Um dos temas que talvez seja o mais persistente na literatura universal: a morte, foi o alvo de debate na primeira mesa da Flip, na manhã desta quinta-feira. Escritas da Finitude teve como participantes André de Leones, Altair Martins e Carlos de Britto e Mello, sob mediação do crítico literário João Cezar de Castro Rocha. Este último, ao introduzir a sessão, fez uma pergunta crucial: por que todos nós necessitamos da ficção? As informações são da assessoria de imprensa do evento.
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Embora sem resposta conclusiva, a pergunta serviria de gatilho para as reflexões de seus convidados, já que todos eles, em seus textos, tratam a morte com tintas ficcionais.
– A morte está presente em quase tudo o que escrevi – admitiu Leones, que também é estudante de filosofia em São Paulo. E explicou que a origem dessa preferência temática poderia estar no alto índice de suicídios em sua cidade natal, a pequena Silvânia, no interior de Goiás.
Certa vez, ao comparecer ao velório de um amigo suicida, em que todos os presentes se perguntavam por que o rapaz tomara tal decisão, o escritor, ao contrário, indagou a si próprio: – E por que não? Só que eu, em vez de me matar, escrevo sobre quem se matou.
O mais desembaraçado dos três, o gaúcho Martins, citou seu conterrâneo Mário Quintana para referir-se às diversas perdas a que uma pessoa é submetida ao longo da vida e que, afinal de contas, constituem demonstrações preliminares da finitude humana. A ideia de que “somos mortes ambulantes”, nas palavras do poeta, serviu de fio condutor para a reflexão do jovem escritor. Para Martins, “a literatura é uma arte que nos faz entender as mortes essenciais”.
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Para Mello, que é mineiro, uma das lembranças mais antigas sobre a morte é um carro com alto-falantes que percorria as ruas de uma cidade interiorana, anunciando o falecimento de alguma pessoa da comunidade. Na vida real, opinou ele, a morte não representa apenas um trauma, mas sobretudo uma “força operatória”, como a denomina, ou uma abertura de novas possibilidades para os sobreviventes.