já que possui papel primordial em fazer a máquina girar. Ele explica que a previsibilidade possibilita a poupança de longo prazo e o crédito a quem necessita. Já a falta de previsibilidade gera instabilidade no cenário econômico.

O doutor em Ciências Sociais e professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC, Jaime César Coelho, pontua que o poder de compra depende de diferentes fatores que são afetados pela moeda e preço do dinheiro, bem como por fatores como a produtividade e o avanço proporcional dos setores da economia, que guardam relação com a moeda, mas não se restringem a ela.

— O poder de compra do brasileiro, ou a renda per capita a preços constante (PPC), evoluiu ligeiramente de 1994 em diante, da ordem de U$ 10 mil para algo como U$ 12 mil, num quadro em que o país diminuiu a participação no PIB mundial. Temos uma economia profundamente desigual em termos de renda, com sérios problemas de competitividade, ou seja, a reforma monetária e a estabilidade da moeda não foram suficientes para gerar um ciclo virtuoso de crescimento com distribuição mais equitativa da renda — afirma.

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